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Espiritualidade

Como um casal católico e um terço fizeram um médico voltar à Igreja

“Quando cheguei à quinta dezena de Ave-Marias, comecei a chorar. Forte, compulsivamente, como uma criança desamparada.”

Esta é a história da minha reconversão a Deus e volta à Igreja. Digo “reconversão” porque já acreditei em Deus fielmente durante a minha infância. Fui criado numa família católica, baptizado em bebé. Aos 11 e 12 anos fiz catequese e recebi o sacramento da Eucaristia.

Ao me tornar adolescente, aos poucos fui entrando na chamada “idade da razão”. Digo assim por ser um período em que moldamos a nossa personalidade, o que é comum a todos os adolescentes. É um tempo no qual buscamos a nossa identidade, nos identificamos com certos grupos sociais e clamamos por reconhecimento da nossa individualidade. Para muitos é a idade da rebeldia, de contrariar os pais, a escola e as regras definidas pela sociedade. Onde todos os outros são quadrados e tu és o maior da história. Não tive muito desta fase. Ou seja, não fui um adolescente particularmente rebelde.

Por outro lado, conforme me ia moldando e buscando razões para as coisas, fui me distanciando de Deus. Afinal, estamos imersos num mundo pautado por pautas equivocadas, nas quais a razão e ciência, teoricamente, entrariam em conflito com a religião. Na verdade, esta é uma das maiores mentiras que já me contaram, e ainda contam à maioria das pessoas.

No meu caso, inicialmente foi somente a distância da Igreja. Aos poucos fui me afastando, deixando de rezar, vendo cada vez mais aquilo como errado, ultrapassado. Já mais próximo da idade adulta, a doutrinação de amigos mais velhos, da televisão, internet, e professores esquerdizados, mostraram-me o óbvio naquele momento: somente sendo muito pouco inteligente para acreditar nas “ladainhas” da Igreja. Por certo deveria existir um Deus, omnipotente, mas não seria o mesmo Deus da Igreja: retrógrada, dogmática, rígida.

Logo que entrei na faculdade, fui conhecendo pessoas e fazendo alguns amigos. Muitos deles, pessoas inteligentíssimas, que me ensinaram coisas pelas quais sou grato até hoje. Fiz faculdade de medicina, em universidade federal, o que, na época, era garantia de que conviveria com algumas das mentes mais brilhantes (no sentido académico), tendo em vista a dificuldade do vestibular. As minhas noções morais foram se adaptando e moldando aos novos ensinamentos.

Graças a Deus, a maioria dos meus amigos eram pessoas rectas e com padrões morais correctos. Porém, foi durante os primeiros anos da faculdade que comecei a questionar a existência de Deus. Como poderia um Deus todo-amor e omnipotente ser conivente com tantas desgraças no mundo? Crianças de dois anos de idade com cancro no cérebro, malformações, pais de família a morrer enfermos com dois ou três filhos ainda a criar, guerras, assaltos, estupros, enfim…  Uma infinidade de tragédias que acontecem todos os dias. E a Igreja? Via muitos ditos “fiéis” saindo da missa ou culto (no caso dos protestantes) e no dia seguinte cometendo os mais variados pecados, variando desde uma mentira descarada até à traição da esposa. Portanto, seguiram-se vários anos de negação da fé.

Eu bastava-me. Eu era o meu senhor. Médico, formado, com óptimo salário, desfrutando das coisas boas da vida. Tinha começado a namorar uma mulher incrível: linda, inteligentíssima e com princípios sólidos. Por sorte, estamos juntos até hoje, sendo que é minha noiva. Ela é católica, e sempre foi praticante. Em alguns momentos mais, noutros menos.

Lembro com pesar do quanto tentei dissuadi-la da sua fé. Durante uma conversa, cheguei a dizer claramente que não queria baptizar os meus filhos quando os tivesse. Que preferiria que eles atingissem a idade da razão para decidirem por eles mesmos. Afinal, eu era o senhor-razão, a pessoa que se bastava. Ela discordou frontalmente da minha argumentação, dizendo que fazia questão de baptizar os seus futuros filhos na Igreja Católica. Discordamos por mais algum tempo e, quando nos cansámos do conflito, sem chegar a um acordo, encerrámos o assunto. Não conversámos mais sobre isto.

Nalgumas ocasiões, fomos a casamentos de amigos. Eu tinha uma aversão cada vez maior a casamentos. Todo aquele ritual “chato” e “retrógrado” para uma festa de ostentação depois. Via, algumas vezes, casais que se separavam em menos de um ano após o casamento. Assistia a este espectáculo num misto de afirmação do que sentia e satisfação irónica — afinal, isto corroborava a minha tese de que Deus não existia e que o casamento é uma “farsa”. Não me entendam mal. Eu acreditava na união de um casal. Só não acreditava nos valores de Deus e da Igreja: para a vida toda, indissolubilidade, etc… Gostava muito da máxima: que seja eterno enquanto dure.

Muitas vezes sentia um vazio, uma solidão, mesmo estando rodeado por muitas coisas e pessoas. Sempre encontrava a resposta nalguma coisa mundana, como uma nova viagem, uma roupa, um filme. Mas a resposta nunca saciava de verdade. Fingia que estava tudo bem, que logo iria passar. E realmente, às vezes passa. Pois mesmo numa existência vazia e sem muito sentido, temos lampejos de felicidade. No geral, a vida era boa.

Sempre tive um grupo bem variado de amigos. Pelo facto de ter saído de casa para morar sozinho noutra cidade ainda com 18 anos de idade, aprendi a conviver com vários grupos e a respeitar as diferenças. Quando conversava com algum amigo religioso, sempre evitava tocar em assuntos sobre Deus. Quando falavam algo a respeito disso, eu fechava-me no meu mundinho, sem dar abertura a qualquer palavra sobre isso. A minha posição era certa e irredutível.

Após ter mudado de cidade mais uma vez, desta vez para morar com a minha namorada (na época), conheci outras tantas pessoas. Em especial, um casal de amigos que fizemos. Os dois eram católicos praticantes e pessoas maravilhosas. Estudavam (e ainda estudam) bastante sobre assuntos religiosos, sempre buscando aprofundar-se na fé. Ao mesmo tempo, são pessoas inteligentíssimas, cultas e sábias. A amizade deles fazia-nos muito bem, e os nossos laços foram se estreitando. Aos poucos, a minha armadura foi caindo. Bem lentamente, fui começando a escutar algumas colocações, opiniões e conclusões a que eles chegavam, mesmo discordando. São um casal exemplar, que demonstram amor a todo o momento, sem falsidade. A forma como se olham causa emoção até no mais duro dos corações. Enfim, são um casal-modelo.

Certo dia, num dos nossos jantares, fui surpreendido pela visão de casamento do meu amigo: “Vemos o casamento da forma como a Igreja vê: no dia em que nos casamos, tornamo-nos uma só carne, uma só pessoa”. Aquilo tocou-me profundamente. Que coisa mais linda! Ao mesmo tempo, via com certa estranheza, pois parecia coisa de maluco! Uma só carne? Impossível. Como esse mesmo amigo meu fala, acertadamente: “Quando estamos de fora, é muito difícil enxergar como quem está dentro. É, na maioria das vezes, incompreensível”.

Há uns 6 meses atrás, marcámos a data do nosso casamento. Já tinha concordado em casar na Igreja, para satisfazer a minha noiva. Poderia casar na Igreja, tendo em vista que era baptizado, recebi o sacramento da Eucaristia e a nossa paróquia não exige o sacramento da Confirmação (Crisma) para casar. Fomos à nossa paróquia certo dia, para uma entrevista com o padre. Neste dia, a minha vida começou a mudar.

O padre começou um questionário, para ver se cumpríamos os requisitos para realizar o Matrimónio na Igreja. No momento da questão se eu tinha recebido o sacramento da Confirmação, respondi a verdade, como em todas as outras perguntas: “Não”. O Padre respondeu: “Sem problema, meu filho. Hoje a Igreja já não exige este sacramento como condição necessária ao Matrimónio”. Mas logo lançou uma pergunta no ar: “Mas gostaria de fazer catequese e receber este sacramento, mesmo que fosse depois do seu casamento?” Pensei um pouco e respondi: “Padre, não lhe vou mentir. Não responderei que sim só da boca pra fora. Mas prometo-lhe algo: que pensarei no assunto”. A entrevista continuou, e na sequência, fomos jantar com aquele casal de amigos de que falei antes.

A sementinha foi plantada. Aquilo não saía da minha cabeça. Parecia a coisa certa a ser feita. Durante o jantar, os meus amigos falaram sobre o site do Padre Paulo Ricardo, e sobre os seus cursos. Quando cheguei a casa, prontamente acessei o site e vi os vários cursos lá presentes. Um deles me chamou a atenção: Catecismo da Igreja Católica. Inscrevi-me, ganhei da minha noiva o livro do Catecismo e iniciei o curso.

Aos poucos, as aulas foram chamando a minha atenção e dediquei cada vez mais tempo a elas. Estava admirado com tudo aquilo! Como este padre falava bem, com uma oratória invejável e inteligência admirável. O que começou como uma aula ou duas por dia tomou conta de todo o meu tempo livre. Estava cativado por aqueles ensinamentos, apesar de ainda não estar totalmente aberto a aceitar Deus na minha vida.

Num belo dia, no quarto de repouso médico do hospital no qual trabalho, que nunca teve nenhum tipo de adereço religioso, apareceu um terço. Do nada. Até hoje não sei quem o colocou lá. Como trabalho em emergência, e naquele momento estava sem pacientes para atender, decidi que rezaria o Terço. Mas um problema apareceu: além de não saber que oração rezaria e em que tempo, muitas orações não conhecia de cor. Abri o telemóvel e acessei um site que explicava o Terço. E comecei a rezar, de mente aberta.

Na quarta dezena de Ave-Marias, um fenómeno interessante se passou comigo: senti um calor muito forte nas mãos, e um formigamento que percorria os meus braços. Continuei a rezar, e aquela sensação tornou-se mais e mais forte. Quando cheguei à quinta dezena de Ave-Marias, comecei a chorar. Forte, compulsivamente, como uma criança desamparada. Na verdade, era o que eu era, naquele momento: uma pessoa desamparada, certo da presença de Deus ali comigo, naquele momento. Envergonhado por todo o tempo que eu tinha passado longe dEle e por todos os pecados cometidos sem reparação.

Tomei forças e terminei o terço. Depois disso, senti uma paz inexplicável, certo de que tinha encontrado a resposta para a minha vida dali em diante: Deus. Já não via mais o casamento como via anteriormente e, no curso de noivos que fizemos, passei a enxergá-lo como a Igreja vê e a desejar avidamente esse dia. A minha noiva estava muito satisfeita. Finalmente eu tinha me convertido. Que mulher paciente!

Continuei o estudo do Catecismo. As aulas do Padre Paulo já tinham terminado, tendo em vista que o seu curso ainda não está completo: ia até aos Sacramentos, faltando o Matrimónio e a terceira e quarta partes do livro do Catecismo. Teria que estudar sozinho o restante do livro. Enquanto fazia isto, fui tomado por uma vontade muito grande de receber o sacramento da Confirmação. Não me conformava com o facto de que receberia o sacramento do Matrimónio sem antes receber o belo e necessário sacramento da Confirmação do Baptismo.

Certo dia, fui falar com o padre da minha paróquia. Expliquei-lhe toda a minha história e disse que me sentia pronto e desejoso para o sacramento da Confirmação. O padre comoveu-se, deu-me os parabéns, deu as boas vindas e falou que consentiria em que eu recebesse este sacramento. Que dia feliz! Saí de lá muito emocionado. Marcámos a data para o próximo dia possível: um domingo de Pentecostes, 12 dias antes do meu casamento! Este dia foi ontem. A cerimónia foi linda e emocionante. Neste dia percebi a missão que me aguarda daqui prá frente: a de estar ainda mais dentro da Igreja e mais próximo de Deus, assim como o meu dever de mostrar este caminho a outras pessoas: evangelizar.

Por isso escrevi este texto. Já contei esta história a alguns amigos, e todos se emocionaram muito. Religiosos reforçaram a sua fé, e os que não crêem talvez se abriram um pouco para a verdade. A nossa missão, como católicos, como cristãos, é difundir a palavra. Da forma falada e com exemplos — o mais importante. De nada adianta sermos cristãos e levarmos uma vida transviada, cheia de pecados graves.

Tenho plena consciência de que não estamos livres do pecado. A nossa condição humana, após o pecado original, torna-nos pecadores por natureza. E é isto uma das bases do cristianismo: ter consciência da nossa natureza, olhar para o Céu e pedir a Deus Pai, todo-poderoso, que nos desvie do caminho do pecado. E quando inevitavelmente pecarmos, assumir o nosso erro, repudiar o pecado do fundo do nosso coração, pedir um perdão sincero, suplicando a Deus — que na Igreja toma a forma do sacramento da Penitência — resolutos a não voltar a pecar. Fugir disto é o que nos torna como os animais: seres inconscientes, que só buscam o prazer, sem culpa.

Portanto, caros irmãos católicos, deixo um pedido aos que seguem uma vida recta e voltada para a verdade: não se furtem à sua missão. Não fujam da sua cruz. A nossa Igreja já está enfraquecida há algum tempo, tomada de fiéis que não vivem na plenitude a sua religiosidade. Vamos dar um basta nisto. Vamos mostrar, por actos e virtudes, que temos algo que vale a pena ser buscado e elevado à sua real posição de glória: Deus. Mostremos, a todos que não crêem, os reais valores da Igreja Católica, e consigamos restaurar a imagem deturpada que boa parte da sociedade, injustamente, tem da nossa Igreja.

Isto não se consegue em alguns meses, nem mesmo em alguns anos. É uma estrada longa e dolorosa. Mas cabe a nós tomar essa cruz, erguê-la e glorificá-la, para que sejamos ministros da palavra de Deus e da vida de Jesus Cristo, nosso Senhor!

Para encerrar, gostaria de agradecer profundamente ao Padre Paulo Ricardo e a toda a sua equipa, por terem tornado esta minha aprendizagem o que ela foi: uma estrada fascinante, admirável e cativante!

Que Deus abençoe todos vós!

Tiago.

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