Curiosidades
Quando é que as mães param para rezar?
- 12-03-2018
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Quando é que as mães param para rezar?
Enquanto mãe, a minha obrigação primeira é amar e cuidar dos meus; e ao fazer isto, estarei a amar e a honrar Nosso Senhor, e isto é rezar
Um dia, após ter tido o meu primeiro filho, fui com o coração apertado conversar com um padre amigo, porque me estava a sentir distante de Deus, já que, entre as mamadas, banhos, trocas de fralda, roupinhas para lavar, serviços de casa e marido, não encontrava tempo para rezar.
Dentre tantas coisas que ele me disse, a que mais ficou gravada foi: “Um filho nunca vem para afastar os pais de Deus, mas para os aproximar”.
Fiquei com esta frase e fui conduzindo a minha vida. O tempo foi passando e eu continuava a tentar adaptar as várias realidades do dia com a minha espiritualidade.
Momentos de aridez sem conseguir rezar
Vivi momentos de aridez, de dias sem rezar o terço, de semanas sem um estudo da Palavra de verdade; às vezes, uma olhadela, e acabava por dormir com a caneta na mão, rabiscando coisas ilegíveis no papel.
Sei que nesse tempo fui amparada pela Eucaristia diária.
No meio a toda correria, não deixávamos de participar na Santa Missa nem um dia. Isto foi o meu sustento. Hoje, graças a Deus, vivo um tempo bonito de intimidade com Deus, de me sentir amada e perceber que o meu amor por Ele também cresce cada dia.
Como consegui isto com tantas atribuições e tarefas a serem realizadas? É o que quero partilhar contigo.
Rezar e trabalhar
A primeira e preciosíssima coisa foi entender a beleza de meu chamado e a virtude a que sou convidada a viver como esposa e mãe.
Deus espera virtudes diferentes de cada vocação, de cada estado de vida: a dos esposos é o amor e a fidelidade um para com o outro.
A das mães e pais é a virtude da paciência e o cuidado com os filhos. Missões diferentes do que Ele espera de um sacerdote e de uma freira, por exemplo.
Compreendendo isto, descobri que enquanto varria a minha casa, poderia causar tanta alegria ao coração de Deus, como se passasse 40 minutos de joelhos em oração.
Não é que Deus não queira ver-me diante d’Ele a rezar, mas é que, enquanto mãe, a minha obrigação primeira é amar e cuidar dos meus; e ao fazer isto, estarei a amar e a honrar Nosso Senhor. Isto é rezar.
Fazer tudo com amor, é oração
A segunda coisa que aprendi com Santa Terezinha, que com certeza aprendeu de seus pais São Luís e Santa Zélia (casados, pais de nove filhos), é que a menor e mais simples atitude – feita com amor - é oração; é um degrau que sobe em direcção ao céu.
Isto ajudou-me muito: passei a fazer do estender roupas no varal, do lavar louças, do arrumar as camas, de um momento de actividade com os meninos, do receber o meu esposo em casa com um beijo, a minha oração.
Consegui isto todos os dias e com perfeição? Não. Ainda não. Às vezes, o cansaço, a irritação, as preocupações atrapalham o meu propósito, mas continuo nessa busca; e quando consigo, é para mim um dia pleno da presença de Deus.
Espiritualidade no casamento
A terceira coisa é aprender a fazer tudo na presença de Deus. Desde o acordar, já nos podemos ir colocando em oração, agradecendo a Deus pelo dia e consagrando a Ele todas as nossas atividades.
Recordo-me de um dia, um domingo de manhã, que acordei já muito cansada, porque estava sozinha com as crianças desde sexta-feira, pois, o meu esposo foi viajar em missão (para pregar um retiro). E percebi logo de manhã, pela impaciência com os meninos, que o meu dia não seria fácil; coloquei-me num cantinho da cozinha e comecei a orar, clamando que o Espírito Santo viesse ajudar-me naquele dia, que viesse mudar o meu humor e nos ajudasse a ter um dia agradável.
Eu não queria ser conduzida pelos meus sentimentos e pelo meu cansaço, mas pelo Espírito de Deus. Foi incrível o que o Senhor realizou! Passámos um dia tranquilo, divertimo-nos e fizemos tudo o que precisávamos de fazer em paz.
Quando clamamos a presença e o auxílio de Deus e de Nossa Senhora, Eles não nos desamparam. Assim, em tudo o que fizermos, podemos ir pedindo, numa oração silenciosa ou não (é até bom que os filhos nos ouçam rezar), que o Senhor venha estar connosco, que Maria venha ensinar-nos a ser mãe, que o Espírito Santo preencha o nosso lar de amor e paz.
Isto é rezar, rezar constante, ao ritmo da vida.
São Paulo recomenda: “Orai em todo o tempo” (Ef 6,18). Isto nós mães e esposas podemos e devemos fazer: enquanto amamentamos, enquanto tomamos banho, enquanto fazemos o almoço, enquanto colocamos a criança para dormir, é estar o tempo todo a falar com Deus. Falando de quê? De tudo.
Tudo que passa no coração: dores, medos, alegrias, dúvidas, sofrimentos, sonhos. Isto é oração concreta.
Continue sempre a rezar
Outro ponto da espiritualidade do casado é entender que o amor entre os esposos é a grande expressão da presença de Deus na família.
Estudando a “Teologia do Corpo” de São João Paulo II, compreendi que o ponto forte da espiritualidade do casal acontece no acto conjugal, onde esposo e esposa actualizam o sacramento, tornam-se expressão do amor de Cristo pela Igreja e expressão do próprio Deus, que é comunhão, é unidade.
Então, por exemplo, se uma esposa está indecisa sobre como aproveitar o seu tempo, se rezando o terço ou unindo-se sexualmente ao seu marido, penso que melhor para o casal – emocional e espiritualmente falando – é a segunda opção; melhor ainda é se puderem os dois recitarem o terço juntos e depois fecharem a espiritualidade do dia com a celebração do amor no seu leito conjugal. Isto é oração, a mais bela oração de um casal.
Por fim, compreendi que tudo na nossa vida passa, só Deus não.
As noites em claro vão passar; o cuidado, muitas vezes exaustivo com o recém-nascido, vai passar; as inúmeras trocas de fraldas ou de roupas sujas de papinha, vão passar; as preocupações com provas, tarefas e a escola, vão passar; o trabalho profissional das esposas, que além da casa também trabalham fora, com o tempo vai mudar.
As exigências próprias deste tempo
Então, o que vivemos hoje são exigências próprias deste tempo, mas futuramente não as teremos e provavelmente voltaremos a ter mais tempo para nos dedicarmos directamente à oração, às missões e actividades pastorais nas nossas comunidades.
Conformemo-nos com o chamamento de Deus e alegremo-nos, fazendo tudo com amor, porque esta é a maior e mais perfeita oração: “Agora pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, mas o maior desses é o Amor” (1 Cor 13,13).
Assim, ao nos questionarmos sobre a espiritualidade de uma esposa com a pergunta: “Quando é que ela reza?”, logo teremos a resposta também em forma de pergunta: “Quando é que ela NÃO reza?”