É tão grande a dignidade de Maria como Mãe de Jesus Cristo, que só Deus com a sua sabedoria infinita a pode compreender; mas toda a sua omnipotência não pôde fazer outra maior. Façamos um acto de viva fé acerca desta divina maternidade; alegremo-nos com a Santíssima Virgem, e aumentemos a nossa confiança nela, porque de certo modo nos é devedora da sua altíssima dignidade.
I. Para compreender a altura a que Maria foi sublimada, é
preciso compreender quão sublime é a alteza e grandeza de Deus. Bastará dizer
que Deus fez a Santíssima Virgem mãe do seu Filho para percebermos que Deus não
a pôde elevar mais alto do que a elevou. Disse Santo Arnaldo Carnotense que
Deus, fazendo-se Filho da Virgem, sublimou-a acima de todos os Santos e Anjos. Embora,
na verdade, ela seja infinitamente inferior a Deus: ao mesmo tempo está
incomparavelmente acima de todos os espíritos celestiais, como diz Santo Efrém.
Por isso lhe diz Santo Anselmo: Senhora, vós não tendes quem vos seja igual,
porque tudo quanto há, está acima ou abaixo de vós; só Deus vos é superior, e
todos os outros vos são inferiores.
Numa palavra, é tão grande a dignidade da Virgem, que, se bem
que Deus só com a sua sabedoria infinita a possa compreender, no dizer de São
Boaventura, com toda a sua omnipotência não pôde fazer outra maior.
Quem aceitar isto, deixará de estranhar porque os santos
Evangelistas, que tão difusamente registam os louvores de um João Baptista, de
uma Madalena, tão escassos se mostram em descrever as grandezas de Maria. Tendo
dito que desta exímia Virgem nasceu Jesus, não julgaram necessário acrescentar
outra coisa; porque neste seu maior privilégio se acham incluídos os outros.
Qualquer titulo que se lhe dê, nunca chegará a honrá-la tanto como o de Mãe de
Deus.
Façamos um acto de viva fé na maternidade divina de Maria,
alegremo-nos com ela, agradeçamos a Deus por ela e protestemos que estamos
prontos a dar a nossa vida em defesa desta verdade, como de todas as outras que
lhe dizem respeito.
II. Diz Santo Anselmo que é mais pelos pecadores do que pelos
justos que Maria foi sublimada a Mãe de Deus; também Jesus disse de si próprio
que veio para chamar, não os justos, mas os pecadores. A divina Mãe tem, pois,
uma certa obrigação de socorrer os miseráveis que se lhe recomendam, porque é a
eles que é, por assim dizer, devedora da sua altíssima dignidade. Congratulemo-nos,
portanto, com Maria; mas congratulemo-nos também connosco mesmos e ponhamos
nela toda a nossa esperança.
† Ó Mãe de Deus, eis aqui a vossos pés um miserável pecador,
que a Vós recorre e em Vós confia. Não mereço que lanceis sobre mim o vosso
olhar; mas sei que, vendo o vosso Filho morto pela salvação dos pecadores,
tendes um extremo desejo de os ajudar. Ó Mãe de misericórdia, vede as minhas
misérias e tende piedade de mim. Todos vos chamam refúgio dos pecadores, esperança
dos que desesperam, sede também o meu refúgio, a minha esperança, o meu
auxilio. Deveis salvar-me com a vossa intercessão. Socorrei-me pelo amor de
Jesus Cristo. Estendei a mão a um pobre caído que se recomenda a vós. Sei que é
a vossa consolação ajudar um pecador, quando é possível; ajudai-me, pois, já
que o podeis fazer. Pelos meus pecados perdi a graça divina e a minha alma.
Entrego-me nas vossas mãos; dizei-me o que hei-de fazer para de novo entrar na
graça do meu Senhor; quero fazê-lo sem demora. Ele me envia a vós, para que me
socorrais, quer que eu me refugie na vossa misericórdia, para que eu me salve
não somente pelos méritos de vosso Filho, mas também pelas vossas orações. A
vós recorro; e vós rogai por mim. Mostrai como sabeis valer a quem confia em vós.
Assim espero, assim seja.