1. Domingo de Ramos
O Vaticano II restaurou a ordem dos domingos da quaresma. De facto, na Segunda metade do século VII, o quinto domingo da Quaresma começou a chamar-se primeiro domingo da Paixão ou Domingo de Ramos. O Vaticano II recolocou em vigor o quinto Domingo da Quaresma antes da Páscoa: chama-se agora “Domenica in Palmis de Passione Domini”. Estas modificações na liturgia deste Domingo suscitam um problema antigo. A Antiga tradição romana celebrava antes de tudo a Paixão do Senhor, no Domingo antecedente à Páscoa. Na lógica dos factos ocorridos, seria melhor celebrar apenas a entrada do Senhor em Jerusalém, como se fazia na Espanha, na Gália e no Oriente. Em Roma, as comunidades estavam afeiçoadas à celebração do Domingo da Paixão também a entrada de Jesus em Jerusalém.
A reforma do Vaticano II prevê três tipos de celebração da entrada de Jesus em Jerusalém:
a) A primeira forma consiste numa procissão que vem de fora e tem como ponto de partida um lugar de reunião dos fiéis, fora da igreja. A celebração inicia-se com um cântico, por exemplo, Hosana ao filho de David. O celebrante saúda os presentes e convida-os a participar activamente da celebração, dando significado ao que se recorda e se quer actualizar hoje.
Há a proclamação do evangelho que conta a entrada de Jesus em Jerusalém e inicia-se a procissão para a igreja. Chegando ao altar, que pode ser incensado, omite-se o rito de introdução e diz-se a oração da missa. O sacerdote, desde o início da celebração, deve usar paramentos de cor vermelha e não mais roxa.
b) A Segunda forma tem como cenário a própria igreja. Há uma entrada solene, os fiéis estão reunidos diante da porta da igreja, tendo nas mãos ramos de oliveira ou de palmeira. Benzem-se os ramos, proclama-se o evangelho. Tudo se faz num local apropriado no corpo da igreja e, depois, o celebrante dirige-se ao cadeirão, onde reza a colecta da missa.
c) A terceira forma é mais simples e consiste num canto de entrada que comemora a entrada de Jesus em Jerusalém. Onde não se puder realizar nem a procissão nem a entrada solene na Igreja, pede-se que se faça uma celebração da palavra que recorde o episódio da vida de Jesus que se quer comemorar.
2. A manhã da Quinta-feira Santa
O Vaticano II introduz algumas modificações na reforma litúrgica de 1955. A bênção dos santos Óleos e a consagração do Crisma são ocasião para reunir o clero em torno do bispo. Assim, Quinta-feira Santa torna-se um dia sacerdotal, com a renovação das promessas próprias dos sacerdotes, durante a missa crismal. E a concelebração durante a ceia vespertina é um sinal da unidade do sacerdócio.
Hoje é muito importante que a missa do Crisma não seja celebrada apenas pelo bispo e pelo clero, mas se dê a todos a oportunidade de solenizar o sacerdócio comum dos fiéis, valorizando o ministério ordenado e os outros ministérios da Igreja. Devido às dificuldades em participar de duas celebrações no mesmo dia, uma de manhã e outra à noite, a celebração do Crisma pode ser antecipada para outro dia próximo da Páscoa.
3. A tarde da Quinta-feira Santa
A Quinta-feira Santa é um dia de Alegria, Amor e Gratidão. Recorda-se o exemplo de Jesus que quis lavar os pés dos discípulos, dando-nos o testemunho de serviço e humildade. Recorda-se principalmente a celebração da Ceia do Senhor, na qual Ele se dá como pão da Vida e Vinho da Salvação. Foi nessa ceia de despedida que ele nos deixou o sacerdócio ministral, para a perpetuação de seu Corpo e Sangue no meio de nós como Presença de Compromisso, Partilha e Missão.
4. Segunda, terça e quarta-feira da semana santa
A ideia central destes três dias da Semana Santa resume-se nas Palavras do Prefácio da Paixão II: “Já se aproximam os dias da sua Paixão salvadora e Ressurreição Gloriosa, pelos quais é vencida a soberba do antigo inimigo e se faz memória do Sacramento da nossa redenção”.
As leituras do profeta Isaías continuam a apresentar os cânticos do Servo de Javé, descrevendo Jesus Cristo na sua missão de Messias Redentor.
Os evangelhos retomam cronologicamente os últimos acontecimentos da vida de Jesus, deixando clara a posição de Judas Iscariotes como ladrão ganancioso, traidor e covarde.
Ele representa o inimigo, dominado pelo mal. Ele é a expressão do mundo das trevas. Representa o inimigo maior que persegue o justo. Isto notamos nas antífonas e salmos das liturgias.
As orações das colectas, orações sobre as oferendas e de acção de graças lembram os méritos da Paixão como remédio, fonte de vida eterna, perdão, graça da ressurreição e esperança da vida eterna. A Paixão de Cristo, a sua morte que celebramos, não são lembranças de um facto passado, mas da vida em plenitude. Na Quarta-feira faz-se aceno à ressurreição. Toda a celebração culmina sempre na esperança e certeza da ressurreição, meta de todo o Mistério Pascal de Jesus.
Note-se que há uma ligação com Pedro, o discípulo que segue Jesus de perto, passando pelo sofrimento que ele passou. É a imagem do discípulo fiel e fraco que merece da parte de Jesus esta palavra: satanás pediu insistentemente para peneirar-te como trigo, mas eu orei para que a tua fé não desfaleça. Estas lembranças de Pedro provêm das diversas Igrejas de Roma, onde se fazem as Estações nestes dias.
5. Tríduo pascal
Chegámos ao ponto culminante de toda a liturgia da Igreja. É o Tríduo Pascal. Não se trata de um Tríduo preparatório para a festa da Páscoa, mas são três dias de Cristo Crucificado, morto e ressuscitado. Tem início na celebração da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, na missa vespertina, terminando com o Domingo de Páscoa.
Estas celebrações não são mais do que uma lembrança do passado. Não têm a finalidade de contar a história, mas tornar presente, actualizar, tornar vivo o mistério da Cristo, que se entrega ao Pai por nós, e fazer-nos participantes deste seu dom, vida e comunhão com o Pai. Celebrando, vivemos tudo aquilo que fazemos através dos ritos celebrados. A Palavra de Deus anuncia a Salvação presente e os sinais sacramentais tornam presente ao cristão esta salvação. Cada cristão é convocado a participar activamente das celebrações, conhecendo e sabendo o Dom oferecido pela participação. Na oração, meditação da Palavra, na fraternidade celebrativa, no esforço de entrar em comunhão com Cristo sofredor e ressuscitado, chegaremos ao que a Igreja nos propõe: renovados pelos sacramentos pascais, possamos chegar à glória da ressurreição. A melhor maneira de celebrar o Tríduo Pascal é a participação atenta nas leituras, que proclamam o mistério da salvação presente e a comunhão com os símbolos e ritos realizados, não só com o corpo, mas com o coração cheio de fé.