O feminismo e a luta dos sexos
Ao longo dos anos, a mulher tem lutado para ter o seu espaço na sociedade. Muitas destas lutas vieram dos movimentos feministas que assumiram diversas bandeiras no correr da história. A primeira expressão de reivindicações surgiu quase que de forma simultânea na França, no Reino Unido e nos Estados Unidos, entre os séculos XIX e XX, com as “sufragistas”, movimento que defendia o direito de voto das mulheres.
Ainda nesta primeira onda, o feminismo propõe um certo antagonismo ao homem e à sociedade patriarcal. Começa a surgir uma rivalidade entre os sexos, quando a identidade de um passa a ser perigo para o outro. O feminismo começa, então, a assumir uma relação de poder entre os sexos.
O movimento sufragista surge como um dos primeiros a lutar pelo espaço da mulher na sociedade.
Numa segunda etapa do feminismo, tenta-se aniquilar, de vez, as diferenças entre homens e mulheres. Surge daí a ideologia de género que propõe a tese de que o sexo feminino e o masculino são uma “construção social”.
No topo desta questão está a pensadora Simone de Beauvoir com o livro “O Segundo Sexo”, obra que marca o feminismo radical. O livro começa com estas palavras:
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, económico, define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora este produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.”
Nesta perspectiva, a Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, diz do perigo desta ideologia de género que tentou extinguir as diferenças sexuais entre o homem e a mulher:
“Uma tal antropologia, que entendia favorecer perspectivas igualitárias para a mulher, libertando-a de todo o determinismo biológico, acabou, de facto, por inspirar ideologias que promovem, por exemplo, o questionamento da família pela sua índole natural bi-parental, ou seja, composta de pai e de mãe, à equiparação da homossexualidade à heterossexualidade, um novo modelo de sexualidade polimórfica” (Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo)
“O feminismo foi criando na mulher uma autossuficiência, como se ela não precisasse do homem nem para ter filhos; mas nós sabemos que a grande desgraça da autossuficiência é que ela fecha a pessoa ao amor”, diz Emmir Nogueira, formadora geral da Comunidade Shalom.
Esta onda do feminismo chegou aos anos 60 e 70 com uma forte bandeira ideológica somada às grandes revoluções sociais. Com a pílula anticoncepcional, a mulher passou a colocar, no rol dos seus direitos, o sexo livre, a independência sobre o seu corpo e a exigência do aborto como um direito humano.
A legalização do aborto continua a ser uma das principais reivindicações do movimento feminista.
Por que é que o movimento feminista foi assumindo bandeiras ideológicas ao longo dos anos? O movimento feminista teve papel importante na luta dos direitos da mulher na sociedade, mas foi sendo contaminado ideologicamente ao longo de sua história. Alguém disse: “As mulheres que valorizam um feminismo mais feminino e a maternidade deveriam ser mais pró-ativas, pois, muitas vezes, não participam das conferências de mulheres. Neste vácuo, que estas outras mulheres deixam, é que entram as ideias de um feminismo agressivo que, na verdade, não defende os direitos da mulher”.
O feminismo possui, ainda hoje, relevante importância na conquista dos direitos da mulher e na luta contra a discriminação dela. Vemos, por exemplo, a luta contra a violência doméstica e sexual, a luta por melhores condições de trabalho e salários dignos; no entanto, bandeiras ideológicas contra a vida e a família ainda fazem parte da bandeira do movimento.
Muitas mulheres estão a acordar para o facto de que o feminismo deve, cada vez mais, assumir um modelo feminino.
O problema do movimento feminista foi, em primeira instância, tentar sobrepor a mulher ao homem num antagonismo antropológico e, depois, eliminar as diferenças entre homens e mulheres, promovendo uma “guerra dos sexos”.
Desta forma, nos lembra o Cardeal Joseph Ratzinger: “Qualquer perspectiva que se pretenda propor como luta dos sexos, não passa de uma ilusão e perigo, pois desembocaria em situações de segregação e de competição entre homens e mulheres, promovendo um solipsismo que se nutre de uma falsa concepção da liberdade.”