A Família
Graus e as espécies da castidade conjugal e a continência
- 04-02-2022
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A castidade tem por finalidade reprimir tudo quanto há de errado nos prazeres sexuais desordenados. Ora, os prazeres sexuais têm por finalidade perpetuar a raça humana, transmitindo a vida pelo uso legítimo do matrimónio. Fora dele, toda luxúria é estritamente proibida.
Foi Nosso Senhor quem deixou isto claro: “Eu, porém, vos
digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou
com ela em seu coração” (Mt 5,28). Neste ensino, Jesus deixa claro que não há
nenhuma atitude sensual que não seja má moralmente, configurando assim, pecado
grave.
À castidade chamamos com razão, a virtude angélica, porque
nos aproxima dos anjos, que são puros por natureza. É uma virtude austera,
porque ninguém chega a praticá-la sem disciplinar, sem domar o próprio corpo e
os sentidos por meio da mortificação. É uma virtude delicada, que as menores
faltas voluntárias a deixam embaçada. Por isso é mesmo difícil, porque não pode
guardá-la senão quem luta, generosa e constantemente, contra as mais tirânicas
das paixões.
Graus da castidade
O primeiro consiste em evitar, com cuidado, o consentimento
de qualquer pensamento, imaginação, sensação ou acção contrária à virtude.
O segundo tende a afastar, imediata e energicamente, qualquer
pensamento, imagem ou impressão que, porventura, pudesse deslustrar o brilho
desta virtude.
O terceiro, que não se adquire geralmente senão após longos
esforços na prática do amor de Deus, consiste em dominar a tal ponto os
sentidos e os pensamentos, que, quando se tem por dever versar questões
relativas à castidade, faz-se isso com tanta serenidade e paz, como se se
tratasse de assunto totalmente diverso.
Há pessoas, enfim, que, por privilégio especial, chegam a não
experimentar movimento nenhum desordenado.
Espécies
Há duas espécies de castidade: a conjugal, que convém às
pessoas legitimamente casadas; e a continência, que é própria daqueles que não
são casados (solteiros e celibatários).
Da castidade conjugal
O matrimónio cristão é o símbolo da união santa entre Cristo
e a sua Igreja. Os esposos devem amar-se, respeitar-se, santificar-se mutuamente.
O primeiro efeito deste amor é a união indissolúvel dos corações, e, por
conseguinte, a fidelidade inviolável dum ao outro.
“Conservai, pois, ó maridos, um terno, constante e cordial
amor para com as vossas mulheres. Se quereis que as vossas mulheres vos sejam
fiéis, ensinai-lhes esta fidelidade pelo vosso exemplo. Vós mulheres, cuja
honra anda inseparavelmente aliada com o pudor e honestidade, conservai,
cuidadosamente, a vossa glória e não permitais sequer a mínima palavra que
embace a vossa candura. Temei todo o tipo de insultos, por pequenos que sejam,
não permitindo nem o mais mínimo galanteio perto de vós. Quem quer que venha a
elogiar a vossa formosura e elegância, deve ser-vos suspeito… e, se ao vosso
louvor alguém se atreve a acrescentar o desprezo do vosso marido, ofende-vos
enormemente, porque é evidente que não só vos quer perder, mas que vos tem já
por meio perdida pois está já feito ao menos meio negócio com ele.” (São
Francisco de Sales)
Nada assegura melhor esta mútua fidelidade que a prática da
verdadeira devoção, em particular, a oração em comum. Os homens devem ser
envoltos na devoção, pois eles, sem devoção, são animais severos, ásperos e
rudes. E as mulheres devem ser igualmente devotas, pois elas, sem a devoção,
são sobremaneira frágeis e sujeitas a cair na perda das virtudes.
Enfim, o apoio mútuo deve ser tão grande, que ambos não se
deverão irritar ao mesmo tempo, para que não haja feridas com as discussões. Se
um estiver encolerizado, fique o outro sereno, para que a paz volte o mais
depressa possível.
Os esposos respeitarão a santidade do leito conjugal pela
pureza de intenção e honestidade das suas relações.
O fim primordial do matrimónio cristão é ter filhos, que
serão educados no temor e no amor de Deus, que se formarão na piedade e vida
cristã, para fazer deles, um dia, cidadãos do céu. O fim secundário é
auxiliar-se mutuamente e suportar os trabalhos da vida e triunfar das paixões,
subordinando o prazer ao dever. O sacramento do matrimónio é o remédio para as
paixões que ferem a castidade.
Cumprir-se-á, pois, fiel e francamente o dever conjugal: a
transmissão da vida. Tudo quanto for contra a transmissão da vida será tido por
falta grave, salvo casos especiais e acompanhados eclesiasticamente.
A moderação impõe-se no cumprimento deste dever como no uso
do alimento. Na Temperança, no que se refere à gula, não ter a continência no
comer, o uso deste prazer pode-nos conduzir à intemperança na sexualidade. Há
casos em que se torna necessária a continência. O que não será possível se o
prazer não estiver subordinado ao dever.
Da continência ou do celibato
A continência absoluta é um dever para todas as pessoas que
não estão casadas e para aquelas que estão no estado da santa viuvez. Tanto
quanto para aqueles que são chamados ao celibato pelo Reino de Deus.
A castidade é uma virtude frágil e delicada, que não se pode
conservar se não é protegida por outras virtudes: a humildade, que produz a
desconfiança de si mesmo e a fuga das ocasiões perigosas; a mortificação que,
combatendo o amor do prazer, atinge o mal na sua raiz; a aplicação dos deveres
de estado, que previne os perigos da ociosidade; o amor de Deus, que, enchendo
o coração, o impede de se entregar às afeições perigosas. Com isto, a alma pode
não somente repelir os ataques do inimigo, mas até aperfeiçoar-se na pureza.
Há dois modos de se adquirir a castidade: um que se faz pelo
treino, cuidando de cada pensamento, de cada olhar e conteúdo do que se
assiste, do modo com que se veste e se relaciona. E também, como já dissemos
acima, por meio dos sacramentos.
Quando nos confessamos, com o sincero propósito de nunca mais
cometer nenhum pecado grave, já saímos da confissão vigiando por sobre o nosso
proceder. Caso se tenha cometido novo pecado, apresse-se a confessar-se
novamente com as mesmas santas disposições. Com o tempo e a infusão da graça
que se faz por meio de uma confissão bem feita, vamo-nos tornando mais fortes
contra aqueles pecados confessados. É preciso, no entanto, o firme propósito de
não mais cometer o pecado grave. Isto é o mais importante!
Entramos assim no que se chama Estado de Graça. Neste estado,
podemo-nos aproximar da Eucaristia. E é nela que está boa parte deste segredo.
Ela infunde em nós uma castidade infusa, de modo que, em tempo recorde,
perdemos todo o impulso e contaminação que nos conduz ao pecado contra a
castidade. É realmente incrível!
Convido-te a fazer a experiência de te confessares com o
firme propósito de não mais cometer o pecado grave. Se caíres, volta a confessar-te
logo que possas. Ao te aproximares da Eucaristia, adora o Senhor de todo o
coração. E vais constatar, na tua vida, que, em pouquíssimo tempo, estarás
longe dos pecados que ofendem a nossa castidade.