Mentiras que parecem verdade
Podemos passar uma vida inteira a criar ciladas para nós mesmas e escondendo-nos atrás de mentiras que parecem verdades
Um sentimento de inferioridade diante dos outros, a incapacidade de decidir e fazer escolhas diante das circunstâncias da vida, o isolamento, a depressão, o mau humor constante, os sentimentos de culpa, a falta de perspectiva diante do futuro, o desânimo, a irritabilidade frequente, a agressividade contra si mesma e contra os outros, a perda de interesse e de alegria, a ausência de auto-estima e do sentido da vida… Estes são alguns dos sinais de que algo não vai bem connosco. São sinais concretos de que, em algum momento ao longo do nosso caminho, nos perdemos de nós mesmas, por esta razão, nos sentimos frágeis, pequenas e incapazes de encontrar o nosso lugar no mundo e de dar um novo rumo à nossa história, diante da qual sempre temos a tendência a nos colocar no papel de vítimas.
Se conseguimos identificar que vivemos algumas destas situações descritas acima, é sinal de que estamos a viver uma mentira existencial. Seja por traumas vividos no passado, seja por dificuldade de lidar com as situações do presente, em algum momento saímos da rota, negamos a nossa consciência e, sem perceber, abrimos mão da responsabilidade que temos sobre a nossa própria vida. Começamos a mentir, negando e anulando o nosso próprio “eu” para nos esconder atrás de sintomas que podemos carregar por muito tempo. Podemos passar uma vida inteira criando ciladas para nós mesmas e escondendo-nos atrás de “falsas verdades”.
Com a psicologia aprendemos que “neurose” é uma mentira esquecida na qual acreditamos e da qual precisamos de nos libertar, senão viveremos sempre como agentes passivos e nunca autores da nossa própria história. Precisamos de nos reconciliar com a verdade da nossa existência e tomar as rédeas da nossa vida nas mãos; e o meio mais eficaz de nos livrarmos destas mentiras é a confissão. Não apenas a confissão sacramental, mas também o acto de contar a nossa própria história a nós mesmas, a alguém e a Deus.
A nossa vida é uma narrativa, que deve ser escrita por nós sob a luz do Espírito Santo, a quem devemos recorrer sempre para que Ele nos dê a graça de conhecermos a verdade sobre nós mesmas.
Deus é maior do que qualquer circunstância que nos tenha acontecido e maior que qualquer mentira que um dia alguém nos possa ter contado. Jesus quer sempre guiar-nos pelo caminho da verdade, contudo, precisamos de ter a coragem de contar a nossa própria história, coragem para fazer as pazes com o nosso passado e para deixar o orgulho de lado e permitir que caiam as nossas máscaras, uma após outra.
Precisamos de reconhecer as nossas misérias e as nossas fraquezas, de nos perdoar e perdoar a quem nos feriu, sabendo e assumindo que Deus é maior que tudo e que nos ama a despeito de tudo.
Como tão bem nos ensina Santo Agostinho, o melhor método para saber a verdade acerca de si mesmo é o exame de consciência e a confissão. Narrar a nossa própria história com as suas alegrias e tristezas, com as suas conquistas e adversidades, buscando em cada facto e em cada acontecimento o verdadeiro sentido para a nossa existência.
Esta deveria ser uma prática diária na nossa vida, pois se não fizermos isto teremos uma grande tendência a nos perder de nós mesmas ao longo do caminho; muitas vezes, chegamos ao ponto de não saber quem somos, já não nos reconhecemos. Então passamos a agir como “personagens” enrolados na nossa própria trama existencial. Vem um momento em que precisamos de deixar cair as “escamas dos olhos” e deixarmos, enfim, de nos sentir vítimas do que nos aconteceu para assumirmos a responsabilidade pela nossa própria vida.
Se nos sentimos traídas quando alguém nos mente, como podemos então suportar passar anos da nossa vida traindo a nós mesmas e à nossa consciência mais profunda? Com a ajuda de Deus e com um firme propósito diante de nós mesmas podemos mudar isto.
A verdade passa necessariamente pelo confessionário e é o Espírito Santo de Deus quem nos conduz sempre de volta a nós mesmas, de volta à casa do Pai. Há um saber dentro de cada uma de nós, uma intuição que vem do coração e ali é onde se encontra a verdade. Isto devemos buscar todos os dias, com coragem e muita sinceridade no coração, um encontro profundo com a nossa alma.
Se te sentes perdida e não sabes por onde começar, pede ao Espírito de Deus que Ele te dê o dom da sabedoria e que Ele te ilumine e te guie neste caminho rumo ao teu interior. Sentires-te perdida já é um começo, é um sinal de que, por mais que ainda não saibas qual é a verdade acerca de ti mesma, já sabes ao menos quais são as mentiras. Temos do nosso lado um Deus que é amor infinito e infinita misericórdia.
A Ele devemos confessar todas estas mentiras e deixar que o Seu Espírito de amor se nos revele e nos conte a verdade escondida por trás de tantas mentiras.