Espiritualidade
A Alma e o Espírito não são exactamente a mesma coisa?
- 08-10-2018
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Alma e Espírito não são exactamente a mesma coisa?
Qual a diferença entre alma e espírito?
Espírito é um ser dotado de inteligência e vontade, mas sem corpo, sem dimensões materiais, sem forma, sem tamanho. Há 3 tipos de espírito:
1) Espírito não criado: Deus.
2) Espírito criado para existir sem corpo: o anjo (bom ou mal)
3) Espírito criado para se aperfeiçoar no corpo: a alma humana.
Portanto, o ser humano é composto de corpo material e alma espiritual. O corpo é mortal, pois consta de elementos materiais que, com o tempo, se vão desgastando. A alma humana, sendo espiritual, é imortal por si mesma; sendo simples, ela não se decompõe. Em cada ser humano há uma só alma espiritual.
Corpo e alma, embora sejam distintos um do outro, são complementares entre si. Nenhuma actividade do homem é meramente psíquica ou meramente somática. Embora a alma seja espiritual e imortal por si mesma, ela precisa do corpo para desenvolver as suas potencialidades.
A doutrina católica não é dualista. O dualismo implica antagonismo entre partes opostas. Ocorre no hinduísmo, por exemplo, que tem a matéria como algo de intrinsecamente mau e o espírito como algo de bom. A doutrina cristã rejeita o dualismo, pois afirma que a matéria é, como o espírito, criatura de Deus e, portanto, ontologicamente boa. Mas nem por isso a doutrina cristã cai no monismo, que identifica entre si matéria e espírito. A doutrina cristã professa, sim, a dualidade. A dualidade faz distinção de espírito e matéria, mas não os julga antagónicos entre si, mas sim, complementares. Analogamente, homem e mulher são criaturas distintas uma da outra, mas não antagónicas, mas feitas para se complementar mutuamente.
Em 1Ts 5,23, São Paulo parece distinguir 3 componentes no ser humano: espírito (PNEUMA, em grego), alma (PSYCHÉ) e corpo. Na verdade, porém, o apóstolo não teve intenção de ensinar antropologia nem definir um dogma, mas aludiu ao ser humano, usando uma das maneiras de falar da sua época: a tricotomia platónica. Esta é a única vez que Paulo a menciona. Em geral, ele é dicotómico, falando de corpo (ou carne) e espírito. Veja: Gl 5,5,17; 1Cor 2,11; etc.
1Ts 5,23 pode ser entendido de outro modo: PSYCHÉ seria a alma e PNEUMA seria o dom da graça divina que propicia a comunhão com Deus. Tal distinção é nítida em 1Cor 2,14-15 e 1Cor 15,14.16:
"O HOMEM PSÍQUICO (ou NATURAL) não aceita o que vem do Espírito de Deus. É loucura para ele; não pode compreender, pois isso deve ser julgado espiritualmente. O HOMEM ESPIRITUAL, ao contrário, julga a respeito de tudo e por ninguém é julgado."
"Se há um CORPO PSÍQUICO (corpo natural), há também um CORPO ESPIRITUAL (...) Primeiro não foi feito o que é ESPIRITUAL, mas o que é PSÍQUICO; o que é ESPIRITUAL vem depois."
São Paulo reconhece o PNEUMA (Espírito) como Pessoa Divina que habita no cristão:
"Se o PNEUMA (Espírito) Daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos HABITA EM VÓS, Aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos DARÁ TAMBÉM VIDA AOS VOSSOS CORPOS MORTAIS mediante o seu PNEUMA (Espírito), QUE HABITA EM VÓS." (Rm 8,11)
Há tb quem cite Lc 1,46-47 ("A minha ALMA engrandece o Senhor e o meu ESPÍRITO exulta em Deus meu Salvador") para sustentar a tricotomia. Ora, o texto é poético e a poesia hebraica segue o ritmo do paralelismo sinónimo. Nesta passagem, alma e espírito são sinónimos entre si. O louvor a Deus é proferido 2 vezes pelo "eu" de Maria, ora designado como alma, ora como espírito.
Dom Estêvão Bettencourt