Descansar e relaxar, passear e fazer férias não podem ser considerados como um exercício de preguiça, um entregar-se à ociosidade indolente. Reabilitemos a sua má fama. Férias são ferioterapia.
É comum qualificar as pessoas pelo que fazem: É um trabalhador de primeira! É tão eficaz como uma máquina de trabalho! Faz tudo depressa e bem!... Porque não definir antes as pessoas pela sua capacidade de descansar? É uma pessoa tão exemplar que pratica a virtude do descanso! Trabalha tão bem que faz tudo em clima ferial! Ver como trabalha até nos descansa! É alguém que tem a coragem de reservar tempo para descansar e fazer férias! É um cristão tão cumpridor que até sabe imitar Cristo quando se retirava para descansar!
Pondo ordem na sofreguidão destravada do trabalho, dando remédio para a doença da trabalhite, São João Paulo II, afirma numa sua encíclica: «Acima de tudo, o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho» (LE 6). Este documento é sobre «o trabalho humano». Aqui o adjetivo é tão importante como o substantivo. Trabalhar tem que ser um exercício de humanização, evitando transformar a pessoa numa máquina de fazer coisas.
As desculpas para não descansar nem fazer férias são mais do que muitas. Por exemplo: Não sei fazer outra coisa que não seja trabalhar! Mas todos podemos e devemos aprender a virtuosa arte do descanso. Isso de férias é para ricos! Claro que é, se for em hotéis de 5 estrelas numa ilha do pacífico. Mas há sempre uma maneira modesta de travar a vertigem do trabalho e de quebrar a rotina de maquinalmente fazer sempre o mesmo. Faça férias quem quiser, mas eu tenho que ganhar a vida! Ganhar a vida é bem justo. Mas é uma injustiça estragar a saúde e descarregar os nervos cansados na família e nos colegas.
Fazer férias e descansar é uma questão de justiça social. A fatura do meu cansaço nunca é paga só por mim, mas por todos aqueles com quem vivo ou encontro. Tal como um fumador nunca se prejudica só a si mesmo, mas também aqueles que respiram a chaminé do seu cigarro poluente. Nesta linha, adverte Luís de Camões: «Não te canses que me cansas». Não é verdade que quando nos aproximamos de certas pessoas parece que entramos num tempo de férias e nos sentimos mais descontraídos e descansados? Igualmente não é verdade que encontrar pessoas devoradas pelo corrupio dos afazeres nos enerva e deprime? O cansaço, fruto do desenfreado trabalhismo, é uma doença altamente contagiosa. As férias e, em geral, os tempos de descanso são antídoto contra o estresse, o nervosismo e a conflitualidade. São vitaminas para dar qualidade à nossa vida e transmitirmos paz e alegria à nossa volta. São fisioterapia e espiritoterapia, pois fazem bem ao corpo e à alma. Férias são ferioterapia.
O Concílio Vaticano II, bússola que marca o norte da Igreja atual, assim nos recorda: «Os tempos livres sejam bem empregados, para descanso do espírito e saúde da alma e do corpo, ora com atividades e estudos livremente escolhidos, ora com viagens a outras regiões (turismo), com os quais se educa o espírito e as pessoas se enriquecem com o conhecimento mútuo, ora também com exercícios e manifestações desportivas, que contribuem para manter o equilíbrio psíquico, mesmo na comunidade, e para estabelecer relações fraternas entre as pessoas de todas as condições e nações ou de raças diversas» (GS 61).