Como explicar o luto às crianças Como explicar a uma criança que uma pessoa querida já não está entre nós? É preciso, antes de tudo, evitar que os pequenos possam sofrer um trauma. Resumidamente, pode-se afirmar que as crianças até três anos dificilmente fazem diferença entre coisas vivas e não vivas. Mas percebem bem a atmosfera e as emoções. Entre três e seis anos, a diferença entre a vida e a morte já é percebida, mas é difícil compreender o caráter definitivo da morte. Nesta idade, as crianças tendem a fazer muitas perguntas, entre elas a famosa “quando tal pessoa volta?”, como se a morte fosse um longo sonho ou umas férias. Dos seis aos nove anos, as crianças compreendem o caráter irreversível da morte, ainda que o conceito de “para sempre” seja difícil de digerir. Podem nascer sentimentos difíceis de administrar, como a insegurança, a ansiedade e, como defesa, as crianças tendem a negar a morte. Alguns conselhos práticos para quem se encontra nesta situação. 1 – Falar sobre o luto de maneira gradual Nenhum pai dirá brutalmente ao filho que ele não verá mais o avô ou a tia. É bom aproximar gradualmente a criança da verdade, caso ela ainda não conheça o conceito da morte. Disse o psicoterapeuta Fulvio Scaparro ao jornal Corriere della Sera: “Deve-se explicar, portanto, que o avô foi para uma longa viagem e que não voltaremos a vê-lo por muito tempo. Isso não quer dizer que tu estejas a mentr, mas a encarar o acontecimento da maneira e no tempo adequados. As crianças são muito práticas e perguntarão: ‘então, quem me vai levar ao parque? ’ Ao não ver mais o avô, elas habituar-se-ão à ausência. A criança crescerá e dará conta de que existem cerimónias de adeus para as pessoas queridas, os funerais” . 2 – Evitar chorar na presença das crianças As crianças são condicionadas às reações dos seus familiares. “Se encontrarem em casa um ambiente de pranto e desespero, elas também vão chorar, mas não porque estão chateadas pelo facto de o avô ter morrido, mas simplesmente porque os outros choram: elas vêem o mundo com os olhos de quem cuida delas e, mesmo que tu tenhas dado as explicações de esperança, a mensagem de desespero vai prevalecer”. 3 – Partilhar o sofrimento Não se deve esconder o sofrimento; pode-se, inclusive, partilhá-lo, mas da forma adequada, porque teremos crianças na frente e elas angustiam-se ao ver que não comemos ou que andamos sempre tristes e a chorar. São sinais que se vinculam à falta de esperança. Se a criança se entristece e diz: “sinto falta do papá”, é adequado partilhar, dizendo: “eu sei, eu entendo-te e também sinto falta dele”. Também é bom falar dele e recordar alguma história engraçada que eles viveram. 4 – O funeral “Em geral, as crianças podem assistir a um funeral, porque é um ritual importante para a separação. É um momento para se despedir da pessoa que elas amaram e com quem tiveram os primeiros contactos com a realidade”, sublinha o professor Fulvio Scaparro que, no entanto, adverte: “Efetivamente, se for um funeral em que são previstas cenas de desespero porque a morte foi imprevista, então é melhor deixar as crianças em casa. Se, ao contrário, é prevista uma grande tristeza, mas com atitude de compostura, sou a favor da participação dos pequenos, que podem ficar sob a responsabilidade de uma pessoa que não esteja tão envolvida no luto.” 5 – Explicar que a vida continua É importante transmitir às crianças a mensagem de que a vida continua e que momentos de felicidade ainda nos esperam. Não é preciso ser brusco; as referências dos ciclos da natureza como “as folhas das árvores caem e morrem, mas a árvore continua viva,” podem ajudar. Ou, quando houver maior consciência, podemos aproveitar a morte de uma planta ou de um animal para ensinarmos gradualmente o significado da morte. 6 – As lembranças sempre estarão vivas Scaparro prossegue: “O aspecto positivo a sublinhar é que não veremos mais o avô, mas as lembranças dele e os seus ensinamentos permanecerão para sempre conosco. Desta forma, ensinamos às crianças que quem morre sempre deixa algo. Falar, partilhar o sentimento de perda, ver fotos e lembrar um belo momento do avô com o filho ajudam no caminho da aceitação”. 7 – Suavizar a realidade Quando assistem aos desenhos animados, as crianças estão em contacto com a morte. Às vezes, comovem-se com a morte de um personagem. Neste caso, significa que elas se estão a tornar empáticas e se comovem profundamente. Quando uma criança disser: “um dia tu também não estarás mais aqui”, ela quer informar que entendeu a realidade da vida e leva em conta que um dia os pais também se vão. Em relação aos pais, convém suavizar o tema, sem contar mentiras. Pode-se dizer algo assim: “sim, nós também vamos morrer, mas não há pressa, queremos ficar mais um pouco neste mundo”. 8 – Dizer-lhes sempre a verdade Independentemente da estratégia usada na hora de explicar a morte às crianças, o importante é não ser evasivo diante das perguntas delas. Sejam perguntas secas, diretas ou implacáveis. Os pais não devem nunca responder com frases do tipo: “tu vais entender quando fores grande”, ou “esta é uma pergunta complicada agora, um dia falaremos sobre isto”. É necessário encontrar a maneira mais condizente com o estilo de pensar e com a extrema delicadeza de oferecer respostas exaustivas aos filhos. 9 – Crianças no cemitério Ir ao cemitério também é um gesto laico. As pessoas vão ao cemitério para manter viva a lembrança dos falecidos. Por isso, é aconselhável levar as crianças a partir dos três anos. Ir ao cemitério com a família dá a possibilidade de explicar às crianças onde o ente querido descansa, mesmo que tu digas: “neste momento, ele dorme aqui, mas está vivo conosco porque nós o mantemos vivo no pensamento e também quando o vamos visitar”. 10 – Elaboração do luto A psicóloga Francesca Broccoli explica: “cada criança encontrará o seu modo pessoal e específico para elaborar o luto. É extremamente importante preparar, acompanhar e apoiar a criança que está a enfrentar a morte de um parente”. Por quê? “Porque esta experiência representará um momento de aprendizagem fundamental e formará a base com que ela enfrentará as próximas experiências de perda durante a vida”.
Entre os nove e os 12 anos, os já pré-adolescentes sabem que aquilo que vive também pode morrer. No entanto, eles têm uma tendência a não solicitar muita atenção porque preferem viver sozinhos os seus desgostos e, assim, não parecerem infantis. Entretanto, pode acontecer que eles se façam “fortes”, construindo um muro entre eles e a dor, procurando esconder as suas emoções mais autênticas.