O Padre Henri Cafarrel, fundador do Movimento das Equipas de
Nossa Senhora, no seu livro: “Espiritualidade Conjugal – uma palavra suspeita”;
reflecte sobre a oração conjugal que deve evoluir para a oração familiar. Aqui
fica esse tema.
O casal dispõe de um tempo privilegiado diariamente: a oração
conjugal. Contudo, para que esse tempo não seja abafado pelas muitas demandas
domésticas e pessoais, o casal precisa de se organizar dentro da rotina diária.
Talvez, não consigam fazer a oração conjugal todos os dias no mesmo horário. Às
vezes, será necessário adaptar o momento de oração com as realidades conjugais
e domésticas. Contudo, a oração conjugal deve ser diária e, se necessário,
adaptada à rotina do casal. A fidelidade para este momento é fundamental. Se o
casal teve uma sólida formação cristã no tempo do namoro, será mais fácil
inserir na vida conjugal este momento diário de oração. Mas, mesmo para aqueles
casais cuja formação cristã, enquanto eram solteiros, não foi suficientemente
profunda, estes poderão, com esforço e disciplina, incorporá-la ao seu novo
estado de vida.
O valor da oração conjugal
Para compreendermos o valor da oração conjugal é necessário,
antes, entender o valor do matrimónio cristão. O matrimónio não é apenas o dom
recíproco do homem e da mulher um ao outro, mas também o dom da consagração do
casal a Jesus Cristo. O Senhor está presente na vida deste casal que se deu a
Ele. Na vida matrimonial, há uma aliança entre Cristo e o casal. Não é unicamente
na oração conjugal que o casal louva o Pai, mas a oração conjugal constitui-se
um “tempo forte” onde os cônjuges louvam a Deus.
Quando Jesus une sacramentalmente o casal, Ele deseja
estabelecer na vida conjugal um “santuário”, uma Igreja Doméstica, que é o lar
cristão. Na vida do casal, para que a oração conjugal gere frutos é necessário,
em primeiro lugar, que os cônjuges estejam unidos espiritualmente. Todas as
divergências que possam estar enraizadas na alma de cada um deverão dissipar-se
para que a paz seja restabelecida. Perdoar-se mutuamente é essencial para que o
momento da oração conjugal seja uma acção interior de unidade do casal com
Deus, e não apenas um rito formal para cumprir uma obrigação diária.
Uma segunda disposição é a renovação da fé na presença de
Cristo na vida do casal. Foi Cristo quem os uniu, e o Senhor faz-se presente
junto deles na vida matrimonial. Unidos a Cristo, o casal é chamado a escutar o
Senhor. Isto significa que, toda a oração conjugal deve iniciar-se com a
leitura das Sagradas Escrituras, acompanhada de um tempo de silêncio e
meditação. Após ouvir o Senhor, o casal é chamado a falar com Ele, exprimindo
as suas necessidades, súplicas e louvores. Nada impede que o casal use orações
litúrgicas da Igreja. Contudo, estas não devem impedir que os cônjuges
expressem abertamente, ao Senhor, os anseios e louvores da sua vida conjugal.
Ser fiel ao exercício da oração conjugal
Embora a metodologia da oração conjugal seja extremamente
simples, muitos casais encontram dificuldades em realizá-la juntos ou, com o
passar do tempo, até mesmo a abandonam. Outros casais alegam que haja bloqueios
em se expressar a nível espiritual diante do seu cônjuge. Outros ainda apontam
a formação espiritual como dificuldade de conciliação no momento de orarem
juntos. A chave para estas questões será sempre a fidelidade a este tempo forte
na vida a dois.
Com o tempo e a prática, o casal irá descobrir que a comunhão
de vida que ambos vivenciam diariamente será o caminho para a quebra da timidez
e a unidade das diferentes formações espirituais que receberam ao longo da
vida. A oração conjugal é um tempo forte de intimidade do casal com o Senhor e
é um prolongamento do Sacramento do Matrimónio, o que auxilia a manter sempre
viva a chama da graça desta união. À medida que o casal avançar no exercício da
oração conjugal, irá colher os frutos desses tempos fortes na sua vida conjugal
e familiar.