Como o casal deve lidar com a frustração de
não ter filhos
Como lidar com o
sentimento de frustração e pressão diante da possibilidade de não ter filhos
Vivemos numa
constante pressão! Quando se é solteiro, a pressão é: “Quando te casas?” Quando
se é casado, a pressão é: “Quando tens um filho?” Quando se tem um filho, a
pressão é: “Quando terás outro?” Diante de tanta pressão, podemo-nos perder na
indiferença do que, de facto, o outro está a viver. Talvez, o solteiro viva o sofrimento
de não ter encontrado alguém para se casar; o casado, o sofrimento por não ter
um filho; o pai, o sofrimento por se sentir incapaz de dar ao filho o que este
deseja.
Falemos sobre a
pressão que um casal vive para ter um filho, mas, por inúmeras razões
(infertilidade orgânica, transitória e até mesmo esterilidade), não conseguem,
gerando assim uma situação de possível e grande sofrimento. A pressão da
família e da sociedade para que o casal tenha filhos, muitas vezes, é enorme; e
o facto de não conseguir engravidar pode fazer a pessoa sentir-se fracassada.
Como administrar tal
sofrimento perante a própria vida e diante da conjugalidade assumida?
1º) Não negues os teus
sentimentos
A primeira coisa a
viver, diante do sofrimento em não conseguir engravidar, é assumir os
sentimentos, o desejo frustrado, o sonho que não se realiza. Quanto mais o
casal nega estes sentimentos, mais estes ganham forças destrutivas. É preciso
reconhecer a fundo o desejo que ambos (homem e mulher) trazem referente à
concepção dos filhos. A aceitação e o enfrentamento do que você sente ajuda a
suportar as emoções e pressões (internas e externas) com mais serenidade.
2º) Não te destruas
pela culpa
Diante da dor em não
conseguir ter filhos, não te autodestruas procurando os culpados: “Ah, se eu
tivesse engravidado antes!”, “Ah, se eu não tivesse esperando terminar o
pós-doutorado para engravidar!”, “Ah, eu poderia ter me cuidado mais” etc.
Estas são vozes que tentam tirar-te a esperança e levar-te à completa
aniquilação de ti mesmo e do teu cônjuge.
A culpa pode até
impedir-te que tenhas uma centralidade, para, de facto, encarares o problema,
impossibilitando-te de buscares ajuda médica, psicológica e, quem sabe, até
espiritual. Nada de se culpar!
3º) Vive a
harmoniosa e fecunda vida de casados!
Quando a gravidez
não surge, muitos casais começam a “esfriar” a relação, é como que se a
impossibilidade em ter filhos tirasse deles a vitalidade do relacionamento.
Nessa hora, não só a parentalidade está em cheque, mas também a própria
conjugalidade. Tentem encontrar, juntos, maneiras realistas de dividir o
estresse e a frustração em não poder/conseguir ter filhos. Muitos casais pensam
que a fecundidade do relacionamento está apenas na questão de gerar filhos, mas
não está somente nisso! O Papa Francisco, na Exortação Amoris Laetitia, afirma:
“Àqueles que não podem ter filhos, lembramos que «o matrimónio não foi
instituído só em ordem à procriação (…). Por isso, mesmo que faltem os filhos,
tantas vezes ardentemente desejados, o matrimónio conserva o seu valor e
indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida».
4º) Procura toda a ajuda
necessária
É importante que,
dentro da moral católica, busqueis toda a ajuda necessária. Vai a médicos
especializados, talvez a infertilidade seja de fundo psicológico. Recorre à
espiritualidade, à oração! Faz a tua parte sem te perderes numa vida obsessiva
para engravidar. Mas, com calma e esperança, dá os passos que deves dar, tu e o
teu cônjuge!
5º) Relaxa, tu não és
amaldiçoado
Sim, os filhos são
bênçãos de Deus! Então, se não os tenho, não sou abençoado por Ele? Calma, não
é esta a lógica. De facto, é Deus quem dá o dom dos filhos, mas não quer dizer
que, se não os tens, sejas pelo facto de que Deus não os quer dar a ti! Nesta
hora, a fé é acreditar que, no mistério do sofrimento, Deus também sofre
contigo. Não permitas ser invadido por pensamentos de que Deus não te ama, que és
amaldiçoado.
6º) Estabelece um
limite. Até onde tentar?
Há casais que
decidem, desde o começo, por viver, de facto, o que a Igreja ensina sobre a reprodução
humana; por isso, esgotadas todas as possibilidades morais, é hora de escolher
o que fazer. Ficar anos a tentar sem que se tenha um parecer médico favorável
pode ser grande sofrimento para o casal. Lembra-te: desistir dos meios humanos
não quer dizer perder a fé que Deus pode realizar o impossível!
7º) Abre-te à
fecundidade alargada
O Papa Francisco, na
Amoris Laetitia, afirma: “A adopção é um caminho para realizar a maternidade e
a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar aqueles que não
podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está
privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos.
Adoptar é o acto de amor que oferece uma família a quem não a tem.”
Quantos casais que
se abrem à adopção como uma forma de viver a paternidade e maternidade, e, com
isso, tornam-se, de facto, realizados? O amor abre sempre possibilidades!
Ao falar em cada um
destes pontos, não pretendo diminuir ou tirar o teu sofrimento em não conseguires
ter filhos, mas a tentativa é de fazer com que os sentimentos possam ser
administrados de uma forma mais integrada e humanizada possível.
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