“Não amaldiçoarei
mais o mundo por causa do homem… Dou-vos um sinal da aliança que estabeleci
entre mim e vós e todos os seres vivos... Coloquei o meu arco entre as nuvens;
ele será sinal do compromisso que assumi com o mundo" (Gn 8,9).
O livro do Génesis
faz ver como o Deus amante da vida vence o caos e plasma o cosmo com sua
palavra criadora. Tudo o que fez não podia deixar de ser uma obra-prima, dada a
qualidade do Artista. Já a partir do capítulo 3 e seguintes, porém, o cenário
apresenta-se muito diverso. Transtornado o plano original de Deus, devido ao
pecado que inunda a face da terra pela violência e pela depravação do homem, o
mundo retorna ao caos.
O mal, contudo, com
a sua lógica interna de destruição e de morte, não pode ter a última palavra.
Dessa forma, depois do tsunami do dilúvio, Deus estreita uma aliança com o
homem, empenhando-se a jamais permitir que este mundo criado por ele seja
destruído e se torne um deserto povoado de raiva e desespero. O arco-íris é
sinal desta aliança com a humanidade: logo depois da chuva surge no céu e
parece querer abraçar o firmamento, para recordar à criatura a promessa do Criador.
* O Deus biófilo não
ama simplesmente a vida humana, mas qualquer vida, mesmo a vegetal e animal,
porque toda a criação é obra do seu amor. Com o valor e a dignidade da vida
humana, a Bíblia exprime, da primeira à última página, o cuidado amoroso de
Deus pela natureza, explicitada nas palavras de Gn 1,31: «E Deus viu tudo
quanto tinha feito e achou que era muito bom». Animais, plantas, firmamento,
sol, oceanos... tudo é bom, tudo tem valor por si mesmo, tudo proclama a glória
de Deus, como canta o Salmo 18/19: «Os céus narram a glória de Deus, e o
firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia transmite ao dia a mensagem e a
noite conta a notícia a outra noite». Todas as criaturas, com efeito, são
convidadas a bendizer o Senhor conforme diz o Cântico de Daniel: «Bendizei o
Senhor, obras do Senhor (anjos, céus, águas, sol e lua, estrelas do céu, chuvas
e orvalho, ventos, fogo e calor, frio e calor, orvalho e geada, gelo e frio,
gelos e neves, noites e dias, luz e trevas, raios e nuvens, montes e colinas,
criaturas todas que germinam sobre a terra, fontes, mares e rios, monstros
marinhos e quanto se move nas águas, pássaros, animais selvagens e domésticos,
filhos do homem) (3,57-88)
* Este
reconhecimento, porém, só é real quando e se o homem reconhece, por sua vez, a
dignidade do lugar que habita, e decide respeitar a natureza, acolher as
criaturas e aceitar a riqueza da sua diversidade. Somente a aceitação concreta
de tudo o que existe, mas, sobretudo do ser vivo, leva à afirmação do valor da
criação e dos direitos daquele que foi colocado como guarda e, como
consequência, a superar a exploração e o abuso, a realizar o desenvolvimento
respeitoso do ambiente e tecer uma convivência harmoniosa com os demais seres
vivos.
Hoje, a civilização
industrial favoreceu a produção e o crescimento da riqueza, mas muito
frequentemente exagerou no abuso dos recursos, dando um incentivo à
desumanização do homem que, quase sem perceber, se converteu em mero
produto/consumidor.
A cultura da vida
leva-nos a uma verdadeira atitude ecológica: ao amor para com todos os seres
humanos, mas também para com os animais e as plantas; enfim, ao amor para com
toda a criação; e a defender e promover todos os sinais da vida contra os
mecanismos de destruição e de morte.
Diante das ameaças
de exploração desordenada, de opressão da natureza, de desenvolvimento
insustentável, que estão causando poluição, efeito estufa, desflorestamento,
cimentação, desertificação, empobrecimento dos recursos, fruto da avidez
insaciável e da falta de responsabilidade não só diante da criação que Deus nos
deu como casa para todos, mas também diante das gerações futuras, parece-me
oportuno recordar as palavras do grande chefe índio Seattle: aquilo que fere a
Terra, fere os filhos e as filhas da terra.
Deus assumiu o
compromisso de preservar a natureza, mas não sem nós: fez-nos colaboradores
seus, revestiu-nos de responsabilidade. A operação arco-íris para salvaguarda
da criação é obra de Deus, de todos e de cada um.