Cuidado com as superstições
“Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Lv 19,31). “Serás inteiramente do Senhor; teu Deus” (Dt 18,13). “Não praticareis a adivinhação nem a magia” (Lv 19,26b)
Sempre houve esta condenável idolatria, que continua moderna, chamada superstição, pela qual se procura uma divinização espúria das energias ocultas. Até mesmo entre os católicos, mal formados, se multiplicam, superstições que tocam o ridículo. São muitas e variadas.
Entre elas, muitos são os que colocam na entrada das lojas e casas vasos com a espada de São Jorge; outros, ferraduras, raminhos de arruda; inúmeros os que andam com “pedras, pêndulos, cristais e outras bugigangas para espantar as energias negativas”.
Há também aqueles que vivem impressionados com os males que possam advir dos “trabalhos” realizados nos terreiros. Querem combater as forças do mal de qualquer maneira e, apesar de frequentarem os Sacramentos da Igreja, usam estes “rituais” para se “purificarem”.
Estamos já no início do terceiro milénio e, no entanto, prevalecem os feitiços: uma pedra, uma raiz, uma pena de pássaro, uma concha, um dente de animal, ainda há pessoas que pregam uma ferradura atrás da porta para atrair sorte nas questões económicas ou vão atrás do trevo de quatro folhas, portador de felicidade.
A enorme lista de superstições que aparece na vida de tantas pessoas, poderia ser abandonada se houvesse mais confiança em Deus e na protecção dos anjos e santos; e não se entregariam a práticas tão irrisórias, fundadas num temor doentio. Trazer um amuleto não pode nunca atrair qualquer tipo de ajuda sobrenatural, nem afastar as investidas do Maligno, o qual, segundo São Pedro, deve ser vencido unicamente pela fé (1 Pd 5,8).
Todas as crendices envolvidas nas superstições carecem de qualquer base filosófica e teológica. É inteiramente destituída de lógica a associação de causa e efeito professada pelos supersticiosos. Sob o ponto de vista da teologia, as práticas supersticiosas demonstram um senso religioso decadente.
No fundo, apesar dos pesares, é a nostalgia do Absoluto que impera. Aquele que perde a fé na Providência de Deus que governa sabiamente o mundo e se interessa pelos homens de modo especial, tende a curvar-se ao império de uma força cega criada pela fantasia humana.
O cristão deve dar sempre a demonstração de uma crença robusta, firmada nas Escrituras, acreditando numa palavra que Jesus repetiu tantas vezes: “Não tenhais medo” (Mc 6,50; Lc 24,36; Jo 6,20). “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5); e queria dizer que com Ele tudo pode quem Nele confia. Fora de Jesus não há salvação (At 4,12), disse São Pedro aos chefes judeus.
O escritor romano Varrão († 7 a.C.) exprimia muito bem, na sua linguagem politeísta, o que significa a religiosidade inferior, quando afirmava que “o supersticioso é o homem que teme os deuses como inimigos, ao passo que o homem religioso os reverencia como pais” (citado por S. Agostinho, De civ. Dei 6.9.2). Quintiliano († 120 d.C.), por sua vez, notava que a “superstição difere da religião como o homem que procura por curiosidade difere do homem que procura por amor” (De inst. orat. VIII 3). Em suma, vê-se que já entre os romanos pagãos a superstição era tida como uma deterioração ou contrafação da Religião.
O Catecismo da Igreja diz que: “A superstição é o desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Pode afetar também o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, por exemplo: quando atribuímos uma importância de alguma maneira mágica a certas práticas, em si mesma legítimas ou necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à materialidade das orações ou dos sinais sacramentais, sem levar em conta as disposições interiores que exigem, é cair na superstição” (n.2111). Aqui se enquadram as tais “correntes de oração obrigatórias” sob pena de castigos.
A adivinhação, leitura de cartas ou qualquer outro rito supersticioso do tipo, apontam para a predição de coisas futuras ou ocultas sem recorrer a Deus. Pretende-se descobrir aquilo que só Deus pode conhecer. O grande pecado da superstição está que a pessoa quer procurar fora de Deus, poder e conhecimento, que Deus não nos quer dar porque não é bom para nós. O supersticioso, por práticas mágicas quer impor a Deus fazer a sua vontade por meios mágicos.
Deus revelou-nos algumas coisas sobre o futuro, que nos interessam, por exemplo, haverá um juízo particular e um final; e depois o céu ou inferno. E deu-nos inteligência, liberdade, vontade, consciência e outros recursos para que nos preparemos responsavelmente para o futuro. Não podemos controlar o futuro, pois ele está nas mãos do Senhor. Precisamos de confiar Nele como um Pai infinitamente bom e cooperar com a sua graça para fazer a parte que nos corresponde.
No entanto, o homem, levado pela soberba, quer ter tudo sob controle, sem colocar a sua confiança em Deus. É este o pecado da superstição, buscando conhecimento ilícito, por caminhos que estão fora da revelação divina, como a adivinhação. É preciso saber que estes recursos ocultistas, sem que se saiba, recorrem ao demónio; e quem a pratica fica, de alguma maneira, vinculado a ele. São Paulo disse que: “As coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demónios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demónios. Não podeis beber ao mesmo tempo o cálice do Senhor e o cálice dos demónios. Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do Senhor e da mesa dos demónios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes do que ele?” (1Cor 10,20-22).
À medida que se perde a fé, aumentam as superstições, mesmo entre pessoas que não pertencem a estes grupos, mas que buscam solução para os seus problemas. Alguns pensam que seja mera brincadeira e fazem-no por curiosidade ou pela pressão de um grupo. Mas precisamos de recordar que aí está em jogo a nossa fidelidade a Deus, com quem não se brinca.
Quando o homem não encontra o Deus verdadeiro, e não se entrega a Ele, então, fabrica o seu deus, à sua pequena imagem e semelhança; semelhante à pedra, ao cristal, à magia, etc.
Sobretudo na festa de Ano Novo os espíritos esotéricos exaltam-se em busca das melhores condições para serem agraciados pelos seus deuses e pelos poderes ocultos do além. Para uns é a exigência de começar o Ano com o pé direito; para outro é estar de roupa branca, mesmo as mais íntimas, ainda que alma não esteja tão clara; para outros é pular as ondinhas do mar… e a pobre miséria humana multiplica as fantasias e as suas falsidades.
O homem tem sede de Deus! Ou ele adora e serve ao Deus verdadeiro, “Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis”, ou passa a adorar e a servir a deuses falsos, mesmo que conscientemente não se dê conta disso. Outros ainda, mais desorientados, correm atrás de horóscopos, de zodíacos, de mapas astrais, de cartomantes, de necromantes, de búzios… Nas grandes e pequenas livrarias, proliferam todos estes tipos de livros, muito bem explorados por alguns escritores e editoras. Lamentavelmente, muitos cristãos (e até católicos!), por ignorância religiosa na sua maioria, acabam também por seguir esses caminhos tortuosos e perigosos para a própria vida espiritual.
Ao cristão é permitido buscar unicamente em Deus, pela oração, todo o consolo, auxílio e força de que necessita – e em nenhum outro meio ou lugar. São Paulo disse: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças” (Fl 4,6). E São Paulo advertiu severamente as comunidades cristãs de que fugissem da idolatria (cf. I Cor 10,14).
Não podeis participar ao mesmo tempo da mesa do Senhor e da mesa dos demónios. Ou queremos provocara ira do Senhor?” (1 Cor 10,20-22). Quando Deus não atende um pedido nosso, Ele sabe a razão; e, se temos fé e confiança Nele, não vamos atrás de coisas proibidas.
O Ano que começa é um grande presente de Deus para cada um de nós; e deve ser colocado inteiramente em Suas mãos, para que Ele cuide de cada dia e de nós. Nada alegra tanto a Deus do que vivermos na fé. Não devemos recorrer a nenhuma destas práticas ou ritos, pois são totalmente contrárias à nossa fé. Recordemos que o inimigo anda como “um leão procurando a quem devorar”.