Curiosidades
Duas Catequeses sobre a Visita de Bento XVI
- 08-04-2010
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Duas Catequeses de Preparação da Visita de Bento XVI a Portugal
Os textos reflectem sobre a figura do Papa e sobre os desafios que a viagem coloca à Igreja Católica no nosso país.
«Ainda Precisamos de Pedro?» pergunta a primeira das duas catequeses de preparação da visita do Papa a Portugal (11 a 14 de Maio), elaboradas pelo Secretariado diocesano de Acção Pastoral para o Secretariado de Lisboa da Comissão Organizadora da viagem de Bento XVI.
A segunda catequese reflecte sobre os “desafios à Igreja de Lisboa” que se colocam com esta deslocação do Papa ao Patriarcado de Lisboa.
O primeiro texto, de um carácter geral, destina-se a toda a Igreja Católica em Portugal e o segundo documento, mais focado sobre o Patriarcado de Lisboa, pode servir de modelo para a reflexão a ser feita pelas restantes dioceses, explicou D. Carlos Azevedo.
A primeira catequese, da autoria do cónego Nuno Brás da Silva Martins, reitor do Seminário dos Olivais, debruça-se sobre o papel e o sentido do Pastor Universal, que é o Papa.
«O mundo pode gostar ou não daquilo que o Papa diz. Mas nós, cristãos, não podemos deixar de estar sempre com Pedro. Não se trata de opiniões ou gostos: trata‐se da necessidade de vivermos a fé que Pedro professa, e que coincide com a Verdade que o Pai revelou para a nossa salvação».
A segunda catequese, escrita pelo cónego José Augusto Traquina Maria, lança pistas sobre os desafios pastorais que se colocam à Igreja de Lisboa com esta visita, considerada como uma «oportunidade» para se crescer na Fé e para se manifestar o «Amor a Cristo e à Igreja».
«A Igreja de Lisboa tem necessidade de uma Graça especial: uma renovada adesão de Fé ao Evangelho, um Sim a Cristo, a começar pelos seus ministros mais responsáveis, passando por todos os cristãos mais empenhados na vida da Igreja e da Sociedade e chegar a todos os cristãos; a acontecer em experiência de comunidade e a testemunhar numa sociedade onde carecem ideais nobres. A Igreja de Lisboa, tem necessidade de uma nova geração de jovens cristãos que se disponha a fazer da vida uma afirmação de Amor e Verdade».
Primeira catequese preparatória dirigida ao Povo de Deus
Ainda precisamos de Pedro?
1. Os meios de comunicação social e, com eles, muitos cristãos, olham hoje para o Papa como alguém importante, sem dúvida, mas que é apenas mais um entre tantos outros líderes «morais» da humanidade.
Ao lado dos poderosos líderes políticos, existiram sempre aqueles homens e mulheres que, por aquilo que fizeram em prol da humanidade, por aquilo que sofreram pela liberdade do seu povo, ou que pela sua honestidade, honradez e verticalidade, se tornaram «referências morais» da humanidade. Para eles todos olham – mesmo após a sua morte – procurando inspirar‐se nas suas acções e nos seus pensamentos.
O Papa, pelo facto de se encontrar à frente de muitos milhões de crentes espalhados pelo mundo, é visto muitas vezes assim, pelo menos por aqueles que o vêem «de fora». Não admira por isso que nem sempre as suas afirmações sejam compreendidas, até por alguns que se dizem católicos. Daí escutarmos muitas vezes: «a Igreja devia adaptar‐se ao mundo de hoje»; «aquilo que a Igreja defende está fora de moda», e outras expressões semelhantes. Assim, alguns sentem‐se na liberdade de tomar do Papa apenas aquilo que concorda com as suas opiniões, deixando de lado todas as outras «declarações», e justificando esta atitude com a autonomia da sua «consciência». Mas importa que nos perguntemos: o Papa será mesmo apenas um «líder moral» da humanidade, propondo as suas opiniões para os que as quiserem seguir, mesmo quando se dizem católicos?
Sem dúvida que a pessoa do Papa não figura ao lado dos poderosos chefes políticos («quantos militares tem o Papa?» ‐ terá um dia, já próximo do fim da II Guerra Mundial, interrogado ironicamente Estaline, Presidente da então União Soviética, quando alguém lhe recordou que, na libertação da Itália do nazismo, havia que contar com o Papa). É certo que Deus deu à Igreja do século XX figuras de Papas cujo prestígio moral foi muito além do mundo católico. Basta recordar Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II, para elencarmos apenas aqueles mais próximos de nós, e cujo processo de beatificação ou está para se concluir ou já se encontra concluído. Sabemos que, infelizmente, nem sempre foi assim. Mas o facto é que o serviço de Pedro na Igreja vai muito além da simples opinião, dos gestos simbólicos aplaudidos por todos e da liderança moral da humanidade.
2. Paremos um pouco para nos interrogarmos: quem é Pedro? Ele é, em primeiro lugar, a «pedra».
Vejamos mais de perto o texto do Evangelho (Mt 16,13‐19):
13Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» 15Perguntou‐lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» 17Jesus disse‐lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. 19Dar‐te‐ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu».
Notemos, logo no início, como Jesus interroga os discípulos acerca daquilo que os outros dizem sobre si próprio: simples curiosidade? Necessidade de saber se está ou não a ser bem compreendido? Certamente que Jesus se encontrava para além de tudo isso. Mas demo‐nos conta, já à partida, de algo importante:
Jesus não interroga o seu grupo mais chegado acerca daquilo que a «opinião pública» pensa sobre o seu ensino, mas sobre aquilo que Ele é. Esta é a questão decisiva para os cristãos: aquilo que Jesus é (que, certamente, transparece no que Ele ensina e diz, mas que vai muito mais além: transparece nos seus gestos e atitudes, em toda a sua pessoa). Os discípulos vão respondendo com as várias opiniões que escutaram: uns dizem que é João Baptista que voltou à vida, outros dizem que é Elias finalmente regressado do céu, e outros que é Jeremias ou um profeta.
É então que Jesus coloca a questão decisiva (quase parece que a primeira interrogação não foi senão o caminho para esta segunda, verdadeiramente mais importante): «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Com efeito, agora os discípulos são convidados a dar uma resposta que os compromete e à sua existência, diante do próprio Jesus – é que não se trata de mais um daqueles diálogos entre discípulos, sobre se o Mestre é ou não bom, se vale ou não a pena deixar tudo para O seguir, ou até sobre quem, entre eles, seria o mais importante…
Não é difícil imaginar um certo embaraço de todos, tanto mais que esta questão já a tinham colocado várias vezes, sem terem chegado a grandes resultados (recordemos, por exemplo, Mt 8,27, depois de Jesus ter acalmado a tempestade, quando os discípulos se interrogam: «quem é este homem?»). Mas, no meio deste momento de embaraço, Pedro toma a palavra para responder em nome de todos: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». Pedro expressou a fé comum, a fé cristã.
Se o relato ficasse por aqui, poderíamos pensar que Pedro seria o discípulo mais brilhante, ou o mais inteligente. Mas não: Jesus retira a Pedro qualquer mérito na resposta, quando lhe diz: «não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Quer dizer: Pedro professou correctamente a fé, não por ter interrogado os outros sobre as respectivas opiniões e, depois, ter dado voz à opinião da maioria, ou (muito menos) por ser mais inteligente que os demais; aliás, segundo diz Jesus, nem sequer a fé cristã é uma atitude que seja simplesmente fruto da sabedoria humana: foi o Pai quem a revelou, quem a ensinou, quem a mostrou. Então, podemos também perceber que, se Pedro foi escolhido pelo Pai para, em nome de todos, professar a fé revelada, ele tenha igualmente sido escolhido por Deus para ser a «pedra».
E, por isso, Jesus diz‐lhe logo de seguida: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar‐te‐ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu».
A vocação de Pedro já tinha sido definida anteriormente, quando Jesus o convidou a deixar as redes para passar a ser «Pescador de homens» (Mt 4,19); mas, agora, ela torna‐se ainda mais clara e definida: trata‐se de ser a «pedra» segura, o ponto de referência que afirma a fé que todos partilham e que é muito mais que a simples opinião da maioria, mas é antes ensinada por Deus, fruto da revelação que o Pai faz acerca de Jesus, e à qual todos são convidados a aderir e a fazer sua. É assim que Pedro e a fé por ele professada e ensinada se encontram na base da construção da Igreja.
A profissão da fé (atitude em que o ser humano se entrega total e livremente nas mãos de Deus, porque reconhece em Cristo o «Filho único do Pai») não se limita, no entanto, ao «falar». Com efeito, «professar a fé» não é simplesmente questão de palavras: é sobretudo questão de vida que, é certo, coincide e é guiada pelas palavras ditas, de tal modo que Pedro, com o seu martírio em Roma, a irá confessar até ao fim.
Não nos pode pois espantar que àquele que tem por missão professar a fé revelada pelo Pai e que é a fé comum, a fé da Igreja, Jesus acrescente ainda uma outra tarefa: «Dar‐te‐ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu». Ou seja: Jesus quer que Pedro continue a tarefa que o Pai tinha confiado ao próprio Jesus de ligar a terra e o céu, conduzindo a todos até Deus. Assim, percebemos também como o «poder das chaves» não é qualquer coisa que se encontre à disposição do livre arbítrio do Apóstolo: é antes a garantia, dada pelo próprio Jesus, de que Pedro (e a Igreja que o tem a ele e aos demais Apóstolos nos seus alicerces) nunca se enganará em matéria da verdadeira fé, não por causa dos seus méritos ou sabedoria humana, mas porque essa fé é revelada por Deus, e a Igreja nela persevera e caminha, ao longo dos séculos e no meio de não poucas dificuldades.
3. Tudo isto não significa que Pedro deixe de ser homem, e até, deixe de pecar (chegará mesmo a negar o Senhor, durante a paixão); mas significa que, naquilo que é central para a fé, ou seja, quando Pedro professa, em nome de todos, a fé que o Pai revelou, ele não erra. E, por isso, o Apóstolo e os seus sucessores (os Papas), continuarão, para sempre, a ser um guia seguro para que o ser humano chegue ao conhecimento e à vivência da Verdade que é Jesus e, desse modo, a salvação (a vida com Deus) possa estar ao alcance de todos. É também por isso que Pedro escuta de Jesus, quando este anuncia a traição do discípulo, uma outra especificação das suas tarefas: «Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando tiveres voltado, confirma os teus irmãos» (Lc 22,32).
A tarefa entregue a Pedro de professar a fé revelada por Deus adquire aqui uma outra faceta importante: confirmar os irmãos na fé. Quer dizer: assegurar aos irmãos que aquilo em que acreditam não é uma opinião nascida do seu pensar, mas é a verdadeira fé. E, deste modo, Pedro passa a ser também, a expressão da unidade, o sinal visível da comunhão que é a Igreja.
A comunhão é o modo de viver de Deus: Ele é Pai, Filho e Espírito Santo, uma relação de amor, de que o próprio Deus nos quer fazer participantes através do Baptismo e na vida activa e consciente da Igreja.
Assim percebemos também que a fé cristã não consiste apenas em acreditar em verdades doutrinais: ela é participação na vida de amor que une o Filho de Deus ao Pai e, por isso, é vida, amor de Deus em nós, que nos permite ultrapassar os egoísmos e viver em comunhão com os irmãos. Desta vida concreta, que une todos os baptizados no novo Povo de Deus que é a Igreja, também Pedro é o sinal, a expressão a visibilidade última e primeira: a ele estão unidos os outros sucessores dos Apóstolos, os Bispos, e a estes estamos unidos nós os outros cristãos, que deste modo temos a certeza de viver não numa mera organização humana, mas na Igreja querida por Jesus Cristo. Quando Pedro nos confirma na fé, está a exercer este seu ministério de ser a expressão da comunhão que é a Igreja, espalhada por todos os cantos do mundo.
4. Isto não impede, como é óbvio, que o Papa tenha as suas opiniões, muito humanas, os seus gostos e as suas predilecções. Recentemente, o Papa Bento XVI reconhecia‐o, ao afirmar no início do seu livro Jesus de Nazaré que, ali, o leitor encontraria o crente e o teólogo, mas que a obra não constituía «magistério» e que, por isso, discordar de alguma das posições teológicas ali defendidas não configurava necessariamente um afastamento da fé verdadeira. Trata‐se, no entanto, de situações habitualmente raras: o Papa, quando fala para todos, não dá opiniões, ensina. E, quando o faz, tem presente não apenas a situação de uma parte mas de toda a Igreja: ele manifesta, publicamente, a fé em que todos se devem rever, a fé que chegou até nós e ao mundo inteiro, e que nos permite afirmar que, em Portugal, temos e vivemos a mesma fé que os nossos irmãos do Iraque, que por causa dela são perseguidos e expulsos do seu país, da China ou da Austrália, e que temos e vivemos a mesma fé de S. Pedro, de S. Paulo, da Virgem Maria, de S. Agostinho de Hipona, de S. Francisco de Assis, de S. Teresa de Ávila, de S. Inácio de Loyola, da Beata Teresa de Calcutá e de João Paulo II.
A figura de Pedro, o seu ministério, no seio da Igreja e do mundo, está pois bem longe da simples expressão de opiniões humanas. Certamente: o discernimento que ele é chamado a fazer é «pastoral», ou seja, ainda que nem sempre tenha a ver com o núcleo da fé, é tarefa do Papa mostrar como viver uma determinada situação no melhor modo em que um cristão o deve fazer naquele determinado momento; mesmo isso há-de ser acolhido não como mais uma opinião entre muitas outras, mas antes como aquilo a que o sucessor de Pedro nos convida.
O mundo pode gostar ou não daquilo que o Papa diz. Mas nós, cristãos, não podemos deixar de estar sempre com Pedro. Não se trata de opiniões ou gostos: trata‐se da necessidade de vivermos a fé que Pedro professa, e que coincide com a Verdade que o Pai revelou para a nossa salvação.
Para o diálogo em grupo ou para a reflexão individual:
1. Reler o texto, se necessário procurando esclarecer as dúvidas.
2. Como temos vivido a fé da Igreja? Procuramos fazê‐la nossa?
3. Procuramos estar atentos ao ensino do Papa? Como temos lido e acolhido as suas encíclicas e os seus pronunciamentos?
4. Que podemos fazer para melhorar o conhecimento e a divulgação do ensino de Pedro?
5. Somos capazes de aderir ao ensino de Pedro, procurando conhecer as suas razões, mesmo quando ele não é do agrado da opinião pública?
Autor do Texto: Cónego Nuno Brás da Silva Martins
Secretariado de Acção Pastoral do Patriarcado de Lisboa, 2010
Segunda catequesepreparatória dirigida ao Povo de Deus
Visita do Papa: desafios à Igreja de Lisboa
1. Para diálogo em grupo
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, vem a Portugal de 11 a 14 de Maio. Em Lisboa, presidirá à celebração da Eucaristia no Terreiro do Paço, no dia da chegada, 11 de Maio, às 18.15H. Toda a Visita do Papa Bento XVI pode e deve ser aproveitada por nós cristãos para crescermos na Fé e reforçar o nosso sentido de pertença a Cristo e à Sua Igreja e o nosso estímulo e compromisso apostólicos. Vejamos algumas questões para suscitar o diálogo e porventura a valorização pastoral da Visita do Santo Padre.
Tendo em conta a realidade social portuguesa, a realidade das Comunidades cristãs e dos Movimentos de Apostolado que somos e temos na nossa Diocese;
1 ‐ Quais as expectativas desta visita do Papa Bento XVI?
2 ‐ Qual o bem mais desejável para a Igreja em Portugal e particularmente para a Igreja de Lisboa que esta visita do Santo Padre pode contribuir?
3 ‐ Estarão os cristãos da Igreja Diocesana de Lisboa dispostos a novos desafios?
Em contexto de crise;
4 ‐ Que razões têm os cristãos de Lisboa para receberem o Papa em alegria e festa cristã?
5 ‐ Como aproveitar esta Visita e dar lugar à Esperança?
2. Para leitura e reflexão
Introdução
O Santo Padre vem visitar‐nos na sua Missão de Pastor universal da Igreja; vem como peregrino, vem como sucessor do Apóstolo Pedro visitar a Igreja que está em Portugal para nos confirmar na Fé em Jesus Cristo.
Vamos procurar estar atentos para escutar a Palavra do Papa. A sua visita será por nós interpretada como mais um sinal que Deus nos oferece. Como é sua tradição, Portugal vai receber bem o Papa e ouvi‐lo atentamente.
Para nós cristãos, porém, esta é uma oportunidade para crescermos na Fé, para manifestarmos o Amor a Cristo e à Igreja. As manifestações de alegria que possamos fazer pela presença do Papa, serão tão autênticas na medida em que estivermos em sintonia com ele no amor a Jesus Cristo e na missão confiada à Igreja, missão de que o Papa tem a responsabilidade de presidir.
Presidida pelo nosso Pastor, o Senhor Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, a Igreja Diocesana de Lisboa, a que temos a alegria pertencer, vai receber o Bispo de Roma, Pontífice universal da Igreja.
Preparemo‐nos pela leitura e pela reflexão, individual e em grupo, para melhor nos situarmos na compreensão da Igreja e da sua missão. Preparemo‐nos também espiritualmente pelos Sacramentos e supliquemos em oração pelo bom êxito apostólico da Visita do Papa Bento XVI a Portugal.
Quando queremos valorizar um determinado momento, um acontecimento ou um evento e desejamos que tenha beleza, significado e boas consequências, então necessitamos de o preparar bem. O que se segue, ainda que breve, poderá servir de contributo para essa necessária preparação da recepção do Santo Padre, o Papa Bento XVI.
A Igreja Apostólica
Entendamos aqui Igreja não como um espaço onde nos reunimos, mas como um povo convocado pelo anúncio do Evangelho. Um povo reunido por ter acreditado na Palavra de Deus, no anúncio do Evangelho, e por isso mesmo celebra a Fé em Cristo Ressuscitado. Esta Assembleia vai aumentando pelo testemunho dos cristãos e pelo dom do Baptismo pelo qual, passando pela Morte e Ressurreição do Senhor, renascemos para a vida nova em Cristo. Como ensina São Paulo “Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição” (Rom 6, 4‐5).
O Senhor Jesus escolheu doze Apóstolos e assim indicava que a Igreja no desígnio salvífico de Deus havia de ser a continuidade de Povo Santo de Deus que se formara no Antigo Testamento com as doze tribos de Israel.
“Jesus subiu a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar”(Mc 3,13‐14).
Apóstolo significa enviado. No Evangelho de S. João, o Espírito Santo é o dom de Deus transmitido por Cristo Ressuscitado aos Seus Apóstolos está associado à missão que lhes é confiada. “Estavam cheios de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer‐lhes: ‘a Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio’. Em seguida, soprou sobre eles e disse‐lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos’”(Jo 20,20‐23).
Jesus deu origem à Igreja escolhendo e contando com a colaboração dos seus Apóstolos.
Reconheçamos aqui toda a pedagogia de Jesus na formação dos Apóstolos levando‐os a fazerem rotura com dimensões da vida anterior ao seu chamamento; levando‐os a deixar uma profissão e a iniciarem‐se numa vida cheia de esperança mas marcada pela disponibilidade e pela pobreza; formando‐os no espírito de serviço e a porem em prática o mandamento novo do Amor; a serem capazes de assumir uma missão em situações difíceis; etc.
A Igreja, tem origem em Jesus e seus Apóstolos e sem deixar de afirmar a centralidade do acontecimento Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo, consideremos a experiência de vida de Jesus com os Apóstolos como fonte de inspiração para a nossa vida concreta de cristãos, leigos, religiosos e ministros ordenados.
Os Bispos são os Sucessores dos Apóstolos
“Os 12 Apóstolos garantem a continuidade da salvação e da sua actualidade em cada tempo, até ao fim. Já vimos que o número de 12 sugere a continuidade com o Antigo Testamento. Eles garantem, sobretudo, a continuidade entre a missão terrena de Jesus e a Sua ressurreição em que se inaugura o tempo definitivo. Este é o critério para a escolha de Matias, para preencher o lugar de Judas: alguém que tenha acompanhado Jesus desde o início e que tenha sido testemunha da Sua ressurreição.
A explicitação da missão dos Apóstolos fica completa, com as palavras que Jesus lhes dirige antes da Ascensão:
Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado, e, vendo‐o, o adoraram; mas houve alguns que tinham duvidado. Aproximou‐se‐lhes Jesus e falou‐lhes nestes termos ‘foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando‐as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando‐as a observar tudo o que vos mandei. E eis que Eu estou convosco todos os dias até ai fim do mundo’ (Mt. 28, 16‐20)
O horizonte da missão é universal: destina‐se aos homens de todos os tempos e até ao fim dos tempos. Vê‐se que Jesus queria que eles escolhessem sucessores”. (D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, 3ª Catequese Quaresmal de 2010).
Os Bispos são na Igreja os sucessores dos Apóstolos; são chamados a estarem sempre com o Senhor Jesus e a serem por Ele enviados. Jesus infunde‐lhes coragem para enfrentarem a missão: “Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e vos constitui para irdes e dardes muito fruto, e fruto que permaneça;” (Jo 15,16).
Como legítimos sucessores dos Apóstolos, pela cadeia ininterrupta da imposição das mãos desde os Apóstolos, os Bispos formam um “colégio episcopal” considerando‐se unidos na mesma solicitude por todas as Igrejas Diocesanas espalhadas pelo mundo. Assim, sob a autoridade do Papa, Sucessor do Apóstolo Pedro, os Bispos são todos responsáveis por toda a Igreja.
Jesus enviou os Apóstolos para continuarem a Sua Missão mas quis que estivessem unidos pelo Seu Amor e a Sua Paz assegurando‐lhes continuar com eles pelo seu Espírito e escolhendo o Apóstolo Pedropara presidir à unidade do grupo, isto é, à comunhão e unidade da Fé.
O lugar do Apóstolo Pedro entre os Doze O Senhor Jesus formou os Seus Apóstolos durante cerca de três anos. Durante esse tempo e no “centro” do seu Evangelho, São Mateus destaca a confissão de Fé do Apóstolo Pedro:
13Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14*Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» 15Perguntou‐lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»
17*Jesus disse‐lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18*Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. 19*Dar‐te‐ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» Mt. 16, 13‐19).
Jesus deu a Simão o nome de Pedro para lhe atribuir uma responsabilidade de especial comunhão com Ele. Cristo é a Pedra rejeitada pelos homens, que veio a tornar‐se Pedra Angular. Cristo é a Pedra fundamental da Igreja e Pedro pelo próprio nome está associado à particular Missão de Cristo de presidir ao grupo dos Apóstolos.
Pedro, vem do termo grego “petros” e traduz o aramaico “cefas” que significa “rocha”. Portanto, o nome de Pedro dado ao Apóstolo designa também a sua participação na necessária firmeza de Cristo para a construção e condução da Igreja.
Como ensina o Concílio Vat. II, Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica; depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou‐a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cf. Mt. 28,18 ss), e erigindo‐a para sempre em “coluna e fundamento da verdade” (1ª Tim. 3,5). (Lúmen Gentium 8).
O Papa, é o sucessor do Apóstolo Pedro
Os Bispos são todos os sucessores dos Apóstolos. Porém, quanto ao Bispo de Roma, é afirmado com fundamento que ele é o sucessor do Apóstolo Pedro. Roma foi a cidade onde o Apóstolo foi mártir e onde foi sepultado. É conhecida a lista de todos os sucessores do Apóstolo Pedro em Roma até ao Papa actual, Bento XVI.
Portanto, assim como o Apóstolo Pedro assumiu a presidência do grupo dos Doze Apóstolos, assim o seu sucessor, o actual Papa Bento XVI tem a missão especial de presidir ao Colégio Episcopal dos sucessores dos Apóstolos, e com eles garantir a unidade e a comunhão da Igreja.
“Papa” é uma palavra cheia de carinho, usado pelas crianças tratando o seu pai por “papá” ou “paizinho”. O Papa é o “Bispo de Roma”, tem também a sua Diocese para pastorear e para isso necessariamente tem colaboradores. O Papa é o “Vigário de Cristo” porque sucede ao Apóstolo Pedro na responsabilidade de presidir à Igreja em nome de Cristo. É o “Sumo Pontífice” porque é o primeiro na responsabilidade da Igreja de em nome de Cristo ser “ponte” entre o céu e a terra. É o “Santo Padre” porque nele se espelha a santidade de Cristo presente na Sua Igreja. No tratamento directo com o Papa, pode dizer‐se “Santo Padre” mas é usado também a expressão “Santidade”.
Dentro de Roma existe o Vaticano, considerado uma Cidade‐Estado. Deste modo, o Papa tem liberdade pessoal perante outros poderes e no contexto das Nações é considerado Chefe de Estado; e assim é recebido em algumas circunstâncias. Porém, a razão de ser do Vaticano é a de ser ali que está a sepultura do Apóstolo Pedro e de ser ali que está a Cadeira ou Sede do Papa. Por isso se designa também o Vaticano por “Santa Sé”.
Durante três dias o Papa terá a sua “Sede” em Portugal pois vem visitar‐nos. Sentir essa visita como um sinal de Deus e ver aí um impulso para ser Igreja em tempos difíceis, eis uma expectativa. Porém, como diz o Concílio: “A luz dos povos é Cristo” (Lúmen Gentium 1). Em Cristo se joga a nossa identificação como filhos de Deus, a nossa pertença à Igreja e a nossa comunhão com o Santo Padre e com o Senhor Patriarca.
Em nome de Cristo, a visita do Papa tem essa dimensão: confirmar‐nos na mesma comunhão de Fé.
A Palavra do Papa Bento XVI: O indispensável encontro com Cristo Ressuscitado Comentando a 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios a propósito do Fogo que há‐de manifestar o que é o homem , o Papa Bento XVI adianta um comentário que diz bem como é importante e fundamental o nosso encontro com Cristo Ressuscitado:
“Alguns teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador. O encontro com Ele é o acto decisivo do Juízo. Ante o seu olhar, funde‐se toda a falsidade. É o encontro com Ele que, queimando‐nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos. As coisas edificadas durante a vida podem então revelar‐se palha seca, pura fanfarronice e desmoronar‐se. Porém, na dor deste encontro, em que o impuro e o nocivo do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação. O seu olhar, o toque do seu coração cura‐nos através de uma transformação certamente dolorosa « como pelo fogo ». Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo do seu amor nos penetra como chama, consentindo‐nos no final sermos totalmente nós mesmos e, por isso mesmo totalmente de Deus. Deste modo, torna‐se evidente também a compenetração entre justiça e graça: o nosso modo de viver não é irrelevante, mas a nossa sujeira não nos mancha para sempre, se ao menos continuámos inclinados para Cristo, para a verdade e para o amor. No fim de contas, esta sujeira já foi queimada na Paixão de Cristo”. (Spe Salvi 47)
3. Para assumir novos desafios
“Sem Deus, o homem não sabe quem é nem para onde vai” (Papa Bento XVI, in Caritas in Veritate, 78)
Em comunhão com os sucessores do Apóstolos, o Santo Padre o Papa Bento XVI, Pastor da Igreja Universal, o Senhor Patriarca D. José Policarpo, Pastor da Igreja de Lisboa, e demais Bispos da Igreja, Deus chama‐nos a ser testemunhas de Cristo Ressuscitado. Cristo está Vivo!
Animados pelo mesmo Espírito, afirmemos a nossa Fé em Deus, Trindade Santíssima; Pai, Filho e Espírito Santo. E assumamos o propósito: ser homens e mulheres de Fé, manifestando a nossa Confiança no Senhor Jesus, celebrando e seguindo‐O testemunhando que n’Ele há vida nova.
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“O fim da esperança cristã é o reino de Deus, isto é, a união do homem e do mundo com Deus, mediante um acto de poder e amor divinos. O objectivo próximo, que nos aponta o caminho e nos confirma a justeza do grande fim, é a contínua presença deste amor e deste poder, que nos acompanham na nossa actividade e nos socorrem quando as nossas possibilidades se acabam” (Joseph Ratzinger, in Olhar para Cristo, p.59)
Em comunhão com os nossos Pastores e com os irmãos dos nossos Movimentos e Comunidades Paroquiais, empenhados com toda a Igreja em ser “luz do mundo e sal da terra”, reconheçamos que a Esperança se funda na vinda de Cristo ao mundo. Em Cristo tudo de bom é possível.
E bom será o homem encontrar‐se com Deus e poder tratá‐LO por Pai. A Esperança desta graça se alimenta na escuta da Palavra reveladora da Paixão de Deus pela humanidade que aconteceu em Cristo.
Assumamos o propósito da escuta da Palavra de Deus que nos revela Jesus Cristo e nos faz homens e mulheres de Esperança, animados na construção do Seu Reino.
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“O amor de Deus chama‐nos a sair daquilo que é limitado e não definitivo, dá‐nos coragem de agir, continuando a procurar o bem de todos” (Papa Bento XVI, in Caritas in Veritate, 78)
Decididamente admitamos Cristo Vivo, no centro da nossa vida interior. Guardemos a Sua Palavra procurando pô‐la em prática.
Amar a Cristo e amar a Sua Igreja, nossa Mãe, que nos gerou na Fé como Filhos de Deus. Igreja a que preside o Papa, sucessor do Apóstolo Pedro, a quem O Senhor Jesus responsabilizou de apascentar o Seu rebanho.
É este Amor de Deus que nos coloca em conversão permanente, em busca da nossa melhor identificação com Cristo. E n’Ele, descobrimos liberdade, pobreza evangélica e disponibilidade para colaborar alegremente na construção do Seu Reino.
Propósito a assumir: pertencer a Cristo e, apesar das limitações pessoais, manifestar‐Lhe disponibilidade para generosamente participar com alegria na construção do bem comum.
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“A oração, como meio para haurir continuamente força de Cristo, torna‐se aqui uma urgência inteiramente concreta. Quem reza não desperdiça o tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção” (Papa Bento XVI, in Deus Caritas est, 36)
Buscar a Fidelidade da vida cristã pela frequência dos sacramentos da Eucaristia e da Penitência e Oração diária; e assim, assumir com alegria os desafios de Fé, vivendo em Esperança, fazendo da nossa vida de cristãos um sacramento do Amor de Cristo no mundo.
A Igreja de Lisboa, tem a responsabilidade de ser a maior Diocese de Portugal; tem a responsabilidade de ser a Diocese onde está a cidade Capital do País; a Igreja de Lisboa tem a responsabilidade de ser referência para as outras Dioceses de Portugal.
A Igreja de Lisboa tem necessidade de uma Graça especial: uma renovada adesão de Fé ao Evangelho, um Sim a Cristo, a começar pelos seus ministros mais responsáveis, passando por todos os cristãos mais empenhados na vida da Igreja e da Sociedade e chegar a todos os cristãos; a acontecer em experiência de comunidade e a testemunhar numa sociedade onde carecem ideais nobres.
A Igreja de Lisboa, tem necessidade de uma nova geração de jovens cristãos que se disponha a fazer da vida uma afirmação de Amor e Verdade.
Assumir: o nosso ideal é Jesus Cristo e para o manter necessitamos de cultivar a oração individualmente e em comunidade.
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“O amor é possível, e nós somos capazes de o praticar, porque somos criados à imagem e semelhança de Deus. Viver o amor e, deste modo, fazer entrar a luz de Deus no mundo: tal é o convite que vos queria deixar…” (Papa Bento XVI, in Deus Caritas est, 39)