Sou uma pessoa afectivamentemadura?
A nossa afectividade necessitaalcançar a nossa maturidade
Todos nós precisamos de cura.Para sermos curados na sexualidade e na afectividade, precisamos de nos abrirao amor de Deus.
Comecei a trilhar este caminhopor meio de um grande amigo que nunca conheci pessoalmente, João Mohana,sacerdote, médico e psicólogo, um santo de Deus. Ao ficar viúva com vinte etrês anos, deram-me de presente um dos seus livros: “Sofrer e amar”, o qual meajudou a dar os primeiros passos no conhecimento do meu grau de maturidadeafectiva. Foi com ele que percebi a necessidade de crescer neste aspecto, aponto de equipará-lo à minha maturidade cronológica.
João Mohana explica: “Hoje, sabe-se que todo oindivíduo, homem e mulher, possui uma idade afectiva e uma idade cronológica, eque ambas podem coincidir ou não. Quando a idade afectiva éinferior à idade cronológica, estamos diante de um caso de imaturidadeafectiva. Quando iguala ou supera, estamos diante de um caso de maturidade”.
Algumas pessoas, que parecemadultas por fora, têm o coração imaturo. Não é sadia a imaturidade psicológicano adulto. É um fenómeno anormal. Normal é que o psiquismo se vá desenvolvendo,passo a passo, com o corpo, amadurecendo à proporção que o corpo amadurece.
Jesus Cristo deixou um programapara a nossa afectividade. E este está expresso no novo mandamento: “Dou-vos um novo mandamento.Que vos ameis como eu vos tenho amado” (Jo 15,12). “Amai-vos” noestilo d’Ele, ou seja, no estilo maduro para o coração humano. Este programasupõe que a nossa afectividade alcance a maturidade.
Para nós cristãos a maturidadehumana não é tudo, nela está incluída a santidade. Além da maturidade humana,somos chamados por Jesus Cristo a ser uma “nova criatura”, a fazer com que oFilho de Deus venha à tona em nós. É um processo que leva tempo, pois consisteem pegar a pessoa magoada, sofrida, marcada, amarrada, bloqueada e trazê-lapara fora como Jesus fez com Lázaro: “Lázaro, vem para fora!” É preciso que acriatura nova em nós venha para fora. É preciso deixar a cura e a libertaçãoacontecerem.
Todos nós sabemos que a maneiracomo nos comportamos e nos expressamos na nossa afectividade está intimamenteligada à nossa infância. Especialmente o relacionamento com o nosso pai, anossa mãe, os nossos irmãos que foram modelo para nós. Gandhi dizia que a “agente imita o que admira”, afirmando que o ser humano aprende por imitação.
O meu pai era muito afectuoso,não só nos seus gestos – em dar um abraço, pôr no colo –, mas também comternura, dizendo: “Eu amo-te!” Passei a minha vida inteira a presenciar oafecto entre os meus pais e o carinho que tinham com cada filho. As suasexpressões de afecto entre um e outro e connosco, seus seis filhos, fizeram denós uma família amorosa, unida e feliz.
Numa família pode haversegurança económica, financeira, boa moradia, mas se não houver a segurançaafectiva entre os pais, expressões de afectos, o resultado será, na maioria dasvezes, um adulto reprimido nos seus sentimentos de afectos, emoções de carinho,de ternura. Se ficar doente, terá tudo, menos afecto. João Mohana chama isto de“subnutrição da afectividade na infância”. Mas também ele diz: “O excesso deafecto pode levar à imaturidade, por vir a exigir um estilo de convívio com osoutros, semelhante ao que se habituou a ter na infância. Serão os insaciáveisnos grupos e nas famílias. Tanto excesso de carência e afecto na infância podemgerar as seguintes expressões de imaturidade na idade adulta: desconfiança,insegurança, agressividade, dependência, hermetismo, complexos, inibições,fugas, desajustamento e até perda de sentido da vida”.
É por isso que para o cristão étão importante o sobrenatural integrado ao natural, à sua maturidade afectiva. É o que expressa São Paulo:
“Assim, ele capacitou os santospara obra do ministério, para edificação do Corpo de Cristo até chegarmos,todos juntos, à unidade na fé no conhecimento do Filho de Deus, ao estado deadultos, à estatura do Cristo em sua plenitude. Então, não seremos mais comocrianças, entregues ao sabor das ondas. Ao contrário, vivendo segundo averdade, no amor, cresceremos sob todos os aspectos em relação a Cristo, que éa cabeça” (Ef4,12-14a.15).
Este é o trabalho da graça deDeus em nós, e todos nós devemos colaborar. Pelo Espírito Santo que nossantifica, vamos rumo à nossa maturidade humana e cristã.