Curiosidades
A importância de se dedicar à vida de oração
- 16-12-2020
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Todos somos chamados por Deus à santidade, mas poucos optam
por este caminho. A grande maioria das pessoas divide-se entre viver no pecado
e viver uma vida mundana. Isto apenas confirma o que o próprio Jesus nos
ensinou: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o
caminho que conduz à perdição e numerosos são os que por aí entram” (Mt 7,13).
E Nosso Senhor conclui com palavras que parecem bastante desanimadoras:
“Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o
encontram” (Mt 7,13). São raros os que encontram o caminho da vida, ainda que
muitos passem anos e anos buscando. Por que é que isto acontece? O que fizeram
de diferente os que encontraram o caminho? Santa Teresa d’Ávila dá a resposta
de maneira muito simples: a porta para entrar no castelo interior é a oração.
Não se trata somente de recitar orações, porque há muitas pessoas que passam
anos e anos a rezar e não crescem no amor a Deus. A oração que nos conduz à
santidade passa por duas direcções apontadas por Santo Agostinho há mais de
1.500 anos: “Deus é sempre o mesmo: que eu me conheça a mim mesmo; que eu Te
conheça”.
A vida de oração dos mundanos e dos que querem ser santos
Se Deus habita no mais íntimo do meu coração, nas moradas
mais secretas da minha alma, a minha oração precisa, portanto, de me conduzir
para o meu interior. Qual a diferença entre a oração de alguém que está
confortável com a tua vida mundana, ainda que não estejas em pecado mortal, e a
oração de alguém que quer ser santo? É só lembrarmos a parábola do fariseu e do
publicano: o fariseu rezava agradecendo a Deus por não ser como os outros
homens, ladrões, injustos e adúlteros. Já o publicano mantinha-se à distância e
nem sequer levantava os olhos, enquanto suplicava que Deus tivesse piedade
dele, por ser pecador. Jesus não disse que o fariseu mentia na sua oração,
então podemos crer que de facto ele não era ladrão, nem injusto, nem adúltero.
Era um perfeito cumpridor de obrigações, tanto que ele completa a sua oração
dizendo que jejuava duas vezes por semana e pagava o dízimo de todos os seus
lucros. Mas, contudo, ele não saiu justificado da presença de Deus, mas sim o
publicano. Qual a diferença entre as duas orações? O próprio Jesus responde: a
humilhação diante do Senhor. O mundano não percebe, mas a sua atitude é sempre
conduzida pela soberba. Ele está satisfeito com o próprio relacionamento com
Deus, com a própria vida porque se julga a si mesmo como alguém bom, justo, que
já está a fazer o suficiente. Ele pensa: “Antes eu traía a minha esposa, mas
agora larguei o pecado e sou um homem de Deus”, ou “Eu andava de bar em bar, e
agora que encontrei Jesus, vou à missa aos domingos, não bebo mais, sou um novo
homem!”
Humildade
Louvado seja Deus por tudo isto, mas ainda não é esta a
vontade de Deus para a nossa vida. Não basta abandonar o pecado, é preciso
amar, e amar muito, mas para amar eu preciso de reconhecer quem eu sou e quem é
Deus na minha vida. É por isso que Santo Agostinho diz que a oração dele é
sempre esta, pedindo que se conheça a si mesmo e conheça a Deus. O primeiro
movimento da nossa oração deve ser sempre guiado pela mais elevada humildade. À
medida que nos aproximamos de Deus com humildade, falando das nossas misérias,
limitações e dores, Ele, na sua misericórdia, vai nos revelando quem somos de
verdade. A verdadeira oração vai invertendo os papéis. O mundano tende a chegar
diante de Deus como aquele fariseu, achando-se cheio de “créditos” por conta
dos preceitos que cumpre. Por conta disso, a sua oração normalmente é cheia de
pedidos, de súplicas de graças, milagres, sinais. O mundano pede muito que Deus
afaste o seu sofrimento, resolva os seus problemas, lhe dê a vitória, honre a
sua fidelidade. Aquele que busca a santidade, contudo, aproxima-se de Deus de
cabeça baixa, humilde, porque à medida que rasga o seu coração diante de Deus,
vai se reconhecendo na sua miséria. Um dos primeiros frutos desta oração é a
consciência dos próprios pecados: “Senhor, eu tento fazer o bem, mas sou
orgulhoso demais! Senhor, como eu sou infiel a ti! Meu Deus, eu sou um teimoso,
um preguiçoso, não consigo controlar os meus impulsos. Misericórdia, Senhor!”
A oração automaticamente passa do “que eu me conheça” para o
“que eu Te conheça, Senhor”, porque a consciência das próprias misérias acende
um enorme holofote diante da pessoa: “Eu não te amo, Senhor, como deveria!” Esta
descoberta é fundamental para quem quer ser santo. Aliás, pode-se até dizer que
é esta descoberta que começa a mover a pessoa em direcção à santidade, porque
ela quebra todas as estruturas que sustentam a vida mundana. Até então, tudo
estava tranquilo, pois parecia ser prova de amor o cumprimento das obrigações.
Mas ao contemplar a obra salvífica de Deus, ao compreender o sacrifício
redentor de Jesus e colocá-lo lado a lado com os meus muitos pecados passados e
presentes, algo se agiganta na minha alma: ao mesmo tempo que louvo a Deus por
perceber isto e me poder consertar, vejo-me arrependido, envergonhado, com o
coração dilacerado por ter ofendido tanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, por ter
feito tão pouco caso da sua Paixão. Santa Teresa d’Ávila explica isto muito
bem: “Não peçais o que não mereceis; nem haveria de nos passar pela cabeça que,
por muito que sirvamos a Ele, poderíamos merecer tanto, ao termos ofendido a
Deus”. Em outro momento de As Moradas do Castelo Interior, ela diz que mesmo
que até o último instante da nossa vida não pecássemos mais, ainda assim
seríamos devedores, por conta da nossa ingratidão passada com o Sangue inocente
de Cristo derramado na Cruz. Quando me dou conta de que com os meus pecados
tornei mais pesada a cruz que Cristo levou ao Calvário, como disse Santo Afonso
de Ligório, vejo que não tenho outra opção: preciso de viver até ao fim da
minha vida esforçando-me para amar mais a Deus, para tentar retribuir, tanto
quanto eu puder, o amor que Cristo demonstrou por mim.
Amar somente a Deus
Ao pedir a Deus “que eu me conheça, que eu Te conheça”, eu me
uno a São João de Ávila, que diz: “Senhor, quando vos vejo na cruz, tudo me
convida a amar: o madeiro, a vossa pessoa, as feridas do vosso corpo e
principalmente o vosso amor.
Tudo me convida a vos amar e a não me esquecer mais de Vós.”
Mas o caminho de santidade não é nada fácil, porque
descobrimos que não conseguimos amar a Deus como Ele merece por conta das
nossas muitas faltas, da maldade e dos muitos apegos que ainda residem no nosso
coração. É necessário, portanto, educar o nosso corpo e a nossa alma para amar
somente a Deus, para ter somente a Ele como tesouro.