Curiosidades
Como ser um bom católico – Quando toda a consolação desaparece
- 27-03-2020
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Que maravilha será estares alegre e devoto, quando te assiste
a graça! De todos é almejada esta hora. E mui suave andar, levado pela graça de
Deus. E que maravilha não sentir a carga aquele que é sustentado pelo
Onipotente e acompanhado do guia supremo!
Gostamos de ter qualquer consolação, e é penoso ao homem
despojar-se de si mesmo. O glorioso mártir São Lourenço venceu o mundo em união
com o pai espiritual, porque desprezou todos os atractivos do século e sofreu
com paciência, por amor de Cristo, que o separasse do Supremo Pontífice São
Xisto a quem ele muito amava!
Assim, o amor de Deus, subjugou o amor da criatura, e ao
alívio humano preferiu a aprovação divina. Daí aprende tu a deixar, às vezes,
por amor de Deus, um parente ou amigo querido. Nem te aflijas se te abandonar
algum amigo, sabendo que todos, finalmente, nos havemos de separar uns dos
outros.
Só um intenso e longo combate interior aprende o homem a
dominar-se plenamente e pôr em Deus todo o seu afeto.
Quando o homem confia em si, facilmente desliza nas
consolações humanas. Mas o verdadeiro amigo de Cristo e fervoroso imitador de
suas virtudes não se inclina às consolações nem busca tais doçuras sensíveis;
antes, procura exercícios austeros e sofre por Cristo trabalhos penosos.
Quando, pois, Deus te mandar consolação espiritual, recebe-a
com ações de graças, mas lembra-te sempre que é mercê de Deus, e não
merecimento teu.
Com isto, porém, não te desvaneças, nem te entregues à
excessiva alegria ou à vã presunção; sê antes mais humilde pelo dom recebido,
mais prudente e timorato nas tuas acções, pois passará aquela hora e voltará a
tentação.
Quando te for tirada a consolação, não desesperes logo,
aguarda, pelo contrário, com humildade e paciência, a visita celestial; pois
Deus é bastante poderoso para restituir-te maior graça e consolação. Isto não é
novo nem estranho aos que são experientes nos caminhos de Deus; porque nos
grandes santos e antigos profetas houve muitas vezes esta mudança.
Por isso, um deles, sentindo a presença da graça, exclamava:
Eu disse na minha abundância: não serei abalado jamais (Sl 29,7). Sentindo,
porém, retirar-se a graça, acrescenta: Desviastes de mim, Senhor, o vosso
rosto, e fiquei perturbado (v.8).
Entretanto não desespera, mas com mais instância roga ao
Senhor, e diz: A vós, Senhor, clamarei, e ao meu Deus rogarei (v.9). Alcança,
afinal, o fruto da sua oração, e atesta ter sido atendido, dizendo: Ouviu-me o
Senhor, e compadeceu-se de mim, o Senhor fez-se meu protector (v.11). Mas em
quê? Convertestes, diz ele, o meu pranto em gozo, e me cercaste de alegria
(v.12).
Se isto sucedeu aos grandes santos, não devemos desesperar
nós, fracos e pobres, por nos sentirmos umas vezes com fervor, outras vezes com
frieza porque vai e vem o espírito de Deus, segundo lhe apraz (agrada). Por
isso diz o santo Job: Senhor, visitais o homem na madrugada, e logo o provais
(7,18).
Em que posso, pois, esperar ou em que devo confiar, senão na
grande misericórdia de Deus e na esperança da graça celestial? Porque, ou me
assistem homens justos, irmãos devotos e amigos fiéis, ou livros santos e
formosos tratados, ou cânticos e hinos suaves, tudo isso de pouco me serve e
pouco me agrada, quando estou desamparado da graça e entregue à minha própria
pobreza. Não há então melhor remédio do que Deus.
Nunca encontrei homem tão religioso e devoto, que não
sofresse, às vezes, a subtração da graça e sentisse o desânimo do fervor.
Nenhum santo foi tão altamente arrebatado e esclarecido que,
antes ou depois, não fosse tentado. Porque não é digno da alta contemplação de
Deus quem por Deus não sofreu alguma tribulação.
Costuma vir primeiro a tentação como sinal precursor da
próxima consolação; porque aos provados pela tentação é prometido o celeste
consolo. A quem tiver vencido, diz o Senhor, darei a comer o fruto da árvore da
vida (Apc 2,7).
Dá Deus a consolação, para fortalecer o homem contra as
adversidades. Segue-se então a tentação, para que não se desvaneça a
felicidade.
O demónio não dorme, nem a carne já está morta; por isso, não
cesses nunca de te aparelhar para a batalha, porque à direita e à esquerda
estão os teus inimigos que nunca descansam.