Curiosidades
Para fazer um balanço da própria vida
- 11-01-2023
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Somos peregrinos do Absoluto. A passagem de ano não pode
deixar de falar a todo o homem que pensa um pouco. Lembrar-lhe que ele é um
caminhante que atravessa os tempos. Onde termina esta caminhada? Para uns, ela
desemboca no vazio ou no nada; para os ateus e materialistas é perspectiva
sombria e sem esperança. Mas, para o cristão, a caminhada termina no Absoluto
ou na Plenitude, uma aspiração inata de todo o homem.
No mais profundo de si mesmo todo o ser humano é inquieto e
procura a Vida, a Verdade, o Amor, sem contradição. Quem não ousa aspirar a
estes valores, condena-se a viver frustrado ou sem sentido. É o que diz o autor
do Eclesiastes nos séculos IV/III a.C: “Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade!”
O Natal veio nos relembrar que o Absoluto existe, não é um
mito e nem ficção; é real. Não somente existe; ele vem buscar o homem. Deus
quis compartilhar a sorte de viajante connosco, percorrendo as estradas
pedregosas da vida presente, a fim de fazer delas o caminho para a vida plena;
assumiu o que é da criatura para que a criatura possa gozar da companhia do
próprio Deus aqui e no Além; entregou o Filho para fazer dos servos rebeldes
“filhos no Filho”.
Na verdade, porém, Cristo só nasceu em Belém para poder
nascer no coração de cada ser humano através dos tempos. É São Paulo quem o
diz: “Vivo, não eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). O Natal prolonga-se
em cada administração do Batismo, para que o cristão seja “um outro Cristo”. É
com este pensamento e desejo que deve o cristão começar um Ano Novo.
Vivemos dias em que as pessoas se queixam, e com razão, de
inclemência, e tomam providências contra o terror. Mas, em todas as fases da
história os tempos pareceram ingratos. Apesar de todos os esforços para
diminuir os males, a terra nunca será um Paraíso.
Consciente disto, o cristão não se deixa iludir e procura
atravessar os tempos turbulentos como Peregrino do Absoluto. Absoluto que não
está distante, mas que lhe vem ao encontro através da fé e dos Sacramentos.
Dizia o Papa São João Paulo II: “Aprendei a ouvir no silêncio a voz de Deus,
que fala no mais fundo de cada um de nós” (L’Osservatore Romano, 16/10/2001,
p.1).
Isto quer dizer: sem deixar de lado as tarefas temporais, o
cristão alimenta a sua esperança e a sua fortaleza no diálogo com o Absoluto ou
na oração.
Há em nós a natural tendência à acomodação que ameaça todo o
ser humano, e ameaça-nos aos poucos, insensivelmente. Todavia, para quem é
peregrino, a estabilidade é estagnação e fonte de putrefação.
Um novo Ano começou, é uma oportunidade de despertarmos do
sono da rotina e semearmos com largueza no decorrer de cada novo dia!
Um novo ano é nova oportunidade concedida pelo bom Deus para
que os cristãos e todos os homens de boa vontade se voltem, ainda mais, para o
Grande Encontro. Seja este o referencial permanente da caminhada de todos nós
em 2023!
S. Tiago na sua Carta disse que: “A língua põe em chamas o
ciclo da existência ou a roda da vida” (3,6). Por que comparavam os antigos a
nossa vida com uma roda? Na roda que se move, o que está na parte superior vai
para baixo, e vice-versa. Assim a roda seria o símbolo da sorte, que exalta e
rebaixa sucessivamente os homens. A roda é a imagem da sucessão monótona, algo
fechado, sem saída. Mas o cristianismo prefere, para designar a vida, uma outra
imagem: a do cone ou da parábola. Uma figura que se vai abrindo e dilatando
cada vez mais, como se estivesse para abarcar o Infinito, o Absoluto. Esta
imagem revela a realidade da dinâmica da vida cristã, que é uma semente de
eternidade, a graça santificante, o “gérmen da glória”, que vai desabrochando
até chegar ao encontro face-a-face com a Beleza Infinita de Deus.
O ano de 2023 é um segmento desse cone: deve indicar ao
cristão, uma fase de crescimento interior e de aproximação da plenitude dos
valores definitivos. Deus, que chama o homem para a comunhão com Ele, acompanha-o
nessa caminhada e espera por ele.
É hora de dar um balanço na própria vida, e descartar com a
força da graça do Natal tudo o que é supérfluo, desnecessário e que nos impede
de caminhar célere em busca do Infinito. Deixemos as vaidades e vanglória à
beira do caminho; abandonemos a mentira e a preguiça; enterremos os apegos às
criaturas e os prazeres pecaminosos; renunciemos à glutonaria, à ira e às
invejas corroedoras da alma. Que nesta mudança de Ano, a nossa alma se renove
em busca do nosso único Destino.
Senhor, que neste Ano novo, possamos reconhecer todos os dias
o teu santo desígnio e a tua reconfortadora presença!