Usa-se a palavra “religião” para indicar o conjunto das
crenças que respeitam a Deus e as suas relações com o homem.
Mas como essas crenças podem ser verdadeiras ou falsas, assim
há a religião verdadeira e as religiões falsas, porque nem todas as religiões
podem ser verdadeiras.
Verdadeira só pode ser a que ensina a verdade e toda a
verdade – e não pode haver mais do que uma verdade – sobre um assunto…
Alguns dizem assim: “cada um tem a sua religião… Todas as
religiões são boas”.
Se assim fosse, devíamos crer ao mesmo tempo que Cristo é
Deus e não é Deus; que há um só Deus e que há mais deuses; que a Deus agrada
tanto a Missa como a ceia dos protestantes, etc. Isto é um absurdo.
Tem de haver, portanto, uma só religião boa. E é essa que todos
têm obrigação de seguir.
Todos? - Isso é só para os simples e para as mulheres! –
dizem alguns.
Então chamas simples ao sábio Marconi, que dizia assim: “Eu
sinto orgulho em afirmar que sou católico e crente; creio não só como católico,
mas também como homem de ciência”.
Ou o sábio Newton: “Enquanto pelo telescópio admiro o caminho
dos astros, o meu joelho dobra para adorar o poder imenso de Deus que lançou no
espaço tanta maravilha”.
Ou o sábio Pasteur que dizia: “Tenho a fé dum camponês. E, se
mais soubesse, teria a fé duma camponesa”.
E o sábio Bacon: “A pouca ciência afasta de Deus, a muita
ciência conduz a Ele”. Sendo Deus o nosso princípio e o nosso fim, o nosso
Benfeitor, Legislador e Redentor, dependemos d’Ele. Dependendo d’Ele temos o
dever de Lhe prestar o culto, como a religião ensina, ou seja: - A homenagem da
inteligência, reconhecendo a Sua existência e estudando as suas perfeições.
- A homenagem de todo o nosso ser, servindo-O. Quanto mais se
conhece a religião, mais se ama. Quanto melhor se pratica, de mais paz se goza.
Por que é que
nem todas as religiões são iguais?
Pensa-se que todas as religiões são boas. Todas — salvo
degenerações estranhas que são como a excepção que confirma a regra — levam o
homem a fazer coisas boas, exaltam sentimentos positivos e satisfazem em maior
ou menor medida a necessidade de transcendência que todos temos. No fundo, dá
igual, uma ou outra. Além disso, por que não pode haver várias religiões
verdadeiras?
É certo que alguém tem que ser de espírito aberto, e apreciar
tudo o que é positivo que há nas diversas religiões, que é substancialmente
diferente que dizer que existem várias religiões verdadeiras: se somente houver
um Deus, não pode haver mais que uma verdade divina, e uma só religião
verdadeira.
A sensatez na decisão humana sobre a religião não estará,
portanto, em escolher a religião que a um goste ou o satisfaça mais, mas sim em
acertar com a verdadeira, que só pode ser uma. Porque uma coisa é ter uma mente
aberta e outra, bem distinta, pensar que cada um pode fazer uma religião a seu
gosto, e não se preocupar muito posto que todas vão ser verdadeiras. Já disse
Chesterton que ter uma mente aberta é como ter a boca aberta: não é um fim, a
não ser um meio. E o fim - dizia com senso de humor - é fechar a boca sobre
algo sólido.
Como cristão que sou, acredito que o cristianismo é a
religião verdadeira. Porque se a gente não acredita que a sua fé é a
verdadeira, o que lhe acontece então, simplesmente, é que não tem fé.
Logicamente, acreditar que o cristianismo é a religião
verdadeira não implica impô-la a outros, nem menosprezar a fé de outros, nem
nada parecido. É mais, a fé cristã bem entendida exige o respeito à liberdade
de outros.
A adesão à verdade cristã não é como o reconhecimento de um
princípio matemático. A revelação de Deus desdobra-se como a vida mesma, e toda
a verdade parcial não tem por que ser um completo engano.
Muitas religiões terão uma parte que será verdade e outra que
conterá enganos (excepto a verdadeira, que, logicamente, não conterá enganos).
Por esta razão, a Igreja Católica —recordando o Concílio Vaticano II— nada
rechaça do que noutras religiões tem de verdadeiro e santo. Considera com
sincero respeito os modos de trabalhar e de viver, os preceitos e doutrinas
que, embora discrepem em muitos pontos do que ela professa e ensina, não poucas
vezes reflectem um brilho daquela Verdade que ilumina a todos os homens.
E por que é que a religião cristã é a verdadeira?
Para responder a esta pergunta, pode-se contribuir com provas
sólidas, racionais e convincentes, mas nunca serão provas esmagadoras e
irresistíveis. Além disso, nem todas as verdades são demonstráveis, e menos
ainda para quem entende por 'demonstração' algo que tem que estar atado
infalivelmente à ciência experimental.
Digamos —não é muito académico — que é como se Deus não nos
queira obrigar a acreditar. Deus respeita a dignidade da pessoa humana, que Ele
mesmo criou, e que deve reger-se pela sua própria determinação. Deus nunca
coage (além disso, se fosse algo tão evidente como a luz do sol, não faria
falta demonstrar nada).
Para acreditar, faz falta uma decisão livre da vontade: a fé
é de uma vez um dom de Deus
E um acto livre. E ninguém se rende diante de uma
demonstração não totalmente evidente (alguns, nem sequer diante das evidentes),
se houver uma disposição contrária da vontade.
Vamos comentar algumas das razões que podem fazer compreender
melhor porque a religião cristã é a verdadeira.
Um surpreendente desenvolvimento
Podemos começar, por exemplo, por considerar o que tem
suposto o cristianismo na história da humanidade. Pensem como, nos primeiros
séculos, a fé cristã abriu caminho no Império Romano de forma prodigiosa. O
cristianismo recebeu um tratamento tremendamente hostil. Houve uma repressão
brutal, com perseguições sangrentas, e com todo o peso da autoridade imperial
no seu contrário durante muitíssimo tempo (uns dois séculos).
É necessário pensar também que a religião então predominante
era um amálgama de cultos idolátricos, enormemente indulgentes, na sua maior parte,
com todas as debilidades humanas. Tal era o mundo que deviam transformar. Um
mundo cujos dominadores não tinham interesse algum em que trocasse. E a fé
cristã abriu passo sem armas, sem força, sem violência de nenhuma classe. E, em
que pese a essas objectivas dificuldades, os cristãos eram cada vez mais.
Obter que a religião cristã se enraizasse, estendesse e
perpetuasse; obter a conversão daquele enorme e poderoso império, e trocar a
face da terra dessa maneira, e tudo a partir de doze pregadores pobres e
ignorantes, deficientes de eloquência e de qualquer prestígio social, enviados
por outro homem que tinha sido condenado a morrer numa cruz, que era a morte
mais vergonhosa daqueles tempos... Sem dúvida para o que não acredita nos
milagres dos evangelhos, pergunto-me se não seria este milagre suficiente. Algo
absolutamente singular na história da humanidade.
Jesus de Nazaré
Entretanto, pergunta-a básica sobre a identidade da religião
cristã centra-se no seu fundador, em quem é Jesus de Nazaré.
O primeiro traço característico da figura de Jesus Cristo —
assinala André Léonard — é que afirma ser de condição divina. Isto é
absolutamente único na história da humanidade. É o único homem que, no seu são
julgamento, reivindicou ser igual a Deus. E recalco o de reivindicado porque,
como veremos, esta pretensão não é em modo algum sinal de jactância humana,
mas, ao contrário, vai acompanhada da maior humildade.
Os grandes fundadores de religiões, como Confúcio, Lao-Tse,
Buda e Maomé, nunca tiveram pretensões semelhantes. Maomé dizia-se profeta de
Alá, Buda afirmou que tinha sido iluminado, e Confúcio e Lao-Tse pregaram uma
sabedoria. Entretanto, Jesus Cristo afirma ser Deus.
Os gestos de Jesus Cristo eram propriamente divinos. O que de
entrada surpreendia e alegrava as pessoas era a autoridade com que falava, por
cima de qualquer outra, até da mais alta, como a de Moisés; e falava com a
mesma autoridade de Deus na Lei ou dos Profetas, sem se referir mais que a si
mesmo: "ouvistes o que foi dito..., Mas eu vos digo..." Através dos
seus milagres manda sobre a doença e a morte, dá ordens ao vento e ao mar, com
a autoridade e o poderio do Criador mesmo.
Entretanto, este homem, que utiliza o eu com a audácia e a
pretensão mais insustentáveis, possui ao mesmo tempo uma perfeita humildade e
uma discrição cheia de delicadeza. Uma humilde pretensão de divindade que
constitui um facto singular na história e que pertence à essência própria do
cristianismo.
Em qualquer outra circunstância — pense-se de novo em Buda,
em Confúcio ou em Maomé— os fundadores de religiões lançam um movimento
espiritual que, uma vez posto em marcha, pode desenvolver-se com independência
deles. Entretanto, Jesus Cristo não indica simplesmente um caminho, não é o
portador de uma verdade, como qualquer outro profeta, mas é Ele mesmo o objecto
próprio do cristianismo.
A verdadeira fé cristã começa quando um fiel deixa de
interessar-se pelas ideias ou a moral cristãs, tomadas em abstracto, e encontra
Ele como verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Quando se trata de discernir entre o verdadeiro e o falso, e
em algo importante, como o é a religião, convém aprofundar o bastante. A
religião verdadeira será efectivamente a de maior atractivo, mas para quem tem
dela um conhecimento suficientemente profundo.
Pode alguém salvar-se com qualquer religião?
A verdade sobre Deus é acessível ao homem na medida em que
este aceite deixar-se levar por Deus e aceite o que Deus ordena; na também em
que o homem queira procurar Deus rectamente. Por isso, é um barbarismo dizer
que os que não são cristãos não procuram Deus rectamente. Há gente recta que
pode não chegar a conhecer Deus com completa claridade. Por exemplo, por não
ter conseguido libertar-se de uma certa cegueira espiritual. Uma cegueira que
pode ser herdada da sua educação, ou da cultura em que nasceu, e nesse caso,
Deus que é justo, julgará cada um pela fidelidade com que tenha vivido conforme
as suas convicções. É preciso, logicamente, que ao longo da sua vida tenham
feito o que esteja na sua mão por chegar ao conhecimento da verdade. E isto é
perfeitamente compatível com que haja uma única religião verdadeira.
Nesta linha, a Igreja católica destaca que os que sem culpa
da sua parte não conhecem o Evangelho nem a Igreja, mas procuram Deus com
sincero coração e tentam na sua vida fazer a vontade de Deus, conhecida através
do que lhes diz a sua consciência, podem conseguir a salvação eterna.
E como assegura Peter Kreeft, o bom ateu participa de Deus
precisamente na medida em que é bom. Se alguém não acreditar em Deus, mas participa
de alguma medida do amor e a bondade, vive em Deus sem sabê-lo. Isto não
significa, entretanto, que basta sendo bom sem necessidade de acreditar em Deus
para obter a salvação eterna. A pessoa não deve acreditar em Deus porque nos
seja útil, ou porque nos permita sermos bons, mas sim, fundamentalmente, porque
acreditam que Deus é verdadeiro.
Nesta linha terá que nos mostrar um tanto cépticos diante de
alguma crise de fé supostamente intelectuais, mas que no fundo escondem uma
opção por fabricar uma religião própria, à medida dos próprios gostos ou
comodidades. Quando uma pessoa faz uma interpretação acomodada da sua religião
para rebaixar assim as suas exigências morais, ou não se preocupa em receber a
necessária formação religiosa adequada à sua idade e circunstâncias, é bem
provável que a pretendida crise intelectual bem possa ter outras origens.
Por quê, então, a Igreja é necessária para a salvação do
homem?
A Igreja peregrina é necessária para a salvação, pois Cristo
é o único Mediador e o caminho de salvação, presente a nós no seu Corpo, que é
a Igreja» (Lumen gentium, 14).
Seguindo a Dominus Iesus, esta não se contrapõe à vontade
salvífica universal de Deus; portanto, «é necessário, pois, manter unidas estas
duas verdades, ou seja, a possibilidade real da salvação em Cristo para todos
os homens e a necessidade da Igreja em ordem a esta mesma salvação»
(Redemptoris missio, 9). Para aqueles que não são formal e visivelmente membros
da Igreja, «a salvação de Cristo é acessível em virtude da graça que, até tendo
uma misteriosa relação com a Igreja, não lhes introduz formalmente nela, mas os
ilumina de maneira adequada na sua situação interior e ambiental. Esta graça
provém de Cristo; é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo»
(ibid, 10).
Certamente, as diferentes tradições religiosas contêm e
oferecem elementos de religiosidade, que formam parte de «tudo o que o Espírito
obra nos homens e na história dos povos, assim como nas culturas e religiões»
(Redemptoris missio, 29). A elas, entretanto, não lhes pode atribuir uma origem
divina nenhuma eficácia salvífica ex opere operato, que é própria dos
sacramentos cristãos. Por outro lado, não se pode ignorar que outros ritos não
cristãos, assim que dependem de superstições ou de outros enganos (cf. 1 Cor
10, 20-21), constituem mas bem um obstáculo para a salvação.
Neste sentido, a Dominus Iesus é bastante clara quando afirma
que com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus estabeleceu à Igreja para a
salvação de todos os homens. Esta verdade de fé não tira o facto de que a
Igreja considera as religiões do mundo com sincero respeito, mas ao mesmo tempo
exclui essa mentalidade de indiferença «marcada por um relativismo religioso
que termina por pensar que "uma religião é tão boa como outra"» (Redemptoris
missio, 36). Como exigência do amor a todos os homens, a Igreja «anuncia e tem
a obrigação de anunciar constantemente a Cristo, que é "o Caminho, a
Verdade e a Vida" (Jo 14, 6), em quem os homens encontram a plenitude da
vida religiosa e em quem Deus reconciliou consigo todas as coisas» (Nostra
aetate, 2).
Fonte ACI Digital