Espiritualidade
Somos feitos pouco menos que um Deus, somos coroados de honra e glória
- 26-06-2020
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Deus, com a sua palavra, chama à vida, e tudo começa a
existir. Com a palavra, separa a luz das trevas, alterna o dia e a noite,
alterna as estações, abre um leque de cores com variedade de plantas e animais.
Nesta floresta transbordante que vence rapidamente o caos, o
homem aparece por último. Essa aparição provoca um excesso de exultação que
amplifica a satisfação e alegria: «Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era
muito bom».
A beleza e o mistério da Criação geram no coração do homem o primeiro
movimento que desperta a oração.
Diz o Salmo 8: «Quando contemplo o céu, obra das tuas mãos, a
lua e as estrelas que lá fixaste… O que é o homem, para dele te lembrares? O
ser humano, para que o visites»?
A pessoa que reza contempla o mistério da existência ao seu
redor, vê o céu estrelado que lhe é superior, e que a astrofísica nos mostra
hoje em toda a sua imensidão, e se pergunta que desígnio de amor deve estar por
detrás de uma obra tão poderosa!
Apesar do ser humano ser muito pouco perante a imensidão do
universo, ele é o único ser consciente de tamanha beleza.
Nesta vastidão sem limites, o que é o homem? “Quase nada”,
diz outro Salmo: um ser que nasce, um ser que morre, uma criatura muito frágil.
No entanto, em todo o universo, o ser humano é a única criatura consciente desta
profusão de beleza. Um pequeno ser que nasce, morre, hoje existe, amanhã não se
sabe… mas é o único consciente. Somos nós, conscientes dessa beleza.
A oração do ser humano está estritamente ligada ao sentimento
de estupor”. “A grandeza do homem é infinitamente pequena quando comparada ao
tamanho do universo.”
Nada existe por acaso: o segredo do universo está num olhar
benevolente que alguém encontra em nossos olhos.
O Salmo afirma que somos feitos pouco menos que um Deus,
somos coroados de glória e honra. A relação com Deus é a grandeza do homem: a
sua entronização. Por natureza, somos quase nada, pequenos, mas por vocação,
pelo chamamento, somos filhos do grande Rei.
É uma experiência que muitos de nós já fizemos. Se a
vicissitude da vida, com toda as suas amarguras, às vezes corre o risco de
sufocar em nós o dom da oração, basta a contemplação de um céu estrelado, de um
pôr do sol, de uma flor…, para reacender a centelha da gratidão. Esta
experiência é talvez a base da primeira página da Bíblia.
Quando foi redigida a grande narração bíblica da Criação, o
povo de Israel não estava a passar por dias felizes. Um poder inimigo tinha
ocupado a terra; muitos foram deportados e eles tornaram-se escravos na
Mesopotâmia. Não havia mais pátria, templo, vida social e religiosa, nada.
E foi partindo da grande história da Criação, que alguém
começou a encontrar motivos para agradecer, para louvar a Deus pela existência.
A oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a
esperança cresce, vai adiante. Eu diria que a oração abre a porta à esperança.
A esperança está aí, mas com a minha oração abro a porta.
Os homens de oração protegem as verdades básicas; são eles
que repetem, primeiramente a si mesmos e depois a todos os outros, que esta
vida, apesar de todos os seus esforços e provações, apesar dos seus dias
difíceis, é cheia de uma graça pela qual se maravilhar. E, como tal, deve
sempre ser defendida e protegida.
Os homens e mulheres que rezam sabem que a esperança é mais
forte que o desânimo. Eles acreditam que o amor é mais forte do que a morte e
que certamente triunfará um dia, nos tempos e modos que não conhecemos.
Os homens e mulheres de oração carregam reflexos de luz nos
seus rostos, pois, mesmo nos dias mais sombrios, o sol não deixa de os
iluminar. A oração ilumina-o, ilumina a sua alma, ilumina o seu coração e
ilumina o seu rosto. Mesmo nos tempos mais sombrios, mesmo nos tempos de mais
dor.
Todos somos portadores de alegria. Já pensaste nisto? Que tu
és um portador de alegria? Ou preferes levar más notícias, coisas que
entristecem? Todos somos capazes de levar alegria.
Esta vida é o presente que Deus nos deu, muito curta para a
desperdiçar na tristeza, na amargura.
Louvemos a Deus, felizes simplesmente por existir. Somos os
filhos do grande Rei, do Criador, capazes de ler a sua assinatura em toda a
criação. Aquela criação que hoje não protegemos, mas nesta criação há a
assinatura de Deus que a fez por amor. Que o Senhor nos faça entender isto mais
profundamente e nos leve a dizer “obrigado”. Este “obrigado” é uma oração
bonita.