Curiosidades
A PROFECIA ESQUECIDA DE RATZINGER SOBRE O FUTURO DA IGREJA
- 11-09-2020
- Visualizações: 90
- Imprimir
- Enviar por email
Encontro nos Jornais este artigo que se refere a um discurso
radiofónico pronunciado pelo Papa Bento XVI no longínquo ano de 1969. Penso que
ilumine o que se vive na Igreja neste período.
Uma Igreja redimensionada, com muito menos seguidores,
obrigada a abandonar parte dos lugares de culto, construídos ao longo dos
séculos. Uma Igreja católica de minoria, pouco influente nas escolhas
políticas, socialmente irrelevante, humilhada e obrigada a “voltar às origens”.
Mas também uma Igreja que, através desta “enorme agitação”, se
reencontrará e renascerá “mais simplificada e mais espiritual”. É a profecia
sobre o futuro do cristianismo pronunciada há mais de 40 anos por um jovem
teólogo da Bavaria, Joseph Ratzinger.
Redescobri-la hoje ajuda a descobrir uma ulterior chave de
leitura para decifrar a renúncia de Bento XVI, porque reconduz o gesto
surpreendente de Ratzinger ao leito da sua leitura da história.
Em cinco discursos radiofónicos pouco conhecidos, o futuro
Papa naquele ano complexo de 1969 traçava a sua visão sobre o futuro do homem e
da Igreja. É sobretudo a última lição, lida no dia de natal aos microfones da
“Hessian Rundfunk”, a assumir um tom de profecia. Ratzinger dizia-se convencido
de que a Igreja estivesse a viver uma época análoga à que se seguiu ao Iluminismo
e à Revolução Francesa. “Estamos num enorme ponto de mudança - explicava - na
evolução do género humano. Um momento a respeito do qual a passagem da Idade Média
aos tempos modernos pareça quase insignificante”. O Professor Ratzinger comparava
a era actual com a do Papa Pio VI, raptado pelas forças da Republica Francesa e
morto na prisão em 1799. A Igreja tinha-se encontrado então diante de uma força
que pretendia extingui-la para sempre, tinha visto os seus bens confiscados e
as ordens religiosas dissolvidas.
Uma condição não muito diferente, poderia esperar a Igreja de
hoje, minada segundo Ratzinger pela tentação de reduzir os padres a
“assistentes sociais” e a própria obra a mera presença política. “Da crise
presente - afirmava - emergirá uma Igreja que terá perdido muito. Tornar-se-á
pequena e deverá repartir mais ou menos dos inícios. Não estará já em condições
de habitar os edifícios que construiu em tempos de prosperidade. Com a
diminuição dos seus fiéis perderá também grande parte dos privilégios sociais”.
Repartirá de pequenos grupos, de movimentos e de uma minoria que voltará a pôr
a fé no centro da experiência. “Será uma Igreja mais espiritual, que não se
arrogará um mandato politico flirtando ora com a Esquerda ora com a Direita.
Será pobre e tornar-se-á a Igreja dos indigentes”.
O que Ratzinger delineava era “um processo longo, mas quando
toda a aflição tiver passado, emergirá um grande poder de uma Igreja mais espiritual
e simplificada”. Neste ponto os homens descobrirão que estão a habitar um mundo
de “indiscritível solidão” e tendo perdido de vista Deus, “perceberão o horror
da sua pobreza”.
Então, e só então, conclui Ratzinger, verão “aquele pequeno
rebanho de crentes como qualquer coisa de totalmente novo: descobri-lo-ão como
uma esperança para si próprios, a resposta que tinham sempre procurado em
segredo.