O sacerdócio dos fiéis
Não só os padres são sacerdotes; pois todos os baptizados também o são, ainda que de outra forma. Todos os baptizados, por participarem do único sacerdócio de Cristo, constituem o povo sacerdotal. Os baptizados são sacerdotes no seu ser, enquanto são configurados a Cristo, uma vez que são enxertados no seu Corpo, a Igreja, como membros vivos de Cristo. Os baptizados são sacerdotes no seu agir, porque no exercício dos três múnus agem em nome de Cristo, quando santificam as suas vidas e o mundo com os sacramentos da Vida; quando ensinam e praticam a Palavra da verdade; quando guiam e animam a comunidade no Caminho da caridade. Por isso, quando aos padres chamamos sacerdotes, não podemos esquecer que o seu sacerdócio é um serviço ao sacerdócio comum dos fiéis. Sobre a relação entre o sacerdócio comum dos baptizados e o sacerdócio ministerial dos padres, diz a Lumen Gentium: “O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico ordenam-se um ao outro, embora se diferenciem na essência e não apenas em grau. Pois ambos participam, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. O sacerdote ministerial, pelo poder sagrado de que goza, forma e rege o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico na pessoa de Cristo e o oferece a Deus em nome de todo o povo. Os fiéis, no entanto, em virtude do seu sacerdócio régio, concorrem na oblação da Eucaristia e o exercem na recepção dos sacramentos, na oração e acção de graças, pelo testemunho de uma vida santa, pela abnegação e pela caridade activa” (LG 10). Os padres, portanto, são sacerdotes, enquanto servidores do sacerdócio dos fiéis.
Os três múnus do presbítero
Os padres não são só sacerdotes; eles também são profetas e pastores. Ser sacerdote é uma das missões do padre, aquela que o caracteriza mais e pela qual ele é mais chamado em causa: homem do culto, administrador dos sacramentos, presidente da missa e oficiante da oração cristã. Mas ele não é um rezador de missas. O decreto Presbyterorum Ordinis, do Concílio Vaticano II, diz que os padres são ministros da Palavra, da liturgia e da comunidade (n. 13). Além de ser sacerdote, ministro do culto e da liturgia, deve exercer o ministério de profeta: pregar a Palavra, explicar o Credo, fortalecer os fiéis na prática dos mandamentos, formar lideranças, chamar a atenção da sociedade sobre os valores do Evangelho, tomar decisões favoráveis à vida do povo. Deve exercer também o ministério de pastor: guiar a comunidade, coordenar a obra pastoral, animar os fiéis no exercício da caridade cristã, servir os pobres. Por isso, o Vaticano II prefere chamá-lo pelo nome bíblico de presbítero, que significa: o mais velho e, por isso, o mais importante, aquele que está em posição de honra ou destaque.
A grandeza do sacerdócio baptismal
Os padres são sacerdotes como e com todos os fiéis; antes e mais que serem sacerdotes pelo sacramento da ordem, eles são sacerdotes pelo sacramento do baptismo. Lembramos Santo Agostinho, citado na Lumen Gentium (n. 32), ao falar da dignidade dos leigos: “Atemoriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo; convosco sou cristão. Aquilo é um dever; isto é uma graça. O primeiro é um perigo; o segundo, salvação”. Ser padre sem o povo ou acima do povo é um perigo e risco de condenação! Ser padre com o povo e a serviço do povo, no seguimento de Cristo e a exemplo de Cristo, é salvação: uma graça inefável!