Espiritualidade
Como entender a segunda vinda de Jesus
- 04-06-2020
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Podemos entender a segunda vinda de Cristo como parte
essencial da nossa história de salvação
Ao falar da vinda de Cristo, São Bernardo de Claraval
lembra-nos a vinda intermediária que se dá entre a primeira, a da Encarnação, e
a segunda, a conhecida como Parusia. A vinda intermediária é a que se dá por
meio dos sacramentos, por meio da presença do Senhor em nós. De facto, dizem as
Escrituras: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada” (cf. Jo 14,23).
Segundo São Bernardo, na vinda intermediária cada um percebe Cristo
em si mesmo e recebe a salvação. Diz ainda que, na primeira vinda, o Senhor
veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando
o poder da sua graça; na última, virá com todo o esplendor da Sua glória. Cabe
a nós a reflexão sobre a última, conhecida como a segunda vinda de Cristo, a da
Parusia, do esplendor da Sua glória.
O sentido de glória, aqui, não quer em nada diminuir o
sentido da primeira vinda na Encarnação em humildade e na força do Seu amor,
mas ressaltar a seguinte verdade: o Cristo que virá na glória é o mesmo no
brilho da Sua humildade, bondade e justiça. O Cristo que virá na glória
aparecerá com a mesma vontade de salvar a todos, o que não significa a
aceitação de todos. Assim, a Parusia, de certa forma, é a consumação da
Encarnação.
O que encontramos nas Sagradas Escrituras sobre a segunda
vinda de Cristo?
Pensemos na criação. Entendamos que, ao falar de criação, não
quer significar que o mundo teve origem no tempo, mas que o tempo passou a ter
origem com o mundo. A criação é um evento para além do espaço e do tempo, e não
podemos pensá-la apenas tendo em vista estas duas categorias que tornam possível
a história humana. O mundo foi criado por Deus com o tempo e não no tempo. O
mundo, o espaço e o tempo originam-se da vontade eterna e criadora de Deus.
Assim como na criação (cf. Gn 1,1s), a consumação (cf. Mc 13,4.24s.29ss) do
mundo se dará também com o tempo e o espaço, e não no tempo e no espaço,
portanto, não os devemos pensar nos limites da nossa forma de conhecer.
A consumação deste mundo se dará na experiência da
Ressurreição de Jesus e de cada um de nós, não mais de maneira presa às
categorias deste mundo, será uma realidade que se dará no mundo, mas que estará
para além dele. Ou seja, será uma realidade histórica, mas que a transcenderá.
O que diz o Catecismo da Igreja Católica?
A volta gloriosa de Jesus é um evento ligado ao Juízo
Final/Universal (cf. n. 1040-1042). Sobre quando isso se dará, nem o Catecismo
afirma, apenas diz que “só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo”. Por meio
do Filho, Ele pronunciará a Sua palavra definitiva sobre toda a história.
O Catecismo ainda afirma que “a partir da Ascensão, a vinda
de Cristo na glória é iminente, embora não nos ‘caiba conhecer os tempos e os
momentos que o Pai fixou com a sua própria autoridade’ (At 1,7)… antes da vinda
de Cristo, a Igreja deverá passar por uma provação final que abalará a fé de
muitos. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a
descoberto o ‘mistério da iniquidade’, sob a forma de uma impostura religiosa,
que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da
apostasia da verdade” (n. 674-675).
Nós, como cristãos, vivamos este tempo em esperança e
vigilância, na certeza de que a Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta
derradeira Páscoa, em que seguirá o seu Senhor na Sua Morte e Ressurreição. O
triunfo de Deus sobre a revolta do mal, assumirá a forma do Juízo Final depois
do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa, como afirma o Catecismo (n.
677).
Assim, podemos entender a segunda vinda de Cristo como parte
essencial da nossa história de salvação. Enquanto Ele não vem, temos de
escolhê-Lo todos os dias, sem negar a Sua graça em nós, para não nos tornarmos
“juízes” de nós mesmos, negando a graça de Cristo em nós, o que seria algo
terrível e triste. O que queremos são as alegrias da vida eterna em Deus.
Vem Senhor Jesus!