Francisco nasceu em Assis, no centro da Itália, em 1182. Jovem orgulhoso, vaidoso e rico, que se tornou o mais italiano dos santos e o mais santo dos italianos. Com 24 anos, renunciou a toda a riqueza para desposar a "senhora pobreza". Aconteceu que Francisco foi para a guerra como cavaleiro, mas doente ouviu e obedeceu a voz do Patrão que pedia o seu retorno. No início da conversão viveu como eremita e na solidão, quando recebeu a ordem na igreja de São Damião: "vai restaurar a minha igreja, que está em ruínas".
Partindo em missão de paz e bem, seguiu com perfeita alegria Cristo pobre, casto e obediente. Na última etapa da sua vida, recebeu no monte Alverne os estigmas de Cristo, em 1224. Já enfraquecido por tanta penitência e cego por chorar pelo amor que não é amado. São Francisco de Assis, na igreja de Santa Maria Maior, encontra-se rodeado pelos seus filhos espirituais e assim, recitar ao mundo o cântico das criaturas. "Altíssimo, omnipotente e bom senhor, a ti, Altíssimo, são devidos, só a ti, Altíssimo, são devidos, e homem algum é digno de pronunciar o teu nome".
Morreu deitado nas humildes cinzas em 3 de Outubro de 1226.
S. Francisco e a Vida
1. Na vida de S. Francisco de Assis, entre outros, há dois episódios particularmente marcantes. Um refere-se ao encontro com o leproso e o outro ao mandato de Cristo na Igreja de S. Damião.
2. Sabe-se como naquele tempo existia o pavor dos leprosos. Quem fosse acometido por esta enfermidade, considerada incurável e altamente contagiosa, era expulso de casa e da cidade. Rejeitado pela família, pelos amigos, pelos concidadãos, o leproso era detestado e, por isso, votado à marginalização e à mais penosa das solidões. Se andava pelos campos tinha que trazer um badalo ao pescoço para avisar os demais da sua presença, de modo a que alertados o pudessem evitar. O corpo desfigurado pela carne ferida e putrefacta, expelindo fortes fedores nauseabundos, suscitava repugnância geral. O próprio S. Francisco, no início, tinha tal asco e horror aos leprosos que quando passava a dois quilómetros de uma leprosaria, num susto, tapava o nariz receoso de que lhe chegasse o cheiro fétido. Ora certo dia indo ele a cavalo pela planície depara-se com um. Apavorado, esporeia a montada pondo-se em fuga veloz. No entretanto, recorda-se do que o Senhor lhe vinha inspirando nos momentos de oração: “Francisco, tudo aquilo que te era amargo se deve tornar doce e tudo aquilo que era doce amargará”. Num repente, puxa as rédeas do cavalo, volta para trás, apeia-se, abraça o leproso, beija-o e deposita-lhe uma esmola generosa no que lhe restava da mão. A partir desse dia S. Francisco começou a servir na leprosaria. O que significa que – e isto é essencial ao propósito da nossa meditação –, a partir desse momento, S. Francisco reconhece aquilo que até então não admitia, isto é, reconhece os leprosos como seres humanos, como pessoas. Seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus e portanto dotados de uma dignidade inviolável e sagrada.
Mais tarde, no seu testamento espiritual, S. Francisco escreverá o seguinte: “Quando andava em pecados era-me extremamente amargo dar com os olhos em leprosos, mas um dia o Senhor Deus me conduziu ao meio deles, e eu com eles usei de misericórdia, e aquilo que me era amargo se me transformou em doçura da alma e do corpo”. “Aquilo que me era amargo”, significa, aquilo que o deprimia, que o fazia infeliz; e “se transformou em doçura”, quer dizer que na relação e amizade com os leprosos passou a encontrar alegria, felicidade. Daí em diante as suas repulsas são outras. Aos leprosos abraça-os, beija-os, lava-lhes o corpo, cura-lhes as feridas, veste-os, alimenta-os – vê neles Cristo crucificado. O sofrimento pode ser consequência, não do próprio pecado (basta lembrar Job), mas do pecado alheio, como no sofrimento de Cristo, e, também, salvaguardadas as devidas diferenças, o de outros inocentes que completam “na [sua] carne o que falta aos padecimentos de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja” (S. Paulo). É assim que o leproso, a quem Cristo Se quis comparar na Sagrada Escritura, surge aos olhos do santo como um “ícone” de Cristo e seu cooperador na redenção da humanidade. Por outro lado, Francisco que tanto se sentira atraído pelo pecado ganha-lhe, agora, nojo. O corpo apodrecido pode ser comunhão na cruz de Jesus e, por isso, caminho de ressurreição, de vida nova, e o seu fim é o Céu, mas a alma corrompida pela lepra do pecado, está destinada à condenação e o seu fim é a perdição, o inferno. No entanto, o horror que o santo ganha ao pecado não o leva a evitar os pecadores, pelo contrário, deles se torna mais próximo para os poder curar levando-lhes a salvação de Jesus Cristo. Assim como quem ama o doente, aliando-se a ele, odeia a sua enfermidade combatendo-a, para o restabelecer, assim também S. Francisco consciente da devastação que o mal moral opera no pecador, à pessoa deste se alia, batalhando com a máxima aversão contra o pecado, que a deforma, desfigura e mata.
“Jesus estendeu a mão e tocou-lhe”
Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo, se queria ser “soldado de Cristo” (2Tm 2, 3), saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se deter neste acto de generosidade. Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado que, nas palavras do profeta, “foi desprezado como um leproso” (Is 53, 3). Ia visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes afectuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para as distribuir. Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que fervilhavam no chão da basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se cobria, e passou todo o dia na companhia dos pobres, a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera.
São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja
O cântico do irmão sol
Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção
Só a ti Altíssimo, são devidos;
e homem algum é digno
De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o Senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante
Com grande esplendor.
De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão fogo.
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem aventurados os que sustentam a Paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.
São Francisco de Assis
ORAÇÃO DE S. FRANCISCO DE ASSIS
Senhor,
Fazei de mim um instrumento da vossa Paz.
Onde houver ódio, que eu leve o Amor.
Onde houver ofensa, que eu eleve o Perdão.
Onde houver dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a Luz.
Ó Mestre:
Fazei que eu procure mais:
Consolar que ser consolado.
Compreender que ser compreendido.
Amar que ser amado.
pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
S. FRANCISCO DE ASSIS - Para muitos, Francisco é apenas o santo da Ecologia. Autor dos hinos ao “Irmão Sol e a “Irmã Lua”, conversava com os pássaros e lobos, vivia numa cabana silvestre em Assis, na Itália e deixou-nos, a expressiva oração que tem o seu nome, também foi dele a ideia de comemorar o Natal em volta do presépio. No mundo de hoje S. Francisco é exemplo de simplicidade, humildade e pobreza, vividas com alegria.
Doença e início da conversão
Francisco não nasceu santo, mas lutou muito para se tornar santo!
O clima insalubre da prisão, agravado pelos prolongados meses de Inverno, haviam-lhe enfraquecido o organismo, provocando agora uma grave enfermidade. Depois de longos meses de sofrimento, sem poder sair da cama, finalmente conseguiu melhorar.
Ao levantar-se, porém, não era o mesmo Francisco. Sentiu-se diferente, sem poder compreender o porquê. A verdade é que a humilhação e o sofrimento da prisão, somado ao enfraquecimento causado pela doença, provocaram profundas mudanças no jovem Francisco. Foi o caminho que Deus escolheu para entrar mais profundamente na sua vida. Já não sentia prazer nas cantigas e banquetes em companhia dos amigos.
Começou a perceber a leviandade dos prazeres puramente terrenos, embora ainda não buscasse a Deus. Na verdade, Francisco não nasceu santo, mas lutou muito para se tornar santo!
Francisco havia perdido o gosto pelos prazeres mundanos, mas conservava ainda a ambição da fama. Por este motivo, sonhava com a glória das armas e a nobreza, que se conquistavam nos campos de batalha. Por isso, aderiu prontamente ao exército que o Conde de Assis estava a organizar para ajudar o Papa Inocêncio III na defesa dos interesses da Igreja. Contou para isso com a aprovação entusiasmada do pai, que vislumbrava aí a oportunidade tão longamente esperada de enobrecer a sua família.
Deus, porém, reservava-lhe algumas surpresas...
Antes de partir, num impulso de generosidade, Francisco cedeu a um amigo mais pobre os ricos trajes e a armadura caríssima que havia preparado para si. Isto valeu-lhe um sonho estranho: viu um castelo repleto de armas destinadas a ele e aos seus companheiros. Francisco não conseguiu entender o significado do sonho. Pensou que estava destinado a ser um famoso guerreiro! O facto é que o sonho não lhe saía do pensamento.
Ao chegar ao povoado de Espoleto, Deus tornou a falar-lhe em sonhos, desta vez com maior clareza, de modo que ele reconheceu a voz divina que lhe perguntava: "A quem queres servir: ao Servo ou ao Senhor?" Francisco respondeu prontamente: "Ao Senhor, é claro!" A voz tornou a falar-lhe: "Por que insistes então em servir ao servo? Se queres servir ao Senhor, retorna a Assis. Lá te será dito o que deves fazer!" Francisco entendeu, então, que estava à procura apenas da glória humana e passageira. Estava a fazer a vontade de pessoas ambiciosas e mesquinhas e não a vontade do Senhor do Universo.
Desafiando os sorrisos de desdém dos vizinhos e a cólera de Pedro Bernardone, contrariado nos seus projectos, Francisco retornou a Assis, dando prova da energia do seu carácter e do valor do seu ânimo, virtudes que se mostrariam valiosas mais tarde nos percalços do seu novo caminho.
Começou a longa busca e a longa espera: "O que é que Deus quer de mim? O que é que Ele quer que eu faça?" Era esta a constante interrogação de Francisco.
Para tentar desvendar os desígnios de Deus, passou a dedicar-se à oração e à meditação. Percorria campos e florestas em busca de lugares mais tranquilos, em busca de respostas para as suas dúvidas e inquietações. Para ele, tudo passou a ter outro sentido. Passou a enxergar as coisas com outros olhos e outro coração.
O Sermão das aves
Esperem um momento, vou pregar às nossas irmãzinhas aves!
Certo dia, Francisco saiu para uma missão. Entre Cannara e Bevagna, num local silvestre, onde havia um pequeno descampado e ao redor muitas árvores de todas as espécies. Em cima das árvores, voando em revoadas e espalhadas pelo chão no descampado, muitas aves, que cantavam e confraternizavam com grande alarido.
O Santo disse aos seus discípulos: "Esperem um momento, vou pregar às nossas irmãzinhas aves!" Entrou no campo indo de encontro às aves q estavam no chão. E mal começou a pregar, as que estavam nas árvores desceram. Nenhuma se mexia, embora andando ele passasse perto e mesmo chegasse a roçar nelas com a extremidade da sua veste! E dizia às aves: "Minhas irmãzinhas aves, deveis muito a DEUS, o CRIADOR, e por isso, em todo o lugar que estiverdes deveis louva-LO, porque ELE vos permitiu que voassem para onde quisessem, livremente, da mesma forma que devem agradecer o alimento que ELE vos dá, sem que para isso tenham que trabalhar; agradeçam ainda a bela voz que o SENHOR vos proporciona, que vos permitem realizar lindas entoações! Vejam, minhas queridas irmãzinhas, vós não semeais e não ceifais.
É DEUS quem vos apascenta, quem vos dá os rios e as fontes, para saciar a sede; quem vos dá os montes e os vales, para o seu refúgio e lazer, assim como vos dá as árvores altas, para fazerdes os ninhos. Embora não saibam fiar e nem coser, DEUS vos concede admiráveis vestimentas para todas vós e seus filhos, porque ELE vos ama muito e quer o vosso bem-estar. Por isso, minhas irmãzinhas, não sejam ingratas, procurem sempre se esforçarem em louvar a DEUS." Acabando de dizer-lhes estas palavras, todas as aves num gesto quase uniforme, começaram a abrir os bicos e esticar os pescoços, à medida que abriam as asas e inclinavam reverentemente a cabeça até a terra, cantando, demonstrando assim que Francisco lhes havia proporcionado uma grande satisfação!
Finalmente, São Francisco traçou sobre elas o Sinal da Cruz e deu-lhes licença de se retirarem. Então, todas aquelas aves se levantaram no ar com um maravilhoso canto, e logo se dividiram em revoadas e desapareceram atrás das colinas e das matas. Conta-se que, dias depois, o Santo foi em companhia de Frei Massau a um lugarejo chamado Alviano, entre Orte e Orvieto. Pararam na praça do Mercado e como sempre, cantaram uma melodia com versos que convidavam a conversão do coração, com a finalidade de reunir o povo. Depois começou a pregar.
Entardecia. As andorinhas voavam de um lado para outro em ciclo contínuo, cantando forte e de modo quase uníssono. Os habitantes do lugarejo que se comprimiam ao redor para ouvir a palavra dele, não estavam a conseguir entender quase nada, porque o barulho das andorinhas era muito intenso. Então, Francisco com a maior tranquilidade, olhou para elas e com muita doçura disse: "Irmãs andorinhas, parece-me que agora é minha vez de falar. Já cantaram e falaram bastante! Escutem, pois, a palavra de DEUS e fiquem silenciosas enquanto eu falo!" Elas pararam e fizeram um grande silêncio, enquanto ele falou.
Francisco, o Santo da Alegria.
São Francisco e a alegria - Francisco declara bem-aventurados os frades que vivem situações às quais o Evangelho qualifica de bem-aventuranças. Em geral são declarações dele a respeito de quem procede evangelicamente, como nas suas Admoestações diz: “bem-aventurado aquele que nada retém para si”.
Neste sentido encontrei - só nos escritos atribuídos a Francisco - 12 vezes a expressão bem-aventurado (s) e uma vez “felizes” como sinónimo de bem-aventurados. Na verdade são promessas de felicidade se os frades conseguirem realizar determinadas propostas evangélicas. Quando Francisco lida com o dia-a-dia dos seus irmãos e se refere às qualidades e virtudes para a boa vivência da fraternidade, para o sucesso na luta contra Satanás e a eficiência da evangelização, ele fala 19 vezes em alegria.
Alegria como virtude - Não é muito fácil transformar a alegria em virtude, pois alegria parece constituir-se apenas de uma emoção primária agradável, fruto da posse de coisas desejadas. O problema está naquilo que se deseja. A alegria do Tio Patinhas por encontrar mais uma mina de ouro não é virtuosa, pois é fruto da sua desmedida cobiça e poderá incentivar outros a entregarem-se ao materialismo.
Francisco, por sua vez, acabara de romper com o pai ganancioso e com a riqueza de que podia usufruir na família. Procurava no seu íntimo uma forma de viver mais de perto o ideal do Evangelho e do modo de ser do próprio Cristo.
Numa missa ouve aquela passagem na qual Jesus envia os seus discípulos a pregar. Depois pede ao sacerdote que lhe explique a leitura. Diante do quadro dos enviados “sem bastão”, sem dinheiro, sem reserva de pão, sem calçados”, ocupados unicamente em pregar o Reino de Deus e a penitência, Francisco tem uma iluminação. Segundo Tomás de Celano, exclama: “É isso que eu quero, isso que procuro, é isso que DESEJO DE TODO O CORAÇÃO”. Ora, quem consegue conquistar “aquilo que deseja” de todo o coração, só pode experimentar uma alegria correspondente. É o que Jesus afirma ao comparar o Reino a um tesouro. Quem o encontrar abre mão de TUDO o que possui e, “cheio de alegria compra aquele campo” (Mt 13,44). Para chegar ao TESOURO, Francisco teve que perder tudo. Enquanto ia perdendo, já sentia o coração enchendo-se de alegria. A conclusão foi claríssima para ele: a alegria é o certificado de qualidade da evangelização. Só é bom discípulo e bom anunciador do Reino quem não conseguir esconder aos demais - por causa da alegria irreprimível - que ele encontrou algo realmente extraordinário.
Desdobramentos da alegria - São Francisco está a uns cinco meses da sua morte.
O seu corpo reduziu-se a uma ruína humana. Já não consegue escrever. O sofrimento físico é atroz e torturante. Dita assim mesmo um testamento com as suas últimas recomendações. Depois pede que Frei Leão escreva o que ele tem a dizer sobre aquilo que considera ser a ALEGRIA PERFEITA. Francisco imagina duas situações. Na primeira chegam mensageiros anunciando sucessos inimagináveis da sua Ordem nos mais diversos recantos da Terra. “Digo-te - afirma ele - que em tudo isto não está a verdadeira alegria”. Na segunda Francisco imagina-se numa emergência hipotética. Ele próprio, o fundador da Ordem, volta para o convento da Porciúncula, “sua” casa-mãe, esgotado pela fadiga e quase morto pela mais violenta nevasca.
Bate muitas vezes na porta. Por três vezes, o porteiro abre, insulta Francisco de todas as formas. Conclui o santo: “Pois bem, se eu tive tido paciência e permanecer imperturbável, digo-te que aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e salvação da alma”. Por muito tempo, por mais que isso impressionasse, eu imaginava que era o transvazar da expressividade dramática da alma latina, italiana, de Francisco.
Mas, eis que num dos seus biógrafos encontrei a explicação. Francisco não se ligava ao conteúdo da ofensa de quem o agredia. Concentrava-se na desordem do coração e pecado do ofensor.
Em vez de ficar ofendido, enchia-se de cuidados e compaixão pelo irmão agressivo.
Deus e Jesus Cristo tornam-se cada vez mais a única e avassaladora paixão de São Francisco. No altar desta paixão, ele sacrifica tudo, inclusive todos os outros possíveis projectos e desejos. É isto que ele entende por POBREZA.
Resta só um desejo irresistível: imitar em tudo o seu Cristo-Paixão, sem sofrer menos que Ele “pela salvação de todos”. Assim, Francisco desenvolveu uma blindagem protectora contra todas as adversidades, todas as injustiças, toda a forma de sofrimento. Todo o sofrimento é sempre invadido pela luz e significado que brotam do seu CRISTO-MODELO. Ocorre uma verdadeira transubstanciação da dor e do sofrimento. Adquirem uma nova natureza. Aí é difícil saber onde termina Francisco e onde começa Cristo.
Nesta comunhão, os contornos e as figuras de ambos embaralham-se os nossos olhos. Então toda a sorte de sofrimentos simplesmente o fazem sentir-se mais perto, mais identificado com o seu divino mestre e modelo, a sua única paixão. Isto realimenta e purifica a sua indefectível alegria. Por isso os seus contemporâneos afirmavam que Francisco era outro Cristo.
Quem é São Francisco?
• “Santo incomparável” - Joseph Lorz, historiador alemão
• “Santo comparável a Cristo. Foi conforme Cristo bendito” - I Fioretti
• “Tão perfeita imagem de Cristo! Quase um Cristo redivivo” - Pio XI, Papa
• “O mais italiano dos santos, o mais santo dos italianos” - Mussolini
• “A vida de São Francisco de Assis é a que mais se aproxima do Absoluto do Evangelho… Ele foi o primeiro depois do Único” - Y. Congar, teólogo
• “Homem simples e iletrado, amado por Deus e pelos homens” - Cardeal Vitry
• “Homem pequeno e de aspecto miserável” - Inocêncio III, Papa
• “Com dois ou três Franciscos, não teria sido necessária a revolução bolchevique” - Lenine, revolucionário russo.
• “Há alguns dias me pergunto se Cristo, no tempo da vida de São Francisco, não nos deu, segunda vez, o santo Evangelho” - Julian Green
• “São Francisco dava o doce nome de ‘irmãs’ a todas as criaturas, de quem, por modo maravilhoso e de todos desconhecido, adivinhava os segredos, como quem já desfruta da liberdade e da glória dos filhos de Deus” - Tomás de Celano, biógrafo (1229).
• Há homens que, vivendo profundamente a problemática do seu tempo e do seu povo, são tão humanos que permanecem como inspiração para todos os tempos e todos os povos. Francisco de Assis é um desses homens raros que, ao longo dos séculos, das latitudes e longitudes, interpelam, questionam, desinstalam” - Dom Hélder Câmara
• “São Francisco não se apresentou como reformador nem como profeta, mas como irmão e amigo” - Teodósio Lombardi
• “São Francisco é o símbolo e a lembrança viva de Cristo. Ambos são inseparáveis para sempre” - Walter Nigg, escritor
• “Depois de Cristo, São Francisco é o maior herói religioso do Cristianismo” - L. Salvatorelli
• “O lado humano da figura de São Francisco é tão surpreendente quanto o lado espiritual e místico. Ao homem Francisco com os seus dotes e qualidades, acrescenta-se imediatamente o santo do amor, da pobreza, da paz, da poesia, da fraternidade” - T. Lombardi
• “Caso desaparecessem os Evangelhos, nós poderíamos reconstituí-los a partir da biografia de São Francisco de Assis” - Cardeal Vicente Scherer
• “São Francisco de Assis é um homem tão simples e autêntico, e tão essencial que a sua compreensão está ao alcance de todo o mundo” - J. Lorz
• “Lembro-me da revolução que foi para mim o dia em que travei relações com Francisco de Assis; Torno a repetir: convido-vos a um clima franciscano” - Jorge de Lima, escritor e poeta
• “Jovialidade e ternura são o sabor ou a sabedoria que cedo merecem os que aprendem o caminho da vida, ensinado no exemplo e na palavra por São Francisco de Assis” - Arcângelo Buzzi
• “Depois de Cristo, Francisco de Assis foi o único cristão perfeito; é o homem de consciência mais límpida e de ingenuidade mais absoluta” - E. Renan
• “São Francisco é, entre todos os santos, o maior arauto da vida. O mensageiro do amor, no sentido prático” - Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns
• “O mundo tem saudades de ti como ícone de Jesus crucificado” - João Paulo II • “Francisco é, num certo sentido, o santo universal; através dele Cristo quis proclamar o Evangelho, não só à sua época, mas também às outras, à nossa, a culturas e civilizações” - João Paulo II.
• “Encontramo-nos diante de um homem, a quem o Filho de Deus quis revelar, em medida especial e com especial abundância, aquilo que lhe foi entregue pelo Pai para todos os homens, para todos os tempos. Certamente, Francisco foi enviado com o Evangelho de Cristo de modo particular para o seu tempo… mas dele todas as épocas conservaram em si alguma coisa. A missão franciscana não terminou. Perdura ainda” João Paulo II, 12.03.1982
• “São Francisco, pela amigável união que estabeleceu com todas as coisas, parecia ter voltado ao primitivo estado de inocência matinal” -S. Boaventura
• “Homem inútil e indigna criatura de Deus, nosso Senhor” - ele mesmo, São Francisco. • A História alcunhou-o simplesmente como “Il Poverello” .
O CAMINHO DE SÃO FRANCISCO
Se sentires o chamamento do Espírito, atende-o e procura ser santo(a) com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, porém, por causa da tua fraqueza não conseguires ser santo(a). procura então ser perfeito(a) com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, contudo, não conseguires ser perfeito(a) por causa da vaidade da tua vida, procura então ser bom(a) com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças. Se ainda não conseguires ser bom(a) por causa das insídias do Maligno, então procura ser razoável com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, por fim, não conseguires nem ser santo(a), nem perfeito(a), nem bom(a), nem razoável, por causa dos teus pecados, então procura carregar este peso e entrega a tua vida à divina misericórdia. Se fizeres isto, sem amargura, com toda a humildade e com jovialidade de espírito, por causa da ternura de Deus que ama os ingratos e maus, então, começarás a sentir o que é ser razoável, aprenderás o que é ser bom(a), lentamente aspirarás a ser perfeito(a), e, por fim, suspirarás por ser santo(a). Se tudo isto fizeres, cada dia, com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças, então, eu te asseguro: estarás no caminho de São Francisco, não estarás longe do Reino de Deus!