Ave Maria Imaculada... Rezai o Terço todos os dias... Mãe da Eucaristia, rogai por nós...Rainha da JAM, rogai por nós... Vinde, Espirito Santo... Jesus, Maria, eu amo-Vos, salvai almas!

Histórias lindas

“Não queiras para os outros o que não queres para ti”

 Entre os lavradores e viajantes da Catalunha, o nome de Ferreol era muito temido.

Nas noites de tempestade quando a agua bate com fúria nas rochas, o bandido Ferreol e seus companheiros aguardavam em seus postos para assaltar qualquer infeliz e roubar-lhe a bolsa e quiçá deixá-lo estendido sem vida em um matagal.
Por todas as partes se narravam as novas do bando que levava o terror a todos os que tinham que passar pelos montes e bosques, que eram os lugares preferidos de Ferreol e seus companheiros.
Um dia, ao por do sol, em que o crepúsculo enchia de sombras as proximidades das montanhas, um frade caminhava a passos largos.
Ia rezando com devoção suas orações. Assim não percebeu a aparição de dois homens no meio do caminho. Estes pararam o bom religioso, dizendo-lhe:
– Ei irmão, passe-nos a bolsa!
O frade, surpreendido, lhes respondeu, dizendo que não levava nada consigo.
Bandidos como eram, o conduziram então, com os olhos vendados à cova onde o bando estava reunido. 

Ferreol, sentado junto ao fogo, entretinha-se em afiar com grande cuidado sua faca.
Os bandidos tiveram grande surpresa com a chegada de seus companheiros e do frade.
Ferreol, com o intento de zombar do padre, lhe disse:
– Há muito que desejo me confessar, e agora vejo uma oportunidade. O senhor vai me confessar, reverendo padre, mas tenha em conta que espero vossa absolvição. Se não for assim, vós podereis encomendar-vos a todos os santos, pois não saireis vivo desta caverna.
O frade, tranquilamente, lhe disse que estava disposto a ouvi-lo em confissão.
– Mas sou Ferreol, o bandido - disse o chefe. Não tendes ouvido falar de mim?
– Não importa, respondeu o frade. Vem aqui comigo e eu te absolverei.
Se retiraram a um canto da caverna, e o frade disse a Ferreol:
– Dou-te a seguinte penitência: antes de qualquer assalto, repita isto e pense bem nisto: não queira para os outros o que não queres para ti. E isto te bastará.
Ferreol soltando uma estrondosa gargalhada, disse:
– Se essa é a penitência, não é demasiado dura. Agora saia daqui depressa, antes que eu me arrependa e te mate.

O frade saiu. Ferreol continuou afiando sua faca. Os seus companheiros continuaram bebendo, jogando ou roncando.
No entanto, as palavras do frade, não haviam caído em terreno pedregoso. Alguns dias depois, dispunha-se Ferreol a dar assalto a uma carroça que ia a uma cidade vizinha onde se celebrava uma festa.
Colocaram-se os bandidos como de costume, alguns no alto de um monte para avisar a chegada da gente, e os demais, ocultos na floresta, escondidos entre as ramas de frondosas árvores.
Até que o assobio de um sentinela os avisou, e então se esconderam. Pelo caminho, puxando um burrinho, vinha um homem com sua esposa e um menino nos braços.
– Boa presa, pensaram todos.
Já estavam preparados para assaltar ao sinal de Ferreol, quando viram com surpresa que o sinal não fora dado. Passou o homem com seus companheiros e desapareceu atrás de uma curva do caminho.
Tudo ficou em paz, e os bandidos se foram lentamente incorporando, se aproximando de Ferreol e lhe perguntaram a causa de não haver ordenado o ataque. O chefe se mostrava pensativo, não contestou as reclamações de seus subordinados, mas com receio disse:
– Não sei... não me pareceu conveniente. Agora voltemos à caverna.
Desde aquele dia Ferreol sempre agia assim. Preparava-se o assalto, mas, na última hora, não o executava.
E, já os bandidos murmuravam, acreditando que seu capitão havia enlouquecido ou sido atacado por algum mal súbito, pois não mais falava com eles e passava largas horas melancolicamente passeando pelos bosques ou na cova, isolado da algazarra dos demais.
Até que um dia eles resolveram roubar uma mansão e Ferreol negou-se a ir.

– Pensem se gostariam que fizessem isso com vocês. O que não queremos para nós não devemos querê-lo para os outros.

Os bandidos ficaram estupefatos. Logo, um coro de brutais gargalhadas estalou.
– Ah, Ferreol, sois São Ferreol! vos fizestes frade e santo! E passando dos risos para as ameaças, e destas para os fatos, o golpearam e por fim o mataram. Levaram o cadáver com eles à mansão que iriam assaltar e o esconderam na adega.
Desta maneira, Ferreol, que havia meditado sobre as palavras daquele frade, cumpriu a penitência de que tão impiamente zombara.
Passou o tempo e o dono da mansão que os bandidos haviam roubado, notou com surpresa ao tirar o vinho de um certo tonel, que esse havia melhorado em qualidade de uma maneira notável estando com um sabor agradabilíssimo.
E além disso o tonel estava sempre cheio. Sem ter uma grande explicação, removeu um dia o tonel tirando todo o vinho.
Grande foi a surpresa ao encontrarem o corpo de Ferreol, que estava ainda fresco e com as feridas ainda sangrando, como se acabasse de morrer.
Compreenderam que um grande milagre tinha ocorrido e desde então São Ferreol recebeu culto e devoção.

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