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A Família

Quero ter mais filhos, mas o meu cônjuge não quer. O que fazer?

 A Igreja ensina que o casamento tem duas finalidades principais: o bem dos cônjuges e a geração e educação dos filhos

Sabemos que existe uma forte cultura no sentido de evitar filhos, e são muitos os motivos para isso: medo do futuro, dificuldades financeiras, falta de conhecimento da vontade de Deus sobre o matrimónio e também o egoísmo e o comodismo, uma vez que os filhos exigem dedicação e sacrifícios.

Evidentemente, um casal só deve ter filhos de comum acordo, cientes da grandeza que significa dar a vida a um ser humano, “imagem e semelhança de Deus” (Gen 1,26) – “a glória de Deus” (Santo Irineu de Lião) –, e que, um dia, vai viver eternamente com o Senhor. Nós não somos capazes de gerar nada mais belo do que um filho.

A Palavra de Deus diz: “Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas”. “Feliz o homem que assim encheu a sua aljava…” (Sl 126,3-5). O Catecismo da Igreja diz: “A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais”. (Cat.§ 2373)

O amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo

 “A fecundidade é um dom do matrimónio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora acrescentar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio âmago dessa doação mútua, da qual é fruto e realização. Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus. “Os cônjuges sabem que, no ofício de transmitir a vida e ser educador – o que deve ser considerado como missão própria deles –, são cooperadores do amor de Deus criador e como que seus intérpretes”. (n. 2366-7)

O cônjuge que não quer ter mais filhos, quando o casal pode tê-los e quando um deles quer, pode estar movido pelos sentimentos negativos citados; então, a parte que os deseja ter precisa de mostrar ao outro a vontade de Deus sobre o matrimónio. Isto deve ser feito com muito amor e carinho, mostrando ao outro o que a Igreja ensina sobre a paternidade responsável.

Há casos em que é lícito o casal espaçar o nascimento dos filhos – não é evitar indefinidamente – quando há sérios problemas de saúde e financeiros, para que o casal recupere deles, e depois possa ter outros filhos.

Confiança na Providência Divina

Um casal só aceita ter todos os filhos que pode ter se agir segundo a vontade de Deus, na fé, numa vida de confiança na Providência Divina, que nunca abandona um casal na criação dos filhos. São Paulo repete o que disse o profeta Habacuc: “O justo vive pela fé” (Rom 1,17; Hab 2,4). E a carta aos hebreus diz: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Heb 1,6). Portanto, quando um dos cônjuges quer ter um filho e o outro não quer, é preciso que o que quer o filho fortaleça a fé do outro e lhe mostre a vontade de Deus. O sentido mais profundo de gerar e educar os filhos é criar seres que, um dia, vão ocupar um lugar no Céu.

Lá, não se gera mais filhos, não há casamento; só aqui na Terra. Então, Deus quer contar com a generosidade dos pais para gerar os filhos que, com Ele, viverão por toda a eternidade, desfrutando da Sua felicidade. Esta é uma missão sagrada e sublime do casal. Só com este sentimento um casal “aceita ter todos os filhos que Deus lhe enviar”, como prometeram a Deus no dia do casamento.

É preciso meditar no que diz a Igreja sobre este assunto. O Papa Bento XVI disse: “Uma nação que não tem filhos é uma nação sem futuro”. É o que acontece com muitos países hoje. É triste ver a situação da Europa, do Japão e outros países envelhecidos, sem braços jovens para trabalhar e continuar a história destas nações.

Perigos dos métodos contraceptivos

Na década de 60, os pesquisadores inventaram a pílula anticoncepcional. Logo em seguida, em 25 de julho de 1968, o Papa Paulo VI escreveu a Encíclica Humanae Vitae (HV), alertando sobre os perigos que os métodos contraceptivos representavam para a humanidade.

Já se passaram cerca de 50 anos, e o tempo mostra quanto o Papa Paulo VI tinha razão. Os países da Europa envelheceram; nenhum deles hoje consegue sequer repor a taxa mínima de natalidade para que a população do continente não diminua. Nenhum deles tem taxa de 2,1 filhos por mulher, o mínimo necessário para se manter a população estável. Os governantes agora multiplicam os incentivos para os casais terem filhos, mas sem sucesso.

Isso acontece, hoje, por causa do drástico controle da natalidade facilitado pela pílula e outros métodos artificiais contraceptivos. Logo no início da referida encíclica HV, Paulo VI destacou: “O gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são os colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias […]. O matrimónio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimónio e contribuem grandemente para o bem dos pais” (n.9).

Paternidade responsável

Uma das advertências que o Papa colocou é que o casal deve viver a paternidade responsável, ter todos os filhos que puder criar com dignidade, sem cair na tentação do medo, do egoísmo e do comodismo de evitá-los.

O Santo Padre insistiu que o acto sexual tem dois aspectos fundamentais e não podem ser separados: o unitivo e o procriativo. Se forem separados, haverá o uso indevido e egoísta do sexo” (n.11).

Paulo VI lembrou também que a esterilização do homem ou da mulher fere o plano de Deus: “É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a esterilização direta (vasectomia e laqueadura), quer perpétua ou temporária, tanto do homem como da mulher” (n.14).

Não posso ter filhos, agora. Existe alguma alternativa?

Para os casais que precisam seriamente de evitar uma gravidez por um tempo, o Pontífice recomendou “os métodos naturais” de contracepção. Um exemplo é o conhecido Método Billings, que funciona muito bem quando o casal sabe usá-lo correctamente. A sua grande vantagem é que não fere a vontade de Deus e a mulher não toma medicamentos constantemente, o que pode fazer mal à sua saúde. Além disso, deste modo, estabelece-se entre o casal cristão um clima de amor, compreensão e respeito de mortificação que tanto santifica.

Somente uma reflexão profunda sobre este tema fundamental da vida pode fazer com que o casal decida, numa expressão profunda do seu amor recíproco e no amor a Deus, aceitar os filhos que Ele lhe enviar.

Por Bruna Estrela


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