Página Eucarística
O soldado que recebeu Deus antes de enfrentar a morte
- 13-09-2022
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Na igreja de São Pedro e São Paulo, em Lviv, Ucrânia, o soldado fardado Viacheslav recebeu os sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia, antes de partir para a guerra.
É um pedreiro, órfão, da cidade de Mykolayiv, a 700 quilómetros
de Lviv, a cidade marcada pelo catolicismo.
Morava no sétimo andar de um prédio popular quando as bombas
russas o fizeram tremer.
Ele queria entrar no exército na sua cidade, mas não havia
vaga. Então viajou até Lviv levando a sua jovem mulher e filho, pensando em os
deixar na fronteira da Polónia antes de partir para o combate.
Neste meio tempo um vizinho enviou-lhe uma foto pelo
telemóvel mostrando que o seu monobloco tinha sido arrasado pelos ataques
russos e a sua casa ficou calcinada.
A sua decisão permaneceu imutável.
Os dois padrinhos da cerimónia de Viacheslav foram dois
militares fardados.
O capelão militar ungiu-o com o óleo bento na mão primeiro,
na testa depois, para que a tua mente “consiga compreender e aceitar os
sacramentos da vida cristã”.
Depois, no peito, “para que ames a Deus com o coração”; nos
ombros, “para que carregues com alegria e amor a cruz do Senhor”; nos ouvidos,
“para que possas acolher e ouvir a voz do Evangelho”; nas mãos, “para que faças
o que é justo para Deus”; e nos pés, “para que andes nas pegadas de Cristo”.
O sacerdote fez o mesmo com a água benta e colocou nos ombros
de Viacheslav um manto feito à mão, tipicamente ucraniano, símbolo da mudança
de pele, da passagem de uma roupa de pecado para outra, livre de pecado.
Recebeu uma vela acesa, símbolo “da luz de Cristo que agora
ilumina a sua vida” e um exemplar do Evangelho.
A seguir fez a sua Primeira Comunhão.
A igreja estava cheia de fiéis que foram rezar por razões
pessoais e alguns choravam de emoção.
Na primeira fila estava Katarina, a esposa de Viacheslav, o
filho do casal Stanislaw, de 6 anos,a
sua irmã Olga e outros parentes que também tinham fugido
providencialmente da bombardeada Mykolayiv.
Viacheslav usou sempre um terço no pescoço durante as
cerimónias. No fim tirou-o e impô-lo no seu filho, que não sabia se o voltaria
a ver.
Sem dúvida o pequeno Stanislaw nunca mais esquecerá este
momento. O pai tinha mais um terço que colocou nele para que nunca lhe falte a
protecção do céu.
Katarina, a esposa de
32 anos, chapéu de lã e casaco azul claro, longos cabelos loiros e olhos
resignados, explicou: “o meu marido, desde o início da guerra, a única coisa
que queria era juntar-se às fileiras do nosso exército para combater o inimigo
e defender a nossa terra”.
Daí a pouco partiria para o exílio na Europa, porque “quando
estivermos lá fora, o meu marido vai conseguir ficar mais tranquilo na hora de
ir para a frente”.
Ela trabalhava numa base de reparo de aeronaves do Ministério
da Defesa de Mykolayiv, que também foi alvo da artilharia russa.
Katarina suspirava enquanto prosseguia: “o irmão dele, meu
cunhado, também se inscreveu e já está na frente. Ele também quer ir para a
frente e eu entendo isto. Quem nos vai defender da invasão russa, se não Deus?”,
perguntou.
“Desde o primeiro dia, Viacheslav quis se alistar para
defender a sua pátria. Está no coração dele”, acrescentou.
O que disse Viacheslav ao filho quando lhe colocava o Terço
no pescoço?
“Eu não lhe disse que vou para a guerra, mas que vou
trabalhar”, respondeu com os olhos húmidos.
Não tem medo de morrer? “Todos nós, responde, mais cedo ou
mais tarde, temos que morrer, é o Senhor quem decide. E agora sinto-me em paz
porque estou nas mãos de Deus”, garantiu o novo soldado de Cristo.
E o que acha desta guerra? “Isto vai continuar enquanto Putin
estiver no comando. Mas acho que vamos vencer. Estou convencido”.
Incontáveis episódios comovedores como este fazem a grandeza
de um povo, garantem o seu futuro e, o que é mais importante, a bênção de Deus
e de Maria Santíssima. E permanecem para toda a eternidade em quem a recebe.