EFEITO RETROACTIVO DA ORAÇÃO
O Sr.‘Thompson era um americano furiosamente ímpio.
Não permitiu que as filhas fossem baptizadas, nem na religião católica, nem na protestante. Uma delas, chamada Mythle morreu sem que o pai a deixasse receber o baptismo.
Passados anos, Thompson converteu-se à religião católica.
Fê-lo com toda a alma, tomando-se cristão fervoroso.
Agora, que tinha fé, pensava:
— Onde estará a minha filha Mythle?
No céu não está certamente porque morreu sem baptismo. E a culpa foi minha e só minha. Este pensamento atormentava-o sempre, como terrível pesadelo.
Um dia foi desabafar a sua mágoa com o Padre Hayes, que mais tarde seria Cardeal Arcebispo de Nova Iorque.
— O que poderei fazer, meu Padre, pela minha filha?
— Rezar a Deus por ela.
— Mas, de que lhe pode servir a minha oração, se morreu sem baptismo?
— Peça a Deus pela menina e deixe o resto nas mãos de Deus.
— Mas que pode fazer o próprio Deus por ela, se tudo pertence ao passado e o passado não tem remédio? Se à hora da morte a minha filha não se salvou, nem o próprio Deus a vai agora meter no céu.
— Mas, o Senhor não sabe que para Deus não há passado nem futuro?
— Então, se pedir agora pela minha filha, ela salvar-se-á?
— Eu não disse tal coisa — respondeu o Padre Hayes. Afirmo que Deus, para quem até o futuro é presente, vendo a oração que o Senhor agora faz pela sua filha, pode ter ouvido essa oração e ter salvado a menina.
Por outras palavras: Deus pode ter atendido a oração que já sabia que o Senhor havia de fazer.
Thompson foi-se embora muito consolado com esta explicação.
Durante anos bombardeou o céu com orações para que a sua filhinha se tivesse salvado.
Certo dia aparece radiante de alegria em casa do Padre Hayes.
— Padre, — exclama muito feliz — Deus ouviu a minha oração. A minha filhinha salvou-se e está no céu.
Pensou o sacerdote que o pobre homem tivesse perdido o juízo, mas logo se convenceu que estava a falar a sério.
Imagine, Padre, que Betsy, uma velha criada católica irlandesa, que durante largos anos serviu em minha casa, me veio ontem visitar.
E então?
Quando soube que eu me tinha convertido ao catolicismo, abraçou-me e beijou-me de alegria.
Como Deus é bom! — disse ela. Rezei muitos anos pela sua conversão e, enfim, tive o gosto de ver o meu pedido satisfeito.
No meio da conversa contei-lhe a minha aflição pela minha filhinha ter morrido sem baptismo.
Qual filhinha? — perguntou a criada.
Mytle, de quem você gostava tanto.
Quem é que lhe disse que Mytle morreu sem baptismo?
Eu proibi até ao último momento que lho administrassem.
Mas eu não fiz caso das suas proibições. Era o que faltava! Sem que o Senhor soubesse, levei-a a baptizar à Paróquia.
Como? Será verdade? — pergunta o velho pai?
Tão verdade como eu estar aqui. Se quer tirar as dúvidas, vamos à Paróquia e ali poderá ver o registo de baptismo de Maria Mytle.
O Senhor Thompson lá foi. E agora mostrava ao Padre Hayes a certidão de baptismo da filhinha. A sua oração tinha tido efeito para trás, no tempo. Deus, atendendo às suas futuras súplicas, fez que acriada levasse a menina a baptizar.
Muitos séculos antes da vinda de Cristo à terra, Deus perdoava os pecados dos homens atendendo à paixão e morte que o seu Divino Filho tinha de sofrer por nosso amor.
Também agora pode atender às orações que já sabe que daqui a muito tempo, Lhe hão-de ser dirigidas.