Curiosidades
Será que tenho compulsão por compras?
- 26-06-2022
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Em certas épocas do ano, somos inclinados a gastar mais do que
normalmente gastamos. Os MCS, o comércio e a nossa remuneração levam-nos a esse
gasto. Com isso, é aquele “entra e sai” da loja dos sapatos, da roupa, perfumaria,
acessórios e até supermercados, sempre com uma sacola. Alguns até com o
discurso de que estão a comprar “porque merecem”, porque trabalham o ano
inteiro; outras que se escondem e dizem que não estavam a poder comprar, mas
precisavam de uma roupa nova. Será que a compulsão por compras é uma doença?
Falta de vergonha na cara? Falta de planeamento orçamental? Vamos falar sobre
este tema.
Tu possuis uma preocupação excessiva e/ou perda de controle
sobre o acto de comprar? Tens notado um aumento progressivo do volume de
compras? Percebes que há tentativas frustradas de reduzir ou controlar as compras?
Tens comprado para lidar com a angústia ou outra emoção negativa? Envolveste-te
em mentiras para encobrir o descontrole com compras? Notaste prejuízos nos
âmbitos social, profissional e familiar? Apresentas problemas financeiros
causados pelas compras?
Será que tenho compulsão por compras?
Entendamos a compulsão por compras como patologia
Sê honesto ao responder a estas perguntas. Tu enquadras-te em
quantos deles? Não preciso ter 100% de aprovação nessas perguntas; 50% positivo
já diz que existe um comportamento por compras disfuncional. Tu podes estar a
ser acometido por uma doença psíquica e não sabes disso.
O pensamento intrusivo surge sem que haja o desejo e
aprovação da pessoa e invade a nossa mente. Não conseguindo desviá-lo, a pessoa
acaba por se entregar ao acto compulsivo para obter o alívio, o que gera um
sentimento de culpa, sofrimento e arrependimento por saber que cedeu ao seu
pensamento e que não poderia ter comprado, mas que não é suficiente para inibir
a próxima compulsão.
O acto de comprar dá-se pelo desejo
Ao responder a este pensamento (obsessivo) intrusivo, são
liberados, imediatamente, neurotransmissores (cérebro) que produzem a sensação de
prazer e alívio. Fechando este ciclo, ele repete-se, constantemente, pela
necessidade de responder a esta voz, que são os pensamentos intrusivos,
configurando-se num acto compulsivo. Podemos notar, então, que se trata de uma
patologia, que não é tão simples, e exige uma intervenção em três áreas
disfuncionais diferentes: impulsividade, obsessão e compulsão.
Podemos compreender que a compulsão é um comportamento
repetitivo e incontrolável, que podemos adquirir de qualquer coisa, por comida,
drogas, álcool, sexo, cigarro, trabalho, actividade física ou compras. Nesse
caso, o acto de comprar dá-se pelo desejo e não pela necessidade.
Cuidado com a tentação das liquidações
Para quem tem compulsão por compras, ir aos centros de
compras em época de liquidação e datas comemorativas é um grande perigo. É
preciso fugir do perigo, porque o facto de saber que está em promoção,
independente do quanto de desconto aquela loja oferece, já é um grande atractivo
para o compulsivo. Quantos consumiram muito mais pela força da propaganda do
que pela necessidade do produto. E os exageros das festas de fim de ano? Roupas
e brinquedos caros que enchem os olhos e realizam sonhos no Natal!
A disposição das mercadorias nas montras, as cores, os
produtos (…), todas as coisas são apresentadas de forma a atrair o olhar do
consumidor. No entanto, há uma parcela da população que é atraída com maior
facilidade, por terem este transtorno consciente ou inconscientemente. É
preciso ter consciência do que tu és, das tuas limitações, para que possas
lutar contra elas de forma adequada e com um poder de força maior por conhecer o
“inimigo”.
Qual é a causa desta compulsão?
Infelizmente, não é como uma receita de bolo, que tem os seus
ingredientes e preparo bem descritos. Na psicologia, é preciso sempre averiguar
a história da pessoa, pois pode ser que a raiz do problema seja fruto de um
processo traumático vivido numa determinada etapa da vida, que hoje, na vida
adulta, se apresenta assim. Esta resposta é um mecanismo de defesa adquirido
por consequência de um quadro de vulnerabilidade emocional, ansiedade,
sentimento de perda ou até mesmo um comportamento aprendido, que é accionado
quando se sente ameaçado. Este comportamento, normalmente, vem associado também
a um transtorno de humor; no caso, depressão, ansiedade e fobia podem estar
associados ou não. Inicialmente, o que se deve fazer é fugir da ocasião que o
leva à compulsão, entrar nas lojas apenas se verdadeiramente houver necessidade
de compra e aprender a responder aos pensamentos intrusivos para os dominar.
As respostas precisam de ser coerentes e reais, para serem
capazes de modificar o pensamento – o que não é fácil –, pois ele é imaginário
e potente. Pode ser que sozinho não consigas resistir e responder aos teus
pensamentos, por isso o ideal é procurar ajuda psicológica para que um
profissional te auxilie a vencer essa limitação.
O acto de comprar pode sim gerar prazer. A questão está em
alimentá-lo com grande frequência, tendo, por vezes, comportamento impulsivo,
caindo num ciclo vicioso, e que a pessoa perde o controle. Diante deste cenário
e vivendo tempos de crise, lanço uma pergunta: Estou a poder consumir tanto
quanto tenho o costume? Ou será que não estou a conseguir controlar os meus
impulsos e acabo por comprar mais do que deveria e poderia?
Aline Rodrigues