Espiritualidade
São Francisco curou miraculosamente um leproso de alma e corpo; e o que a alma lhe disse ao subir ao céu
- 27-04-2024
- Visualizações: 89
- Imprimir
- Enviar por email
São Francisco, vivendo nesta miserável vida, com todo o seu
esforço empenhava-se em seguir a Cristo perfeito mestre.
De onde advinha frequentes vezes, por divina inspiração, que,
de quem ele sarava o corpo, Deus na mesma hora lhe sarava a alma, como se lê de
Cristo.
Pelo que servia não só voluntariamente os leprosos, mas havia
também ordenado que os frades da sua Ordem, andando ou parando pelo mundo,
servissem os leprosos pelo amor de Cristo, o qual quis por nós ser considerado
leproso.
Adveio num lugar próximo àquele em que morava São Francisco,
servirem os frades num hospital leprosos e enfermos, no qual havia um leproso
tão impaciente e insuportável e arrogante que cada um acreditava certamente, e
assim o era, estar possuído pelo demónio.
Porque aviltava com palavras e pancadas tão cruelmente a quem
o servisse, e, o que era pior, com ultrajes blasfemava contra Cristo bendito e
sua Santíssima Mãe, a Virgem Maria, que por nenhum preço se encontrava quem o
pudesse ou quisesse servir.
E ainda que os frades procurassem suportar pacientemente as
injúrias e vilanias para aumentar o mérito da paciência, não podiam em sua
consciência sofrer aquelas que eram contra Cristo e sua mãe, resolvendo por
isso abandonar o dito leproso.
Mas não o quiseram fazer sem falar antes, conforme a Regra,
com São Francisco, o qual vivia então num convento próximo dali.
E tendo-lho explicado, São Francisco foi procurar aquele leproso
perverso; e aproximando-se dele, saúda-o, dizendo: “Deus te dê a paz, irmão meu
caríssimo”.
Respondeu o leproso com arrebatamento: “E que paz posso ter
eu de Deus que me tirou a paz e todos os bens e me fez todo podre e asqueroso?”
E São Francisco disse: “Filho, tem paciência; porque as
enfermidades do corpo nos são dadas por Deus neste mundo para a salvação da
alma, pois são de grande mérito quando suportadas em paz”.
Responde o enfermo: “E como posso suportar com paciência o
tormento contínuo que me aflige de dia e de noite? E não somente me aflige essa
enfermidade, mas muito pior fazem os teus frades que me deste para me servir, e
não me servem como devem”.
Então São Francisco, conhecendo pela divina revelação que
este leproso estava possuído do espírito mau, foi e pôs-se em oração e suplicou
devotamente a Deus por ele.
E terminada a oração, volta a ele e diz-lhe: “Filho, quero
servir-te eu, porque não estás contente com os outros”.
“Está bem, disse o
enfermo; que me podes fazer mais do que os outros?”
Responde São Francisco: “Farei o que quiseres”.
Disse o leproso: “Quero que me laves todo o corpo; porque
tenho cheiro tão ruim, que nem mesmo eu me posso suportar”.
Então São Francisco mandou ferver água com muitas ervas
aromáticas: depois lhe tirar a roupa e começa a lavá-lo com as suas mãos,
enquanto outro irmão lhe punha água em cima.
E por divino milagre, onde São Francisco tocava com as suas
mãos, desaparecia a lepra e a carne ficava perfeitamente curada.
E quando começou a carne a sarar, também começou a alma a
sarar; donde o leproso, vendo-se começar a curar, começou a ter grande
compunção e arrependimento dos seus pecados e a chorar amargamente: de modo
que, enquanto o corpo se limpava por fora da lepra pela lavagem com água, a
alma se limpava por dentro do pecado pela contrição e pelas lágrimas.
E ficando completamente sarado quanto ao corpo e quanto à
alma, humildemente reconheceu a sua culpa e disse chorando em alta voz:
“Ai de mim, que sou
digno do inferno pelas vilanias e injúrias que fiz e disse aos frades e pela
impaciência e pelas blasfêmias que disse contra Deus”.
E esteve durante quinze dias em amargo pranto pelos seus
pecados e em pedir misericórdia a Deus, confessando-se ao padre, inteiramente.
E São Francisco, vendo um milagre tão expressivo, que Deus
tinha operado pelas mãos dele, agradeceu a Deus e partiu, indo daí a terras
muito distantes: porque era humildade e queria fugir de toda a glória humana, e
em todas as suas operações só procurava a honra e a glória de Deus e não a
própria.
Pois, como foi do agrado de Deus, o dito leproso, curado do
corpo e da alma, após quinze dias de penitência, enfermou de outra enfermidade:
e armado com os santos sacramentos da santa madre Igreja, morreu santamente; e
a sua alma, indo ao paraíso, apareceu nos ares a São Francisco, que estava numa
selva em oração, e disse-lhe:
- “Reconheces-me?”
- “Quem és?”, disse São Francisco.
E ele disse: “Sou o leproso que Cristo bendito sarou pelos
teus méritos, e hoje vou para a vida eterna, pelo que dou graças a Deus e a ti.
Bendito sejam a tua alma e o teu corpo e benditas as tuas palavras e obras:
porque por ti muitas almas se salvarão no mundo: e saibas que não há dia no
mundo em que os santos Anjos e os outros santos não dêem graças a Deus pelos
santos frutos que tu e a tua Ordem fazeis em diversas partes do mundo: e,
portanto, toma coragem e agradece a Deus e fica com a sua bênção”.
Ditas estas palavras, subiu para o céu; e São Francisco ficou
muito consolado.