Curiosidades
A penitência que fez florir o galho seco
- 08-09-2021
- Visualizações: 63
- Imprimir
- Enviar por email
São
Bond foi um rico mercador espanhol que se estabeleceu na cidade francesa de
Sens há bem mais de 13 séculos.
Os espanhóis têm fama de ser muito ciumentos e este o era em excesso.
Não se saberia descrever o sofrimento de sua mulher pelos ciúmes do marido.
Esses foram tais, que acabaram por virar a doença.
O comerciante viajava com muita frequência e deixava a sua casa para fazer os
negócios, os quais, aliás, ele conduzia perfeitamente.
Porém, durante toda a sua ausência, devoram-no a desconfiança e a dúvida.
E quando voltava à casa já chegava com os nervos à flor da pele, prestes a
explodir numa cólera tão violenta quanto injustificada.
A sua infeliz esposa era a que menos justificava esse tratamento.
Ela não recebia ninguém na ausência do marido, nunca saía e vivia sozinha na
companhia de seus filhos e de algumas domésticas.
No fim de uma viagem de mais de uma semana, o mercador voltou a
Sens bem tarde da noite. Abriu então a porta sem fazer barulho e entrou como um
ladrão, não por medo de acordar os seus, mas consumido pelo temor de surpreender
sua mulher numa improvável infidelidade.
Naquela noite, contudo, ele acreditou ter encontrado a prova de suas suspeitas
ao perceber duas sombras dormindo em sua cama.
A cólera o impediu de verificar melhor: puxou a espada e feriu sem piedade duas
vezes.
Agindo assim, num segundo de loucura ele destruiu toda sua vida: acabara de
matar seu pai e sua mãe, a quem em sinal de hospitalidade sua esposa havia
oferecido seu próprio quarto por ser o dormitório mais confortável da casa.
O desespero de Bond foi tão insensato como seu ciúme.
Ele disse adeus a uma esposa que havia tido em conta de tão pouco e saiu para
encontrar o perdão e o esquecimento na pobreza e na poeira das estradas.
Essa via o levou junto com outros peregrinos até Jerusalém.
Mas a ferida do remorso era tão cruel que ele
pegou a estrada de Roma e foi implorar ao Papa a remissão de seus pecados.
Olhando tudo com sabedoria, o Papa por sua vez viu que a hora do perdão ainda
não tinha chegado e encaminhou-o de novo a Sens para falar com seu bispo.
O bispo de Sens recebeu o penitente, entregou-lhe o galho de uma árvore morta e
fez-lhe uma promessa:
“Teu perdão será concedido no dia em que desta madeira morta plantada no monte
Paron nasçam folhas, flores e frutos”.
Bond fez o que o bispo mandou. Durante dias e dias ele ia procurar água no rio
Yonne, no fundo do vale, carregando-a até o topo do monte Paron onde plantara o
galho seco.
Ia e voltava por uma trilha abrupta que ele acabou por criar com os seus
próprios pés.
Regou o galho com a água fresca do rio, mas também com as suas amargas
lágrimas.
Só Deus saberia dizer quantas viagens fez o penitente, e quantas foram as suas
orações.
Numa manhã, porém, um tenro broto verde, apareceu na cortiça enegrecida.
Passaram-se ainda muitas outras madrugadas antes que ele visse o
galho morto transfigurado: folhas imensas proporcionavam uma doce sombra e
suntuosas flores geravam frutos cuja simples vista saciava a alma mais sedenta
de perdão.
Em lembrança deste milagre, a trilha que leva ao monte Paron se chama “A trilha
de São Bond”.
A árvore está sempre lá, sem se incomodar com as estações. Mas só é visível
pelos corações puros.
P. S.: As relíquias de São Bond foram
recuperadas 486 anos após a sua morte por Dom Richier († 1096), Arcebispo de
Sens, e transladadas para igrejas dessa cidade. A capela erigida sobre o túmulo
do santo, por disposição do mesmo Dom Richier, foi confiada à abadia de
Saint-Rémy.