É um absurdo querer amar a Jesus sem a Igreja. É como dizer: eu sigo Jesus, eu quero imitar o Seu exemplo, mas eu não preciso de Igreja, de bispos, de Papa nem de padres. Eu posso me relacionar direto com esse Jesus e segui-Lo.
Já o Papa São Paulo VI numa exortação apostólica escreveu:
convém recordar, aqui de passagem, momentos em que acontecem se nós ouvirmos,
não sem mágoa, algumas pessoas, cremos que bem intencionadas, mas, com certeza,
desorientadas em seu espírito, a repetir que pretendem amar a Cristo, mas sem a
Igreja. Ouvir a Cristo, mas não a Igreja; ser de Cristo, mas fora da Igreja. O
absurdo de uma semelhante dicotomia aparece com nitidez nesta palavra do
Evangelho: “Quem vos rejeita é a mim que rejeita”. E como se poderia amar a
Cristo sem amar a Igreja? Uma vez que o mais belo testemunho dado de Cristo é
aquele que São Paulo exarou nesses termos: “Ele amou a Igreja, e entregou-se a
si mesmo por ela”.
O Papa São Paulo VI comentando este grande absurdo, como
alguém pode dizer que ama a Jesus, mas não ama a Igreja, sua esposa? Se o maior
exemplo dado por nosso Senhor Jesus Cristo foi o exemplo da sua entrega total,
até à última gota de sangue por amor à Igreja. Nós queremos pedir a graça de
amarmos, cada vez mais, esta realidade que o Senhor quis escolher nesta terra
para perpetuar a Sua obra de salvação. Nós nunca seremos suficientemente gratos
por fazer parte da Igreja Católica.
Jesus sim, Igreja não
Este tema que os papas mencionam é muito importante nos dias
de hoje, primeiramente para nós mesmos, para que tenhamos consciência da nossa
pertença à Igreja, do que isto implica na nossa vida, para a nossa salvação e
também para que possamos ajudar aquelas pessoas que, hoje, continuam a manter
esta afirmação: “Jesus sim, Igreja não.”
Talvez você já tenha ouvido de vários amigos uma expressão
semelhante: “Eu posso ler a Bíblia sozinho, rezar sozinho, seguir Jesus, eu não
preciso de homens para me conduzir”. O que dizer diante disto? É certo que,
como o Papa disse, as pessoas pensam assim não exactamente por más intenções. A
gente quer aqui dar o crédito das boas intenções, pois pode ser que, por algum
motivo, estas pessoas pensem desse modo.
Vamos seguir uma catequese do Papa São João Paulo II durante
uma época das catequeses pontifícias. Ele dedicou-se a fazer catequeses sobre
os mistérios da Igreja, e numa dessas catequeses, concretamente a segunda
delas, ele falou sobre essa dicotomia da qual o Papa São Paulo VI comentava. A
primeira motivação que poderemos mencionar talvez seja esta de pessoas que
pensam desta forma “Jesus sim, Igreja não”, por uma falsa imagem que elas têm
da Igreja.
Ainda hoje há muita gente que só conhece a Igreja Católica
por aquilo que viu na TV ou leu na internet, portanto não conhecem nada da
Igreja Católica, porque o que se vê na TV, na internet, geralmente sobre a
Igreja, são as notícias ruins da nossa mãe Igreja, dificilmente vê notícias
boas acerca da Igreja nas grandes mídias. Portanto, esta é a ideia que acaba por
ficar nas pessoas, nada muito além do que aquilo que elas conhecem pela
internet ou pela TV.
Este talvez seja um exemplo que pode motivar as pessoas a
pensarem: “Não quero Igreja”. Com os maus exemplos dados pela mídia, que pensam
“se isto é Igreja, eu não a quero para mim. Eu até admiro a figura de Jesus, as
suas pregações, mas a Igreja não”. Talvez esta seja uma das motivações.
Contra testemunho
Outra motivação que pode levar uma pessoa a pensar assim, são
os defeitos das pessoas que fazem parte da Igreja. Quantas pessoas abandonaram
a Igreja Católica depois de um contra testemunho que elas presenciaram no
interior da Igreja? Quantas pessoas perderam a sua fé por contra testemunho que
nós demos em algum momento da nossa história? Intrigas, maledicências, tantas
coisas ruins da nossa parte, de nós que somos membros da Igreja que podem fazer
com que as pessoas pensem “Se a Igreja é isto, eu não quero para mim, vou
continuar a seguir Jesus aqui no meu cantinho, sozinho”.
Nós precisamos de entender que Jesus, ao querer estabelecer a
Igreja na Terra, escolheu homens fracos, pecadores, justamente para dizer que
esta Igreja é d’Ele. Pensem só: o primeiro Papa escolhido por nosso Senhor foi
um homem que negou Jesus no momento mais derradeiro da sua vida, quando Jesus
mais precisou dos seus, o primeiro Papa disse: “Eu não conheço esse homem”. O
primeiro Papa da Santa Igreja Católica negou o fundador dessa mesma Igreja.
Outro membro da Igreja, escolhido a dedo directamente por Jesus, chamado amigo
por Jesus, traiu esse mesmo Senhor e, depois, em desespero, enforcou-se, tirou a
sua própria vida. Cometeu o suicídio. Estamos a falar de Judas Iscariotes, um discípulo
escolhido directamente pelo Senhor, cometeu suicídio.
“Quem olha para a
Igreja Católica sem uma visão sobrenatural, nunca chegará a entender o que ela
realmente é.”
Será que Jesus se enganou ao escolher Pedro? Ao escolher
Judas para compor o colégio dos apóstolos? Não. Deus sabia o que estava a
fazer; portanto, se isto aconteceu na época em que o nosso Senhor pisava
historicamente a nossa terra, nada mais nos espanta no seio da Santa Igreja,
pecado nenhum. Esta Igreja é de Cristo, não tenhamos dúvida, e Ele escolheu uma
Igreja humana para mostrar que esta obra é d’Ele.
Com tanta gente ruim hoje na Igreja (também eu e tu), nós somos
ruins por causa da nossa fragilidade humana, se com todo o histórico pelo qual
a Igreja já passou, e Ela continua de pé, firme, é uma prova concreta das
palavras do Senhor: “As portas do inferno não prevalecerão sobre ela.”
Ainda tens dúvidas?
Se nós, que somos ruins e estamos dentro da Igreja não
conseguimos destruí-la, quem é de fora não poderá fazer isso. Esta Igreja é de
Cristo. Não tenhamos dúvida. Se a Igreja Católica não fosse obra divina, ela já
teria acabado há muito tempo. Portanto, não é motivo para nós pensarmos em sair
da Igreja, ou achar que ela deixa de ser de Deus quando a gente contempla,
quando a gente toca as fraquezas dos homens, isso em todos os níveis, na nossa
paróquia, nas nossas comunidades, a gente encontrar a fraqueza humana, e isso
não depõe em nada contra o valor da nossa Igreja. Pelo contrário, isso
reafirma: esta Igreja é de Deus. Se não o fosse, já teria acabado há muito
tempo, como vários impérios que estão hoje em ruínas.
Um terceiro motivo que poderia levar alguém a pensar em viver
um cristianismo sem a Igreja é esta busca de um contacto exclusivamente pessoal
com Deus, sem nenhuma mediação humana, algo um pouco orgulhoso e soberbo. Eu relaciono-me
directamente com Deus, eu não preciso de homens, de sacramentos, não preciso ir
à missa ou ouvir conselhos de padres, de bispos, eu me relaciono directamente
com Jesus, dizem alguns. Estas pessoas que têm a pretensão de um cristianismo
vivido isoladamente, à margem dos demais, esquecem-se que fazem parte da
pedagogia de Deus, e assim foi toda a obra de salvação. Faz parte da pedagogia
de Deus revelar-se por meio de mediações humanas, Deus revela-se ao homem
servindo-se do próprio homem. Deus não fala simplesmente ao interior do coração
humano, Ele escolhe mediações para que a Sua mensagem alcance cada coração.
Quem olha para a Igreja Católica sem uma visão sobrenatural,
como faz a grande mídia, nunca chegará a entender o que ela realmente é. E para
a nossa desgraça, muitos católicos ainda vêem a Igreja como uma mera
instituição humana. A Igreja é algo que abarca muito mais do que a nossa
limitada compreensão.