Curiosidades
Cuidado com as penitências absurdas na Quaresma
- 08-02-2023
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Quaresma é tempo de lutarmos contra os nossos pecados, pois é
a pior realidade para nós, é um período de reflexão, penitências, conversão
espiritual em preparação para o mistério pascal. O Catecismo diz: “Aos olhos da
fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado, e nada tem consequências piores
para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (n. 1489).
Olhando para Jesus, desfigurado e destruído na cruz,
entendemos o horror que é o pecado. Foi preciso a morte de Cristo para que nos
livrássemos do pecado e da morte eterna, a separação da alma de Deus. Então, a
Igreja propõe-nos 40 dias de penitência, de resistência contra o pecado, na
Quaresma.
Prática
Esta prática é baseada na vida do povo de Deus. Durante 40
dias e 40 noites, caiu o dilúvio que inundou a terra e extinguiu a humanidade
pecadora (cf. Gn. 7,12). Durante 40 anos, o povo escolhido vagou pelo deserto,
em punição pela sua ingratidão, antes de entrar na terra prometida (cf. Dt
8,2).
Durante 40 dias, Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado
direito, em representação do castigo de Deus iminente sobre a cidade de
Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés jejuou durante 40 dias no Monte Sinai antes de
receber a revelação de Deus (cf. Ex 24, 12-17). Elias viajou durante 40 dias
pelo deserto, para escapar da vingança da rainha idólatra Jezabel e ser
consolado e instruído pelo Senhor (cf. 1 Reis 19,1-8).
O próprio Jesus, após ter recebido o baptismo no Jordão, e antes
de começar a vida pública, passou 40 dias e 40 noites no deserto, rezando e
jejuando (cf. Mt 4,2). É um tempo de luta contra o mal.
São Paulo dá-nos uma indicação precisa: “Nós vos exortamos a
que não recebais em vão a sua graça”, porque Ele diz: “No tempo favorável, eu
te ouvi; no dia da salvação, vim em teu auxílio’’. Este é o “tempo favorável”,
este é “o dia da salvação” (2 Cor 6,1-2). A liturgia da Igreja aplica estas
palavras de modo particular ao tempo da Quaresma. “Convertei-vos e crede no
Evangelho” e “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar”.
Convite à conversão
O primeiro convite é à conversão, um alerta contra a
superficialidade da nossa maneira de viver. Converter-se significa mudar de
direcção no caminho da vida: uma verdadeira e total inversão de rumo. Conversão
é ir contra a corrente, contra a vida superficial, incoerente e ilusória que,
frequentemente, nos arrasta, domina e torna-nos escravos do mal ou pelo menos
prisioneiros dele.
Jesus Cristo é a meta final e o sentido profundo da conversão,
é o caminho ao qual somos chamados a percorrer, deixando-nos iluminar pela sua
luz e sustentar pela sua força. A conversão é uma decisão de fé, que nos
envolve inteiramente na comunhão íntima com a pessoa viva e concreta de Jesus.
A conversão é o ‘sim’ total de quem entrega a vida a Jesus pela vivência do
Evangelho. “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e
crede no Evangelho” (Mc 1,15).
As penitências não são para fazer mal
Para nos vencermos a nós mesmos, as nossas fraquezas e
paixões desordenadas, a Igreja recomenda, sobretudo na Quaresma, o jejum, a
esmola e a oração como “remédios contra o pecado”, para dominarmos as fraquezas
da carne e nos aproximarmos de Deus. Mas, não se devem fazer penitências
exageradas, uma mortificação que leve a pessoa a ficar doente ou a sentir-se
mal. O jejum exige passar um pouco de fome durante o dia, mas sem causar mal à
pessoa, sem tirar a sua condição de trabalhar, rezar, etc.
Saber calar pode ser uma boa penitência
Há formas boas de mortificação, como cortarmos aquilo que nos
agrada, seja para o corpo ou para o espírito, mas há pessoas que fazem excessos.
prejudicando a saúde. Deus não nos pede o impossível.
Que mortificação eu preciso de fazer? É aquela que abate o
meu pecado. Se eu sou soberbo, então a minha penitência deve ser o exercício de
humildade: vencer todo orgulho, ostentação, vaidade, exibicionismo, desejo de
aparecer, de me impor aos outros e saber calar.
Se o teu pecado é o apego aos bens materiais e ao dinheiro,
então é preciso exercitar muito a boa e farta esmola, o desprendimento do mundo
e das criaturas. Se o meu mal é a luxúria e a impureza, então, vou exercitar a
castidade nos olhos, nos ouvidos, nas leituras, nos pensamentos e actos. Se sou
irado, vou conquistar a mansidão; se sou invejoso, vou buscar a bondade; se sou
preguiçoso, vou trabalhar melhor e mais e ser diligente em servir os outros sem
interesse.
Perdoar pode ser mais importante
São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que a melhor
penitência é aceitar, com resignação, os males que Deus permite que nos
atinjam, porque Ele sabe do que precisamos, e assim os nossos pecados são
vencidos. As penitências que Deus nos manda, são melhores do que as impostas
por nós mesmos.
Então, aceita, especialmente na Quaresma, sem reclamar, sem
culpar ninguém, todos os males, dores, aborrecimentos e injúrias que sofreres,
e oferece tudo a Deus pela tua conversão. Pode ser que dar o perdão a quem te
ofendeu seja mais importante do que ficar 40 dias sem fazer isto ou aquilo. Uma
visita a um doente, a um preso, o consolo de alguém aflito pode ser mais
importante do que uma peregrinação demorada. Tudo é importante, mas é preciso
observar o mais importante para a realidade espiritual.