A IGREJA
Por que é que a Igreja guarda o domingo em vez do sábado?
- 12-10-2022
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“No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fracção
do pão.”
Uma boa parte dos católicos já viveu a experiência de não
saber responder quando alguém pergunta alguma coisa a respeito da nossa fé, da
doutrina e da maneira com que cremos e vivemos a nossa relação com Deus. Por
isso, é importante o conselho que São Pedro nos dá: “Estai sempre prontos a dar
razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (I Pd 3,15).
“Assim, este artigo
tem por objectivo ajudar a entender o porquê de a Igreja nos pedir para guardar
o domingo em vez do sábado. E fica aqui o convite para cada um aprofundar e
buscar as respostas para esta e outras questões em que, talvez, tenha dúvidas, para
viver melhor a fé.
Logo nos primeiros livros da Bíblia, podemos ver que: Deus,
ao criar todas as coisas e vendo a sua obra terminada, Deus descansou e
santificou o sétimo dia, o sábado (cf. Gn 2,2-3), e também, na Lei de Moisés, o
Senhor diz para o povo se lembrar da santificação do sábado (cf. Ex 20,8). O
próprio Jesus, como bom judeu que era, cumpriu o preceito do sábado.
Mas, não podemos esquecer que Jesus veio trazer à Lei do
Antiga Aliança a plenitude, por isso, cumpriu plenamente o descanso do sábado
no silêncio do sepulcro, no sábado santo, e inaugurou a nova criação, a Nova e
Eterna Aliança, no Domingo da Ressurreição. Assim, o Domingo, para os cristãos,
torna-se o Dia do Senhor, o oitavo dia e também o primeiro dia da nova criação,
que não mais está sujeita à lei e ao pecado, mas que foi enfim libertada do
poder da morte e do pecado pela ressurreição de Jesus.
Sucessão Apostólica
É interessante perceber também que esta dúvida é antiga
dentro da Igreja, pois, no primeiro século, muitos dos judeus convertidos ao
cristianismo queriam que os costumes judaicos fossem seguidos pelos cristãos,
como a observância do sábado, a circuncisão e os hábitos alimentares. Mas, a
Igreja, desde os Apóstolos, reunia-se aos Domingos, no primeiro dia da semana
para celebrar a missa, como está narrado em Actos dos Apóstolos 20, 7:
“No primeiro dia da
semana, estávamos reunidos para a fracção do pão.”
Em I Cor 16,2:
“Quanto á colecta em favor dos irmãos… Todo o primeiro dia da
semana, cada qual separe livremente o que tenha conseguido economizar, de modo
que não se espere a minha chegada para recolher os donativos.”
E também Cl 2,16:
“Portanto, que ninguém vos condene por questões de comida ou
bebida, de festa ou lua nova ou sábado.”
Além da Palavra, que atesta que os Apóstolos guardavam o
Domingo, o dia da ressurreição do Senhor, também temos o testemunho dos Padres
da Igreja dos primeiros séculos, que afirmam a mesma coisa, pois, receberam este
costume dos Apóstolos e da tradição da Igreja.
A Epístola de Barnabé, mesmo não fazendo parte da selecção
dos livros da Bíblia, é um dos documentos mais antigos da Igreja, escrita no
ano 74 d.C., anterior ao livro do Apocalipse e diz:
“Guardamos o oitavo
dia (o Domingo) com alegria, o dia em que Jesus se levantou dos mortos” (Barnabé
15:6-8).
Também temos o testemunho dos santos, como Santo Inácio de
Antioquia (✝107), Bispo e mártir da Igreja:
“Aqueles que viviam
segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não observando
o sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele
e pela sua morte.(…) É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, judaizar.
Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, mas o judaísmo no
cristianismo, pois nele se reuniu toda a língua que acredita em Deus” (Carta
aos Magnésios. 9,1).
São Justino (✝165), mártir, também escreveu:
“Reunimo-nos todos no
dia do sol, porque é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o
primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e,
neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos”
(Apologia 1,67).
E São Jerónimo (✝420),
doutor da Igreja e responsável por traduzir
a Sagrada escritura diz:
“O Dia do Senhor, o
Dia da Ressurreição, o Dia dos Cristãos, é o nosso dia. Por isso se chama Dia
do Senhor: foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os
pagãos o denominam Dia do Sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje
levantou-se a Luz do Mundo, hoje apareceu o Sol de Justiça cujos raios trazem a
salvação” (CCL, 78,550,52).
A Didaquê (do grego para “doutrina”), um documento do século
I, também conhecido como Instrução dos Doze Apóstolos, escrito por volta do ano
70 d.C, que trata do catecismo cristão ensinado pelos apóstolos aos primeiros
cristãos, diz:
“Reuni-vos no dia do
Senhor para a fracção do pão e agradecei, depois de haverdes confessado os vossos
pecados, para que o vosso sacrifício seja puro” (Didaquê).
Assim, o preceito do sábado da Antiga Aliança foi elevado à
sua plenitude no Domingo, o Dia do Senhor, que inaugurou pela sua ressurreição
a Nova e Eterna Aliança. Pois, assim como diz São Paulo, na carta aos Hebreus,
a Nova Aliança é melhor e superior à Antiga (cf. Hb 8, 6-7.13).
Portanto, vivamos o Domingo como nos manda a Santa Mãe
Igreja, como um dia verdadeiramente dedicado a Deus, memorial da ressurreição e
da nossa salvação, em que somos especialmente convidados a participar da Santa
Missa, à caridade fraterna, a dedicar-se à família e ao descanso. Afinal, “este
é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 118,24).
Mateus Cesário