Nós começámos a namorar com 18 anos e casámo-nos com 22. Os meus
pais nunca foram muito de pegar-nos no colo, de beijar, mas ensinaram-nos a
procurar os caminhos de Deus. Eu pude aprender na minha casa a não guardar
rancor no meu coração, e a viver o perdão. A minha mãe sempre nos ensinou a
viver na esperança de que Deus tem o poder de mudar todas as coisas.
Artur: Na minha família tivemos uma infância muito pobre,
muito sofrida, mas, ali foi o berço da minha formação. O meu pai era um homem
trabalhador, ele sabia fazer de tudo. A minha mãe sofreu muito por o meu pai abusar
do álcool, e para sairmos do aluguel conseguimos construir uma casinha, mas
passámos muito tempo com as paredes da casa sem rebocar e com a luz de uma lamparina.
Quero agradecer a Deus pela minha mãe, uma gigante de metro e
meio, uma guerreira, muito carinhosa. A minha mãe trabalhava um período, e no
outro estava sempre presente em casa, corrigindo-nos, educando-nos. Não
tínhamos brinquedos e por não podermos comprá-los, era a minha mãe quem os fazia
para nós, brincava comigo e com os meus irmãos.
Bendigo a Deus por tudo o que Ele fez na nossa história, pela
seriedade com que os nossos pais conduziram a nossa família, e por nos terem conduzido
nos caminhos de Deus.
Celina: A minha mãe criou-me dizendo: ‘minha filha, tu és uma
pessoa diferente, e não podes ser como aqueles que são maus, porque eu te criei
para seres diferente’.
Tudo o que recebemos dos nossos pais, nós fazemos o possível
para passar aos nossos filhos.
Artur: Tudo começou no dia em que eu vi esta ‘criança’, Celina
(esposa), que tinha dezassete anos. Para me aproximar dela, tive que me aproximar
da Igreja, e assim Deus fez-me voltar, porque eu andava afastado. No ano em que
conheci a Celina, eu parei um ano de estudar, porque já estava cansado da minha
vida de bebedeiras. Mas quando a conheci, pude ter a minha experiência com
Deus.
Quando começámos a namorar, nós já tínhamos os planos de
criar os nossos filhos em Deus. Eu tocava música e ela cantava, e quando nos
casámos, aonde íamos, as nossas filham iam connosco. Não nos preocupávamos em
darmos o sustento material somente, mas em dar-lhes também Deus.
Íamos sempre juntos à Santa Missa, nunca sozinhos em horários
diferentes. Muitos pais não querem levar as crianças para que não façam barulho
na Missa. Nós fazíamos questão de levar as crianças. E tínhamos uma convivência
muito sadia com as nossas filhas, a Celina ficava em casa e ajudava-as nas
tarefas da escola.
Celina: Eu só fui ajudar o Artur no trabalho com a seguinte
certeza: de que era somente para não nos faltar o que comermos. O trabalho da
casa é muito exigente, e eu ensino as minhas meninas. Precisamos de aprender a
limpar a casa. Eu sempre exigi que tudo estivesse no lugar, organizado e limpinho.
Aprendemos que o nosso exterior mostra como estamos no nosso interior. Então eu
sempre exigi que as crianças aprendessem isto, ensinar com as coisas simples.
Na minha família, a minha mãe sempre nos ensinou a cuidarmos
dos nossos irmãos e de não querermos um ter mais que o outro, mas de
partilharmos, porque se tu não cuidas do teu irmão de sangue, como vai cuidar
dos outros? Então, na minha família nós juntávamos o nosso salário, porque não
poderia um irmão ser rico e o outro pobre, então juntávamos o dinheiro para
comprar um carro para cada irmão; e isto é belo, assim nós aprendemos a
repartir.
Artur: Este é um exercício da partilha para juntos
alcançarmos algumas coisas mais rápido. Não é dar o seu salário ao outro, mas
ajudar o outro naquilo que sozinho seria muito mais demorado.
Hoje vemos nas famílias um desejo desenfreado de ter coisas,
ter carro, computador, e isso exige muito, e os pais acabam por trabalhar das
seis à meia noite e aí assim não têm tempo para Deus. Isto só enfraquece a
família.
A sociedade está doente, porque a família está doente. Se nós
temos a missão de levar os nossos filhos para Deus, então nós cristãos
precisamos de passar os nossos valores para os nossos filhos, e nunca é tarde
para começar. É procurar os valores da nossa fé. Os jovens estão cada vez mais
na droga, na prostituição, e as famílias dilaceradas.
Jesus quando veio não aboliu a lei, mas acrescentou. Por isso
não devemos deixar os valores dos nossos pais, mas acrescentar. Nós não assistimos
a novelas ou qualquer tipo de filme. Nós antes de ir deitar, rezamos o Terço. São
coisas pequenas, mas que fazem uma grande diferença.
Abram as portas da vossa casa aos amigos dos vossos filhos.
Juntai-vos a eles, conheçam o que eles pensam, passem valores para eles. Mesmo
que, depois, a vossa casa fique do avesso, mesmo assim deixai que os amigos dos
vossos filhos frequentem a vossa casa. No dia seguinte limpais tudo.
Precisamos ter momentos juntos, de rezar o terço juntos, de
ir à Missa, às reuniões da catequese e da escola. E quando os pais não vão às
reuniões, os filhos não se sentem importantes.
Nós pais precisamos de elogiar os nossos filhos nas suas
conquistas e ajudá-los nas suas dificuldades. Precisamos de aprender a pedir
perdão aos filhos, quando erramos.
As nossas filhas formam-nos cada dia, mas se nós ficamos só
na posição de autoritarismo, não aprendemos a ser um pai e uma mãe melhores.