CASTIDADE?
Será que ainda tem sentido falar em castidade hoje? Não é coisa do passado, num tempo em que o sexo parece que se tornou tão necessário e, ao mesmo tempo, tão banal?
O que a castidade não é... Para começar, a castidade pode até incluir uma renúncia ao casamento, mas nem sempre. E, com toda a certeza, não é uma renúncia à sexualidade. Deus fez-nos homens e mulheres e nós somo-lo sempre e em tudo, sem a menor possibilidade de renúncia. Aliás, sem a menor necessidade de renunciarmos a nada disto.
Castidade não é ter uma visão negativa do sexo, muito pelo contrário. Como, por uma questão de preguiça mental, muitas vezes a gente prefere prender-se a fórmulas, já houve tempo em que muitas pessoas pensaram que viver a castidade consistia em se trancar num convento atrás das grades, usando roupas medievais que escondiam até o pescoço.
A virgindade corporal já foi divinizada como um tabu, isto é, como uma lei que toda a gente tem que cumprir mesmo sem saber porque ela existe. Porque se atribuía tudo isto à vontade de Deus. Já houve tempo, fora do mundo cristão, afirmou-se que o corpo só pode ter sido criado por um deus do mal. No mundo cristão, muitas vezes preferiram falar na acção do demónio.
O que a castidade é... A castidade é uma visão muito mais rica e aberta da sexualidade: é uma visão positiva do amor, que valoriza o corpo e o sexo. Aliás, mais do que isto, é uma visão criativa e libertadora da afectividade. E queremos mostrar que isto não é nenhuma novidade, pelo menos ara os que sempre souberam ler com a mente aberta a Palavra de Deus que está na Bíblia e que foi vivida, continua a ser vivida, por todas as pessoas que se abriram ao Deus do Amor. Viver a castidade é viver, pessoalmente como Igreja, a aventura do amor de Deus.
Uma nova proposta. Agora há uma nova maneira de falar sobre o amor, sobre a liberdade, sobre o uso do corpo, sobre as nossas amizades e relacionamentos. S. Francisco e S. Clara de Assis traduziram para a linguagem do século XIII a plenitude de vida que Jesus Cristo veio trazer ao mundo 2.000 anos atrás.
A proposta cristã foi renovada de uma maneira muito bonita pelo Concílio Vaticano II que, nos anos 60 do século XX começou por lembrar que nós todos somos um Povo amado por Deus e que caminha para Deus. E deixou claro que caminhar para Deus é caminhar para o Amor, porque, como lembrou S. João na sua primeira Carta, "Deus é Amor". Na visão do Vaticano II, um Povo q caminha para o Amor, está a aprender a amar, porque, na vida eterna, é isto que nós vamos fazer: Amar a Deus, amar a todas as pessoas, ser amados por Deus, ser amados por todas as pessoas. Foi dentro desta visão que o Concílio também renovou a sua maneira de entender as pessoas que vivem em castidade por voto.
Fazer um voto é comprometer-se a dar um presente a Deus, e dar um presente com imenso amor. E este presente não é a renúncia ao amor mas sim o testemunho do amor eterno.
Comprometer-se com a castidade, na proposta da Igreja do século XXI é ser, no meio do seu Povo, uma pessoa, ou um grupo de pessoas que provam, pelo seu exemplo e pela sua alegria, que o amor da eternidade existe mesmo. E já existe, para quem vive a Castidade.
Livres para amar - Por isso, castidade é liberdade para amar. Uma liberdade sem limites para um Amor sem limites. Todos sonhamos com a liberdade para amar, mas muito poucos conseguem vivê-la de facto.
Francisco e Clara de Assis quiseram viver com simplicidade o Evangelho. Aprenderam, e muita gente já aprendeu com eles, como é que nós podemos acompanhar Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, cantando o hino da imortalidade.
Educar-se para a castidade é possível...
A. “Deus criou o homem à sua imagem; à sua imagem o criou; homem e mulher os criou”. (Gn 1,27)
B. “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes os vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual”. (Rm12,1)
C. “O corpo não é para a devassidão, ele é para o Senhor e o Senhor é para o corpo”. (I Cor 6,13)
HOMEM E MULHER OS CRIOU:
Na Bíblia, o corpo do homem e o da mulher são criados à imagem e semelhança de Deus, também enquanto macho e fêmea. Isto é fundamental para entender o que é o corpo e como se torna ele mesmo.
“Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18.21-23). Quando o homem acorda, tem um grito de alegria e maravilha pela alteridade da mulher. O homem exulta na superação da solidão, na descoberta do outro.
O meu corpo tem uma palavra precisa inscrita em si: esta palavra é o outro. O corpo torna-se ele mesmo diante do outro, pondo-se em relação. Se eu quiser possuir o outro, não será mais “outro”, e eu permanecerei só, sem nenhum “outro”.
IMPLICAÇÕES DESTA VERDADE BÍBLICA:
“O outro diz o Outro”: A palavra inscrita no corpo fala de Deus, do santo, o “Outro”. Santo, significa “diverso”: Lv 11,44 e I Cor 6, 13.16. O meu corpo é chamado a ser templo de Deus, de um modo diverso, próprio de Deus.
“O selo de Deus”: O Homem e a Mulher são chamados a ser imagem e semelhança de Deus, a exprimir na alteridade sexual o vulto de Deus que é amor, colocando-se em relação de simpatia, comunhão e fecundidade. O corpo humano tem o selo de Deus, pelo que será chamado a viver um amor que não se fecha em si mesmo. É o amor divino que permite ao nosso corpo existir. O sexo contém uma palavra sublime de amor, que realiza a pessoa à imagem de Deus, cuja santidade é o amor. Uma sexualidade que não redescobre a palavra do corpo reduz o corpo à insensatez, desonrando-o e desprezando-o, esvaziando-o do seu significado.
“Sexualidade e liberdade”: A sexualidade é uma energia à disposição de cada um, mas depende de mim o seu uso. O corpo humano é uma conexão entre a liberdade e a necessidade, vai além do instinto. A liberdade do cristão é viver o corpo com a capacidade de servir-se dele para amar. Não é fazer o que agrada ou somente o que eu devo, mas fazer o que agrada a Deus, pois me alegra agradar a quem me ama e eu amo. A beleza e a harmonia da sexualidade vêm a ser aprendidos, para serem dirigidas com liberdade, segundo a inspiração do Senhor.
“O Corpo como limite”: A sexualidade é o limite que remete à outra pessoa, diversa de mim. É o lugar mais evidente para ser contra ou a favor do outro. O exercício da sexualidade diz respeito à outra pessoa. Cada um, masculino ou feminino, conhece a si mesmo através de uma reflexão sobre si mesmo. Mas há aspectos que só são conhecidos do homem pela mulher e vice-versa.
“Complementaridade, não diferença”: Diferença significa um relacionamento desigual, onde um é maior ou menor do que o outro. Também a ideia de diversidade é insuficiente, pois sublinha características estranhas entre as pessoas. É melhor falar de integração ou complementaridade, que faz alegrar-se com o bem que o outro tem e se transforma justamente em princípio de comunhão no dom, no acolhimento e no serviço recíproco, impregnando de humildade, respeito, fidelidade e reverência o amor.
“O homem transforma-se naquilo que ama”: Deus torna-se a vida do ser humano (Dt 6,4). O relacionamento entre homem e mulher é figura do relacionamento com Deus. O ser humano é feito para amar a Deus de modo absoluto, como sua única referência em sentido pleno.
O amor do homem e da mulher é um eco do amor de Deus, que o levou a unir-se ao ser humano, para ser com ele, em Jesus, uma só carne. Pode-se dizer também, reciprocamente: “Quem se une ao Senhor, forma com ele um só espírito” (I Cor 6,17).
“Sexualidade e responsabilidade”: Quando a Igreja fala de sexualidade, fala sobre a sabedoria comum dos povos à luz do Evangelho, que compreende que sem restrições não haverá um sentido verdadeiro de alegria. A intenção da Igreja é educativa!
A. A regra clássica: A satisfação consequente da união amorosa das suas pessoas tem verdadeiro significado humano quando há fidelidade recíproca e abertura à fecundidade; tudo o que não entra nesta regra carece de sentido pleno;
B. O sentido do pecado vem quando há um gesto livre que perturba de modo grave o equilíbrio interior e relacional da sexualidade bem ordenada e o relacionamento de submissão ao desígnio de Deus para a felicidade humana.
C. Muito do que se desvia da regra fundamental é devido a uma sexualidade preguiçosa e desordenada. Ocorre um caminho de clareza e vitória sobre si mesmo. O conselho de uma pessoa madura e o sacramento da reconciliação serão sempre uma grande ajuda.
“O consumismo do sexo”: A sexualidade não pode ser degradada a coisa ou ídolo, ou imagem. Como a nossa cultura é de imagens e não do espírito, ela não consegue perceber a dimensão mais profunda e mais verdadeira do corpo.
A CASTIDADE: João Paulo II: “A castidade é a atitude transparente no relacionamento com a pessoa de outro sexo”. A castidade é ordem, equilíbrio, domínio, harmonia.
A castidade é bonita porque reconhece o senhorio de Jesus Cristo sobre o corpo (I Cor 6,13), faz viver no corpo a liberdade do Espírito com os frutos elencados por S. Paulo na Carta aos Gálatas (5,22): amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si.
A Castidade tem significado e concretização diversa de acordo com os estados de vida.
Na adolescência e na juventude são postas as bases para o desenvolvimento da pessoa e acontece a formação da coerência e domínio de si que se reflectirá de modo benéfico em todas as fases da existência.
Educar-se para a castidade: não basta a razão! É necessária intuição espiritual que ajude a acolher as exigências decorrentes do facto de que o nosso corpo é do Senhor. Isto exige humildade, perseverança, oração.
Educação para a castidade:
- Castidade como superação de mentalidade de posse e de consumo, onde o prazer é mais um produto.
- Aprender a amar não é iniciar-se nas técnicas do acto sexual, mas a sair de si. Sem esta formação é quase impossível nascer uma vocação evangélica. Um jovem casto é capaz de dizer sim ao Senhor! Educar-se para a castidade é possível para quem busca o desígnio de Deus, quem se apaixonou pela sua vontade!