Banindo o mal do casamento
O homem que constrói a sua casa sobre a areia está condenado a vê-la desmoronar com a chegada da ventania e da tempestade. Infelizmente, os nossos lares deixaram de ser construídos na rocha: não são construídos em Deus.
O Senhor chama-nos a deixar a mentalidade que o mundo nos tem transmitido, para sermos reconstrutores desta arca da salvação, que é a família, em bases sólidas. Não mais construídas na areia, no egoísmo, mas reconstruídas no amor, em Deus. Isso significa doação, entrega, dor...
Não há acto de amor mais lindo do que gerar, mesmo quando isso nos faz sofrer. O amor é doloroso como um parto!
O Senhor convida-nos a ser construtores da nossa casa e, Ele próprio nos mostra os meios: a Palavra de Deus, a oração, os Mandamentos divinos, o sofrimento acolhido com amor, uma casa construída sobre a rocha.
Deus quer salvar-te e toda a sua família. Tu és o Noé que Deus escolheu para reconstruir a arca, que é a sua casa.
Experiência pastoral na Itália de separados fiéis ao matrimónio
«Quase uma vocação dentro da vocação matrimonial»
Reconstrução da pessoa que vive de forma aguda o sofrimento do repúdio, o perdão do cônjuge e a renovação do “sim” matrimonial a Deus». Estas são as etapas do caminho espiritual que um grupo de pessoas separadas que permanecem fiéis ao vínculo matrimonial percorre na arquidiocese italiana de Palermo.
A Comissão diocesana para a pastoral da família encarrega-se de dar acompanhamento a estes fiéis separados -que não iniciaram outra convivência - que buscam um caminho espiritual que tenha em conta a fidelidade à indissolubilidade matrimonial e ao sacramento que um dia receberam.
Trata-se do grupo Santa Maria de Caná, coordenado por Maria Pia Campanella, que na citada Comissão diocesana organizou no domingo passado uma jornada de reflexão e de oração - da qual se fez eco o jornal «Avvenire» - que finalizou com a Eucaristia e a «renovação do sim».
«Ainda que o casal viva separado, a indissolubilidade dá ao cônjuge fiel a graça necessária para continuar cumprindo a missão do matrimónio: a santificação do cônjuge e a própria».
Foi um caminho desejado por Maria Pia Campanella, que nos últimos anos viajou pela Itália e em algumas ocasiões fora do país, para conhecer o que a Igreja propõe aos separados que não têm intenção de iniciar outro vínculo de casal.
«Estou casada desde 1968 e vivo separada desde 1990 - conta a senhora Companella, de 62 anos, docente aposentada com três filhos adultos -. Apesar da grande dor, entendi imediatamente que não tentaria “refazer minha vida”, como se diz. Contudo, buscava o sentido de meu sofrimento».
«O que verdadeiramente me sustentou foi a frequência quotidiana na Eucaristia, a Palavra de Deus lida a cada dia e a oração pessoal que elevava a Deus desde meu coração ferido. A isto acrescentava a leitura dos documentos da Igreja sobre o matrimónio, tentando compreender que sentido tinha a indissolubilidade na separação conjugal».
Buscando um itinerário específico, a senhora Campanella percebeu que quase nunca os grupos de pastoral para os separados se orientavam a quem não se tivesse voltado a casar, quase nunca oferecem meditações sobre o sacramento do matrimónio.
«Fala-se do tema sempre com incómodo», observa. Daí a eleição, guiada pelo bispo auxiliar de Palermo, Dom Salvatore Di Cristina, de pôr em andamento um grupo de cônjuges fiéis ao sacramento do matrimónio.
«O grupo não reúne só para orar, mas tenta valorizar o matrimónio-sacramento e aprofundar no sentido da indissolubilidade na situação de separação conjugal».
«As etapas do caminho são a reconstrução da pessoa que vive de forma aguda o sofrimento do repúdio, o perdão do cônjuge e a renovação do “sim” matrimonial a Deus. A ferida existe, mas é importante que não se converta em praga ou em gangrena», explica.
«Há que ajudar estas pessoas a introduzi-las na vida comunitária. É interessante este caminho de espiritualidade, para que quem forma parte dele possa apoiar-se mutuamente no consolo. É uma comunhão de esperança, quase uma vocação dentro da vocação matrimonial. É a demonstração de que o sacramento do matrimónio é duradouro, porque reflecte a fidelidade de Deus, que não se arrepende nunca do amor que dá».