Curiosidades
Uma carta da Irmã Lúcia, sobre a grandiosidade do Santo Terço
- 04-10-2021
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"Nestes tempos de desorientação diabólica, nos não
deixemos enganar por falsas doutrinas".
O texto seguinte foi escrito pela Irmã Lúcia. Ele trata da
natureza e da recitação do Terço e faz parte de uma colecção de excertos de
cartas escritas por ela entre 1969 e 1971.
Coimbra, 4 de Dezembro de 1970
Querida Maria Teresa,
Pax Christi,
A nossa Madre recebeu a sua carta e pede desculpa de não
responder pessoalmente; mas não lhe é possível neste momento, em que está com
tanto que fazer por causa da próxima fundação do novo Carmelo de Braga. Por
isso, entregou-me a carta para que responda eu. É o que venho fazer.
A nossa Madre não pode dar a licença que a Maria Teresa
deseja. Mas também não é necessária. Eu não devo nem posso pôr-me em evidência.
Devo permanecer em silêncio, na oração e na penitência. É a maneira como melhor
posso e devo auxiliar. É preciso que todo o apostolado tenha, como base, este
fundamento; e esta é a parte que o Senhor escolheu para mim; orar e
sacrificar-me pelos que lutam e trabalham na vinha do Senhor e pela extensão do
seu Reino.
É por isso que o meu nome não deve aparecer. Em vez dele, é
muito mais eficaz que se sirva do Nome de Nossa Senhora, sugerindo o movimento
como “Cumprimento” da Mensagem, apresentando como argumento a insistência com
que Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias,
repetindo o mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que,
nestes tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas
doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da oração.
Por certo, não é preciso rezar o Terço durante a celebração
do Santo Sacrifício da Missa: tempo deve haver para a Santa Missa e tempo para
rezar o Terço: Podemos e devemos tomar parte numa coisa sem deixar a outra. O
Terço é, para a maioria das almas que vivem no mundo, como que o pão espiritual
de cada dia; e privá-las ou tirar-lhes esta oração, isto é, diminuir nos
espíritos o apreço e a boa fé com que a rezavam, é, na parte espiritual, o
mesmo ou mais ainda; tanto mais quanto a parte espiritual é superior à
material. Digo: É como se na parte material privassem as pessoas do pão
necessário à vida física.
Infelizmente, o povo, na sua maioria, em matéria religiosa, é
ignorante e deixa-se arrastar por onde o levam. Daí, a grande responsabilidade
de quem tem a seu cargo conduzi-lo; e todos nós somos condutores uns dos
outros, porque todos temos o dever de ajudar-nos mutuamente, e andar pelo bom
caminho.
Além do que tenho dito, será bom que à oração do Terço se dê
um sentido mais real que aquele que se lhe tem dado, até aqui, de simples
oração “mariana”. Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem
parte da Sagrada Liturgia; e, mais do que uma oração dirigida a Maria, é
dirigida a Deus:
— O Pai-Nosso foi-nos ensinado por Jesus Cristo, dizendo:
“Rezai, pois, assim: Pai Nosso, que estais nos Céus…”
— “Glória ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo …” é o hino que
cantaram os Anjos enviados por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo,
Deus feito homem.
— A Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração
dirigida a Deus: “Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum“: Eu te saúdo, Maria,
porque contigo está o Senhor! Estas palavras são, com certeza, ditadas pelo Pai
ao Anjo, quando o enviou à terra, para que com elas saudasse Maria. Sim! O Anjo
veio dizer, a Maria, que ela era cheia de Graça não por ela, mas porque com ela
estava o Senhor!
— “Bendita sois vós entre as mulheres e Bendito é o fruto do
vosso ventre, Jesus”: Estas palavras, com que Isabel saudou Maria, foram-lhe
ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o Evangelista: “Ao ouvir Isabel a saudação
de Maria, … ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: Bendita és
tu entre as mulheres e Bendito é o fruto do teu ventre”. Sim! Porque esse fruto
é Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem!
Assim, esta saudação é um louvor a Deus: És bendita entre as
mulheres, porque é Bendito o fruto do teu ventre; e porque tu és a Mãe de Deus
feito homem, em Ti adoramos a Deus como no primeiro Sacrário, no qual o Pai
encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o teu Regaço; primeira Custódia, os teus
braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os pastores e os reis, para
adorar o Filho de Deus feito homem! E porque tu, ó Maria, és o primeiro Templo
vivo da Santíssima Trindade, onde mora o Pai, o Filho e o Espírito Santo; “o
Espírito virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra.
Por isso mesmo é que o Santo, que vai nascer, há-de chamar-se Filho de Deus”
(Lc. 1, 35). E, já que és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada
permanente da Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa, “roga por nós,
pobres pecadores, agora e na hora da nossa morte”.
Quem poderá negar que isto é uma oração e um louvor dirigido
a Deus?! Será mais que para dirigir a Deus os nossos louvores, as nossas
adorações, as súplicas, nos ajoelhemos diante de altares de madeira, pedra ou
metal, ou de custódias douradas, insensíveis, incapazes de rogar por nós?!
Certo é que São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do
Pai. Sim! Como Deus, há um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede
que roguem por ele e recomenda que roguemos uns pelos outros. Poderia, então, o
Apóstolo não crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus como a
nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as almas! É
preciso fazer-lhe frente; e para isso pode servir-se do que aqui lhe digo.
Talvez também fosse bom apresentar a campanha, não só como
cumprimento da Mensagem, mas também como campanha de oração e penitência pela
paz do Mundo. E que Portugal, que é tão devoto da Eucaristia e de Maria, seja o
primeiro a reconhecer que a oração do Terço não é somente uma oração Mariana,
mas também, Eucarística. E, por isso, nada deve impedir que se possa rezar
diante do Santíssimo Sacramento. Em prova disto está que o Santo Padre Pio XI
tenha concedido indulgência plenária a quem rezasse o Terço diante do
Santíssimo; e foi de novo concedida a mesma indulgência por Sua Santidade Paulo
VI.
É, pois, preciso rezar o Terço, nas Cidades, nas Vilas e nas
Aldeias, pelas ruas, pelos caminhos, de viagem ou em casa, nas igrejas e
capelas! É a oração acessível a todos, e que todos podem e devem rezar. Há
muitos que diariamente não assistem à oração litúrgica da Santa Missa; se não
rezam o Terço, que oração fazem?! E, sem oração, quem se salvará?! “Vigiai e
orai para não entrardes em tentação”.
É preciso, pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as
nossas actividades e trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de
oração, porque é na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro
que se recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de
distracções. Ela leva sempre às almas um aumento de Fé, ainda que não seja mais
que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção, lembrando o
Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus saberá descontar e
perdoar o que toca à humana franqueza, ignorância e pouquidade.
Quanto à repetição das Ave-Marias, não é como querem fazer
crer que seja uma coisa antiquada. Todas as coisas que existem e foram criadas
por Deus se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos
mesmos actos. E ainda a ninguém ocorreu chamar antiquado ao sol, lua, estrelas,
aves e plantas etc., porque giram, vivem e brotam sempre do mesmo modo! E são
bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é antigo. São João diz
que os bem-aventurados, no Céu, cantam um cântico novo, repetindo sempre;
Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos! É novo, porque, na luz de Deus,
tudo aparece com novo brilho!
Irmã Lúcia