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O obstáculo à Santidade

Procurar a santidade é lutar contra o pecado, pois ele é a grande muralha que nos separa de Deus e nos impede de sermos santos.

O Catecismo da Igreja Católica diz, sobre a gravidade do pecado:
"Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado, e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro" (N. 1488).
Deus disse a Santa Catarina de Sena: "O pecado priva o homem de Mim, sumo Bem, ao tirar-lhe a graça". São Paulo é muito claro: "O salário do pecado é a morte" (Rom 6,23). Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é consequência do pecado, que começou com Adão. Diz o Apóstolo: "Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rom 5,12). Toda a razão de ser da Encarnação do Verbo foi para destruir, na sua carne, a escravidão do pecado. "Como imperou o pecado na morte, assim também imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rom 5,21).
O demónio escravizou a humanidade com a corrente do pecado. Jesus veio exactamente para quebrar esta corrente. São João deixa bem claro na sua carta:
"Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados" (1Jo 3,5). "Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3,8).
Esta "obra do diabo" é exactamente o pecado, que nos separa da intimidade e da comunhão com Deus, e nos rouba a santidade. Esta implica, portanto, no "rompimento com o pecado" e na observância da lei de Deus, por amor a Deus que nos redimiu.
Com a sua morte e ressurreição triunfante Jesus nos libertou das cadeias do pecado e, pela sua graça podemos agora viver uma nova vida. É o que São Paulo ensina na carta aos colossenses: "Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Col 3,1). Aos romanos ele garante que "já não pesa mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte" (Rom 8,1). Aos gálatas o Apóstolo diz: "É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão" (Gal 5,1).
A respeito disso, diz Santa Catarina de Sena: "Tão grande é a liberdade humana, de tal modo ficou fortalecida pelo precioso sangue de Cristo, que demónio ou criatura alguma pode obrigar alguém à menor culpa, contra o seu parecer. Acabou-se a escravidão, o homem ficou livre".
A vitória contra o pecado custou a vida do Cordeiro de Deus. Assim São João Batista O apresentou: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29).
Todos aqueles que querem dar outro sentido à vida de Jesus, que não o daquele que "tira o pecado do mundo", esvaziam a sua Pessoa, a sua missão e a missão da Igreja. A partir daí a fé é esvaziada e toda a "sã doutrina" é pervertida. Daí, por exemplo, o perigo da teologia da libertação, que, na sua essência, substitui o Cristo Redentor do pecado, por um Cristo apenas libertador dos males sociais. Os judeus não reconheceram Jesus como o Cristo de Deus, exactamente porque esperavam um Messias libertador político. Quando Jesus se apresentou como "Aquele que tira o pecado do mundo", com o sacrifício de si mesmo, se escandalizaram e o pregaram na cruz como um farsante. Assim como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da Igreja, que é o seu Corpo místico, a sua continuação na história, é também libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso a Igreja se esvazia e não cumpre o seu papel dado pelo Senhor.
Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, ensina-nos que: "Ao revoltar-se contra Deus, o homem criou a rebelião dentro de si. Em consequência da perda do estado de inocência, a carne rebelou-se contra o espírito".
Embora o Baptismo elimine o pecado original, as suas sequelas continuam em nós: os sofrimentos, a doença, a morte, a propensão ao pecado (concupiscência - "fomes peccati"). O Concílio de Trento, o mais longo da história da Igreja (1545-1563), ensina-nos que:
"Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo." Mais ainda: "aquele que tiver combatido segundo as regras será coroado (2Tm 2,5)" (CIC nº 405,1264). Sabemos que o Baptismo não só nos purifica de todos os pecados, como também faz-nos "uma criatura nova" (2 Cor 5,17), um adoptivo de Deus, "participante da natureza divina" (2 Pe 1,4), "membro de Cristo" (1 Cor 12,27), "co-herdeiro" com ele (Rom 8,17), "templo do Espírito Santo" (1 Cor 6,19). Além disso, o Catecismo da Igreja nos ensina que, pelo Baptismo, a Santíssima Trindade dá ao batizado a "graça santificante", e a "graça da justificação", abre-o para as "actividades teologais" (fé, esperança e caridade), para os dons do Espírito Santo (temor de Deus, sabedoria, ciência, entendimento, conselho, fortaleza e piedade) e permite-lhe crescer no bem pelas "virtudes morais" (CIC nº 1266).
Santo Agostinho entendia que a permanência, da concupiscência em nós, mesmo após o Baptismo, é uma maneira que temos de provar a Deus o nosso amor a Ele, lutando contra o pecado, por amor ao Senhor. É sobretudo, no rompimento radical com o pecado que damos a Deus a prova real do nosso amor a Ele. Jesus disse aos apóstolos na última Ceia: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14,15). Guardar os mandamentos é a prova do amor para com Jesus. Quem obedece aos seus mandamentos não peca.
Jesus retomou os Dez Mandamentos que há mil anos antes Deus já tinha dado a Moisés, e levou-os à plenitude no Sermão da Montanha. Quando aquele jovem perguntou-lhe: "Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?" (Mt 19,16), Jesus respondeu dizendo: "Se queres entrar na vida guarda os mandamentos"; e fez questão de citá-los: "não matarás, não adulterás, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra pai e mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo" (Dt 5,16,20; Lv 19,18).
Os Dez Mandamentos são a salvaguarda contra o pecado. Por isso o primeiro compromisso de quem almeja a santidade deve ser o compromisso de viver, na íntegra, os Mandamentos.
Deus deu a Moisés duas pedras, contendo as "Dez Palavras", os Dez Mandamentos. Na primeira estavam aqueles que se referem ao amor a Deus (1º, 2º e 3º); e na segunda, aqueles que se referem ao amor ao próximo (4º ao 10º). Ao levá-los à perfeição Jesus enfatizou a sua essência: "o amor a Deus e o amor ao próximo". É por esse duplo amor que deixamos o pecado. Só esse amor entranhado a Deus e a cada pessoa, filho amado de Deus, imagem e semelhança de Deus – é que nos dará a motivação necessária para viver na Lei de Deus, romper com o pecado e chegar à santidade. Santo Agostinho dizia que essas são as duas asas que Deus nos deu para voar alto e chegar aos céus, o amor a Deus e o amor ao próximo.
Quando aquele fariseu, doutor da lei, fez a Jesus a pergunta: "Mestre, qual é o maior mandamento da lei?", então, o Senhor, com a sua resposta revelou-nos a "essência" da Lei:
"Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito (Deut 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lev 19,18)".
E Jesus não tem dúvida em acrescentar que: "Nestes dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas" (Mt 22,34-40).
Os Mandamentos nos ajudam a compreender e a viver este amor a Deus e aos irmãos, que nos levam à santidade e ao rompimento com a desordem, como Santo Agostinho chamava o pecado.
Se ainda pecamos, se ainda não somos santos, é porque ainda o amor a Deus e ao próximo não atingiu a sua plenitude em nós; pois, a santidade é uma história de amor.
Para compreendermos toda a hediondez do pecado, toda a sua feiura e maldade, temos que contemplar cuidadosamente Jesus crucificado. Este foi o preço que Ele pagou para tirar o pecado do mundo. Somente contemplando demoradamente as chagas do nosso divino Redentor, a sua coroa de espinhos, os seus açoites, os seus cravos, as suas feridas... é que poderemos ter em conta toda a tristeza que o pecado representa. A carta aos Hebreus chega a dizer-nos: "Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado".
(Hb 12,4). Nesta luta é preciso chegar até ao sangue, se for preciso, como Jesus fez.

 

 

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