Congelamento de cadáveres. O que é que a Igreja diz?
O Bispo Dom Estêvão Bettencourt escreveu dois artigos sobre este assunto, publicados na sua revista “Pergunte e Responderemos”: PR n. 411, 1996, pg 372; e PR n. 150,1972, pg 244. Transcrevo a seguir a sua conclusão:
“O avanço da tecnologia surpreende o leitor e sugere-lhe diversas interrogações. Deixando de lado as considerações de ordem médica, estas linhas ficarão no pIano filosófico-teológico.
Tratando-se de crioconservação, duas hipóteses podem ser levantadas: ou os pacientes estão realmente mortos (como supõe a exposição atrás) ou não estão realmente mortos, mas em coma profundo.
No primeiro caso, deve-se levar em conta que a vida humana não resulta apenas de hábeis combinações químicas, pois é vida que transcende a matéria ou é animada por um princípio vital imaterial ou espiritual. Ora nenhum cientista é capaz de produzir um ser espiritual, pois este é incorpóreo, dotado de intelecto e vontade. Somente um acto criador de Deus pode produzir uma alma humana ou pode fazer a alma de um defunto voltar ao seu corpo. Dai a pergunta: O Criador colaboraria com os cientistas, dando alma humana ao corpo hipolítico reconstruído pela ciência ou conservado em azoto? A esta pergunta ninguém pode responder, mas ela parece versar sobre algo de muito pouco provável sob todos os aspectos.
No caso de não estarem realmente mortos os pacientes (o que não se dá na sede de Alcor, onde só se guardam defuntos), pode-se dizer que, se o organismo dos pacientes voltar a ter condições de exercer as suas funções, a alma nele existente voltará a fazer tal organismo funcionar. Não haverá um retorno à vida, mas a passagem da dormência para a actividade. Todavia também esta hipótese parece estar longe do verosímil e provável.
Em suma, o acto de proceder ao congelamento de cadáveres, mediante manipulação requintada, é algo de inédito; parece ser uma operação que estende o raio de acção da medicina, ciência que tenta salvar a vida e combater a morte. Assim considerado, o congelamento pode ser lícito do ponto de vista ético. Todavia pode-se perguntar se, assim procedendo, o homem não está a esquecer os seus limites de criatura e pretendendo assumir utopicamente o lugar de Deus…?”